Godzilla

Godzilla

por Felipe Demartini

Ainda não foi dessa vez, Rei dos Monstros

Monstros gigantes estão atacando a cidade. Eles derrubam prédios como se eles fossem feitos de papelão e isopor – e nesse caso, são mesmo. Enquanto a população foge desesperada para salvar suas próprias vidas, vislumbram a salvação logo adiante: um segundo monstro, tão grande quanto o primeiro, e com potencial igualmente destrutivo.

Essa é a premissa básica de boa parte dos filmes clássicos do Godzilla, o Rei dos Monstros e um dos personagens mais consagrados do Japão. Ao contrátio dos dois péssimos remakes americanos, temos uma trama que serve apenas como premissa básica para que duas criaturas gigantescas caiam na porrada e destruam uma cidade inteira no processo.

Essa, também, é a premissa básica do mais recente game do personagem. O título dispensa qualquer tipo de enredo para focar apenas na ação, trazendo um visual bastante semelhante aos filmes clássicos do monstrengo. O problema, aqui, é que ao deixar uma história de lado, a Bandai Namco também fez o mesmo com boa parte das características que transformariam esse em um jogo digno da grandiosidade de Godzilla.

Como visto na TV

Não precisa ser fã nem ter assistido a qualquer um dos filmes do lagarto gigante para perceber que o jogo traz exatamente aquilo que tornou os longas antigos tão cultuados. Prédios caem como se fossem monolitos, levantando poeira e faiscas no processo, enquanto o monstro passa por cima de tudo como se nada em sua frente oferecesse qualquer resistência.

A melhor palavra para definir Godzilla é “chato”. Do começo ao fim, passando por todos os modos e opções, a experiência é extremamente repetitiva e vagarosa.

Os próprios movimentos de Godzilla e seus oponentes também lembram os vistos no cinema, com toda a leveza característica de um ator pouco treinado utilizando uma roupa de borracha bastante desconfortável. O monstro é enorme, e acima de tudo, resistente, incapaz de sentir os tiros dos oponentes humanos, que usam futilmente armas “leves” como tanques de guerra e lançadores de foguete.

Jogo do Godzilla chega em 18 de dezembro

A cara de que estamos efetivamente controlando um dos clássicos do Rei dos Monstros é apenas acentuada quando aplicamos filtros antigos, que aparecem como os primeiros DLCs gratuitos para o game. Com eles, é possível dar ao game uma aparência de película antiga ou assistir a toda a ação em preto e branco, o que torna os efeitos visuais do século passado ainda mais autênticos.

Godzilla se aproxima muito do título que todo fã do Rei dos Monstros sempre sonhou. O que deu errado, então? Todo o restante.

No rol de personagens, praticamente todo mundo. Desde aparições mais clássicas do Godzilla até a mais recente, do filme americano, além de inimigos como Mecha Godzilla, Mothra e Ghidorah. Todos controláveis e com seus próprios conjuntos de movimentos, personalizados de acordo com ações no próprio título, que permitem uma melhor preparação para os combates.

O conteúdo é o clássico, e vem em doses cavalares, com um modo campanha com diferentes caminhos a seguir e desafio crescente. Dá para colocar os monstros para brigarem entre si sem objetivos além disso, criar dioramas que a gente gostaria que fossem reais, enfrentar criaturas controladas por outros jogadores (apenas online, infelizmente) ou batalhar contra hordas infindáveis em busca da maior pontuação.

Godzilla

Levando tudo isso em conta, Godzilla se aproxima muito do título que todo fã do Rei dos Monstros sempre sonhou, e que até mesmo o Angry Video Game Nerd passou toda a infância pedindo. O que deu errado, então? Todo o restante.

Tosqueira “desnecessaura”

A escolha de apostar em um visual propositadamente tosco é um dos acertos do jogo, mas ao mesmo tempo, representa um de seus equívocos. Afinal, ao transformar o título em uma ode ao passado, a Bandai Namco também decidiu utilizar gráficos que seriam dignos de um jogo lançado há mais de uma década, no auge no PlayStation 2. Seria bonito lá atrás, mas aqui, só parece bizarro.

