Antes de gastarmos horas a fio nos RPGs dos consoles, bem antes disso, Gary Gygax e Dave Arneson, que Deus os tenha, nos presentearam com sua inestimável criação, tendo como base os WarGames (jogo de batalha entre miniaturas) que jogavam lá por meados dos anos 70, chamada Dungeons and Dragons, ou apenas D&D.

O Role-playing game (jogo de interpretações de personagens) e seus dados multi facetados como conhecemos completam, em 2014, 40 anos de existência. E mesmo com uma fama ingrata de jogo do Belzebu, graças às matérias televisivas repulsivas, contam com fãs apaixonados pelo mundo inteiro que sempre guardam religiosamente um dia na semana para desbravar masmorras e chutar dragões aonde mais dói.

Toda premissa e sucesso do jogo e seus heróis, com magos épicos conjurando gelo e fogo, guerreiros de espada e escudo enfrentando hordas de orcs, ladrões aliviando o peso do ouro de seus antigos donos e clérigos devotados à suas divindades em troca de milagres a serem invocados no campo de batalha, e o advento dos videogames, o caminho a seguir era um só. As telas.

Assim, a TSR, Tactical Studies Rules, mais tarde comprada pela Wizards of the Coast, lançou uma cacetada de jogos licenciados e baseados em seus cenários de campanha, como Forgotten Realms, Greyhawk e Dragonlance, saindo jogo desde o MS-DOS até os consoles atuais. Isso dá uma proporção de muita coisa boa e de jogos tão ruins que a menção deles dá vontade de chorar.

Seria impossível falar de todos aqui. Porém, seguem os que consegui por as mãos e que conseguiram transportar um pouco do clima e da sensação do rolar dos dados.

Baldur’s Gate

Da Mesa para a Tela: Os RPGs de mesa que viraram bons jogos

O trocadilho de que ele foi o portão de entrada para os jogos eletrônicos baseados nos RPGs não é em vão. Baldur’s Gate, suas seqüências e inúmeras expansões, foram responsáveis pela abertura do mundo de Forgotten Realms para muita gente que só passou a jogar com papel e lápis após conhecer as altas tretas com os filhos de Bhaal, o Deus do assassinato.

Os gráficos e sua visão isométrica eram bacanas para a época, lembrando que o primeiro jogo é de 1998. Teve boas críticas, recebendo boas notas no Gamespot e IGN, e ainda hoje é divertido de se jogar, mesmo sendo um tanto datado. Por isso, em 2012, foi lançada uma versão melhorada, chamada de Baldur’s Gate: Enhanced Edition para Windows, Mac e iPad.

Baldur’s Gate ainda teve dois jogos que fugiram um pouco do estilo dos primeiros, chamado Baldur’s Gate: Dark Alliance. O primeiro sendo apenas razoável, com a jogabilidade um pouco travada mas que ainda era bacaninha e serviu como tubo de ensaio, com a sua engine, para criar Dark Alliance 2, um dos mais divertidos jogos em que meu antigo PS2 rodou. E ainda tinha a opção de jogarmos com Drizzt Do’Urden, o drow apelão e gente fina de Icewind Dale.

Neverwinter Nights

Da Mesa para a Tela: Os RPGs de mesa que viraram bons jogos

Se no meu antigo monitor de tubão ficassem impressas as imagens que com mais freqüência apareciam, como numa TV de Plasma da primeira geração que a turma com grana comprava pelo preço de um carro popular, certamente seria a tela de abertura desse jogo fantástico.

Neverwinter Nights era o que mais se aproximava de uma partida real de RPG. Nele, você escolhia a Raça, Classe, Habilidades, Talentos, aparência, nome. TUDO. E embarcava numa boa história envolvendo a Morte Uivante, uma doença que se alastrou pela cidade na qual a Paladina de Tyr, Lady Aribeth de Tylmarande reside e busca heróis para ajudá-la a resolver o problemão. Altamente recomendado para quem está começando a mestrar RPG e procura uma fonte de aventuras para usar em sua campanha.

Diferente de Baldur’s Gate, que usava o sistema de regras da segunda edição de Dungeons and Dragons, Neverwinter Nights já usava o recém lançado D20 System, criado para a terceira edição do RPG da Wizards of the Coast. Tanto o jogo quanto aos novos livros básicos de D&D foram lançados no Brasil com datas próximas o que ajudou pra quem queria sair do computador para a mesa e vice-versa.

A seqüência, Neverwinter Nights 2, lançada em 2006, conseguiu melhorar tudo que o primeiro jogo tinha, de gráficos a história. Definitivamente, a série é uma excelente pedida para quem curte RPGs eletrônicos. E obrigatória para quem gosta de rolar dados.

Dungeons and Dragons: Chronicles of Mystara

Da Mesa para a Tela: Os RPGs de papel e lápis que viraram bons jogos

Deixando os RPGs de lado, adentrando no beat’em ups e assumindo aqui o meu primeiro amor pela Capcom. No longínquo ano de 1993, num ambiente cercado por fliperamas simples com seus Mortal Kombat e Street Fighter que viviam cercados pelos jogadores, havia um Arcade que mesmo desligado dava vontade de jogar.

O primeiro fliperama customizado com os desenhos do jogo a ele atribuídos era Dungeons and Dragons: Tower of Doom. Com a exata imagem acima, esse jogo, bem antes de sequer imaginar o que era RPG, me conquistou e foi o responsável por consumir todo o meu rico dinheirinho. Tower of Doom e Shadow Over Mystara foram os jogos da Capcom que não tinham apenas um rostinho bonito. Quem era familiarizado com o RPG de mesa, via ali todos os detalhes de D&D que só mais tarde fui perceber, como as passagens secretas e como acessá-las, os itens mágicos para serem usados num momento crucial, entre outros.

Não foi a toa que em Junho de 2013 foi lançada na PSN, LIVE, eShop e no Steam, o Dungeons and Dragons: Chronicles of Mystara, reunindo ambos os jogos, e trazendo toda nostalgia da época dos Arcades.

Forgotten Realms: Demon Stone

Da Mesa para a Tela: Os RPGs de papel e lápis que viraram bons jogos

Este jogo.

Sempre que possível, eu tento acompanhar algum lançamento de jogos baseados em cenários de RPGs e em algumas vezes acabo me decepcionando com o resultado. Forgotten Realms: Demon Stone passou batido no radar. Minha surpresa quando vi a capa do jogo numa banquinha não foi das maiores. “Nhé, beleza. Vou comprar pra ver qual é.” Que sorte ter visto ele naquele dia.

Coloquei no PS2 num final de semana qualquer e só saiu quando subiram os créditos. Nele jogamos com três personagens distintos, um guerreiro, uma ladina e um mago, podendo alterar os personagens no meio do jogo da maneira como achar melhor.

E a história, escrita pelo próprio R.A. Salvatori, maior autor de romances do cenário, envolvendo vários personagens característicos do cenário de Toril, mundo de Forgotten Realms, como, o arroz de festa da galera, Drizzit Do’Urden e o supremo mago Khelben Blackstaff, dublado por ninguém nada menos que Patrick Stewart.

Falando nisso, um dos vilões do jogo também é dublado por outro astro, que infelizmente já nos deixou, Michael Clarke Duncan e sua voz de trovão. Não foi surpresa que Demon Stone angariou prêmios da British Academy of Film and Television Arts com seu áudio espetacular.

Sendo assim, sempre que lembro de um bom jogo de vídeogames baseados nos RPGs de Mesa, Forgotten Realms: Demon Stone vem em primeiro lugar se o assunto for alguma recomendação. Se ainda possui seu PS2, Xbox, ou o próprio PC, compre e jogue. Não se arrependerá.

E você? Joga RPG com seus dados estranhos? Conhece algum outro jogo memorável desse tipo que poucas vezes viu ser mencionado? Conte pra gente!

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