Não é como se o novo game do Godzilla não divertisse – ele até faz isso, mas apenas nos primeiros 20 minutos.

Mesmo sendo um título cross-gen, Godzilla não chega nem mesmo a se aproximar do auge da geração passada. Tudo é muito pouco detalhado – mesmo os monstros, que deveriam ser o principal ponto de atenção – e apesar da grande quantidade de partículas, são poucos os elementos visuais que realmente saltam aos olhos.

Travado como um lagarto de borracha

A melhor palavra para definir Godzilla é “chato”. Do começo ao fim, passando por todos os modos e opções, a experiência é extremamente repetitiva e vagarosa, com visuais que trazem poucos elementos interessantes, trilha sonora esquecível e desafios que não envolvem qualquer tipo de estratégia ou aprendizado.

Godzilla

No Destruction Mode, que serve como a campanha principal do título, temos um único objetivo em todas as fases – destruir geradores de energia. Em alguns momentos temos um limite de tempo, e dependendo de nossas ações, um monstro pode chegar para tornar as coisas mais violentas. Mas nada disso exerce mudanças – durante todo o tempo, o jogador estará apenas andando em direção ao objetivo ou inimigo, e ao chegar até ele, apertando os botões sem parar até que a batalha chegue ao fim.

O método de ação não muda de acordo com o inimigo, nem é diferente quando se ataca estruturas ou monstros adversários. Tudo se resume a um button mashing quase sem sentido, na esperança de que seu ataque atinja o oponente antes que o dele acerte seu personagem. Apesar da variedade de ataques, de acordo com as características de cada Kaiju, o resultado final é quase sempre o mesmo.

Alguns segredos estão presentes nas fases, mas eles também fazem pouco para tornar tudo mais variado. Ao destruir os cenários, Godzilla aumenta em tamanho e pode chegar até mesmo ao ponto de fusão nuclear. Devastar completamente as cidades ou permanecer por um determinado tempo em pontos de análise de dados habilitam fases especiais, que não trazem nada mais do que mais geradores para destruir, prédios para destruir e inimigos para serem enfrentados da maneira monótona de sempre.

Os controles acompanham esse marasmo e não contribuem em nada para tornar a jogabilidade mais agradável. Em uma de suas escolhas mais equivocadas, a Bandai Namco decidiu utilizar os botões L1 e R1 para virar o monstro, enquanto apontar a alavanca analógica para o lado faz com que Godzilla dê um passo lateral – inútil, levando em conta o fato de que ele não tem agilidade alguma. O conjunto contribuiu para que o lagartão se comporte como um tanque de guerra, só que de um jeito nada legal.

Godzilla

Vale citar ainda a ausência de um modo multiplayer local. O título permite que até quatro pessoas joguem juntas, mas apenas pela internet. Caso você encontre o humor para rir de toda a tosqueira, não poderá compartilhar disso com um companheiro sentado ao seu lado no sofá. A volta ao passado que permeia todo o conjunto de Godzilla, infelizmente, deixa a desejar também aqui, um dos únicos pontos em que está ausente.

Fique com os filmes (japoneses)

Não é como se o novo game do Godzilla não divertisse – ele até faz isso, mas apenas nos primeiros 20 minutos. Na primeira metade deles, se você for fã dos clássicos, ficará impressionado com a quantidade de opções e a cara de velharia do jogo. Na segunda, se divertirá com a tosquice e dará risada de si mesmo por estar diante de tudo aquilo.

O problema é que, aqui, nem mesmo temos um daqueles títulos que são tão ruins a ponto de darem a volta e ficarem bons. Sem falhas gritantes, mas ao mesmo tempo, também sem qualidades que motivem o jogador a continuar segurando o controle, Godzilla deixa a desejar em quase todos os seus aspectos. Os fãs continuam esperando um game digno do Rei dos Monstros. Quem sabe na próxima.

O game foi analisado no PlayStation 4, em cópia cedida pela Bandai Namco.