Dead Cells

Dead Cells

por Ulisses Lopes da Silva

O zumbi guerreiro ataca infinitamente

O tão esperado Roguevania que chamou a atenção no BIG Festival e deixou todos embasbacados com tamanha beleza e violência finalmente está disponível, para trazer muita alegria e desespero em um jogo que não tem dó de ninguém. Dead Cells junta o melhor dos Metroidvanias com o pior de Dark Souls em um ambiente 2D pixelado, com uma ambientação fantástica, ação na medida certa e um desafio constante e repetitivo, no melhor sentido da palavra.

No título, você controla um guerreiro incomum – uma gosma verde rola dos esgotos, assume um cadáver caído na prisão e começa à controlá-lo com maestria. Esse protagonista sem nome ou apresentação se torna o personagem principal dessa aventura, sem saber de nada mas com a intenção de sair dali o mais rápido possível.

Isso não será tão fácil assim, visto que você se encontra numa fortaleza cheia de zumbis, arqueiros, escorpiões, guerreiros amaldiçoados e vermes, do bem e do mal. Claro que ele receberá ajuda de humanos e seres exóticos, mas, na luta, está sozinho.

A primeira coisa que o jogador precisa saber é que Dead Cells não tem continue, checkpoint ou qualquer outra coisa que soe como tal. Morreu? Terá que recomeçar do início, com outra gosma rolando em um cadáver, com tudo recomeçando de novo.

Este jogo pune os erros gravemente e eles podem vir tanto de imprudência, imperícia e negligência quanto da ambição e da vaidade, fatores que somam muito ao game, que já tem uma história baseada nesses fatores inerentes ao ser humano. Com um enredo que se desenrola de acordo com a exploração nos cenários, tomar as decisões certas e ter dinheiro para consertar as erradas é uma das chaves para a vitória.

Curva fechada de aprendizado

Dead Cells foi projetado para o aperfeiçoamento do jogador a cada partida, que nunca é igual à anterior. Você vai se ver viciado e jogando por horas.

Como dito antes, Dead Cells é muito difícil, mas dá para suavizar. Tudo depende da abordagem do jogador com as ferramentas disponíveis e, mais ainda, da percepção de funcionamento dos adversários, cenário e equilíbrio nas melhorias de armas.

Claro que o jogo começa com inimigos que têm pouca energia, que não causam danos quando tocados, como nos jogos de antigamente, permitindo que o usuário se acostume facilmente aos padrões de ataque.

Como o título não facilita, de início, você começa com uma espada enferrujada e um escudo de madeira que não absorve completamente os danos, a menos que você tenha ousadia para dominar o aparamento dos ataques. Caso não tenha, há ainda um arco simples pra atacar de longe.

Para não falar que o jogo é cruel, você poderá acumular os itens desbloqueados para facilitar seus reinícios e não precisar ficar perdendo tanto tempo nas fases iniciais. Porém, algo que não pode ser deixado pra trás são os pergaminhos de melhora de atributos como brutalidade, tática e sobrevivência.

O personagem, assim como as armas e ferramentas, pode evoluir de acordo com o estilo de jogo que desejar, ganhando características bem divertidas e inusitados que ajudarão no progresso de uma forma criativa e inteligente. Já imaginou um personagem que dá um pisão no chão e solta óleo? Se estiver com uma bomba de fogo, o estrago será magnífico!

Resumindo, o objetivo do jogador é acumular pergaminhos, dinheiro e armas fortes para criar a melhor estratégia com os atributos que escolher e fechar o jogo sem perder uma vida, direto e de uma vez. Parece repetitivo, mas de uma forma totalmente positiva, visto que todas as fases mudam de uma jogada para outra e os itens aparecem de forma aleatória no cenário. Sim, cada revisita às fases será uma experiência diferente e gratificante, ou não.

Speedrun de nascença

A princípio, pode parecer um jogo curto, visto que o desafio é escapar de uma fortaleza-prisão com apenas três chefes a se derrotar e nem 10 fases interligadas. Mas, como o jogo foi projetado para o aperfeiçoamento do jogador a cada partida, que nunca é igual à anterior, você vai se ver viciado e jogando por horas, tentando fazer uma nova rota da melhor forma possível. Com as habilidades que desbloqueou, percebe que está se divertindo enquanto morre várias vezes, o que em outros jogos seria um fator desestimulante, em Dead Cells é parte da diversão.

Esse perfil é por um motivo especial. Dead Cells foi concebido para se jogar em speedrun. Percebeu o contador de tempo no canto direito da tela? Ele pausa em salas onde a jogatina não está valendo e existe até um modo especial para comparar o tempo de uma fase com outra e se você passou mais rápido ou mais lento em relação às jogatinas anteriores.

Os gráficos são de primeira linha: a iluminação, os detalhes em cada cenário, os fundos e os recursos visuais criam aquela ambientação grotesca-fantástica.

Sim, como se já não bastasse, além de difícil, você terá que ser rápido em matar toda a horda de inimigos que vier e até os chefes, mesmo com essa barra de vida gigantesca. Por sorte, isso não é obrigatório e você pode levar o tempo que precisar e coletar todo o material necessário para, pelo menos, terminar o jogo.

O speedrun é recomendado após já ter terminado e desbloqueado as melhores armas para ficar no mesmo nível que os chefes e adversários de elite, que são um pesadelo no meio das fases, mas, pelo menos, deixam ótimas recompensas.

Deleite para os olhos e ouvidos

A primeira coisa que impressiona quem vê o jogo rodando são as cores, enquanto a trilha sonora e efeitos sonoros dão um toque a mais na violência visceral de Dead Cells. Seja em joias espatifando de uma pedra ou do corpo do inimigo, seja o pisão no solo ou a explosão gelada, a soma das animações com os efeitos visuais e sonoros deixa a ação mais gratificante a cada vez que se joga. Você fica feliz em ter criado aquele impacto sonoro com uma mescla de armas e magias nos pobres e desgraçados inimigos que só estavam no turno deles, fazendo seu trabalho de impedir que prisioneiros e monstros saíssem da prisão.

Os gráficos são de primeira linha: a iluminação, os detalhes em cada cenário, os fundos e os recursos visuais para dar aquela ambientação grotesca-fantástica de terror, mesmo em ambientes a luz do sol, tornam a experiência de jogar Dead Cells muito rica. Também na hora dos combates com explosões, gelo, trovão, óleo (?), lesmas do inferno (??) e muito sangue espirrando no chão e paredes; tudo é muito divertido de se ver.

É impressionante a criação de um gerador randômico de cenários tão rico e perfeito, onde mesmo com alguns caminhos sem saída, descobre-se que talvez tenha uma parede pra quebrar, um vão para rolar ou apenas para te fazer perder tempo. Em um jogo em que morrer é voltar tudo do começo outra vez, um beco sem saída é mais seguro do que enfrentar hordas de inimigos sem boas armas, o ponto chave da vitória.

O game foi testado no PC, em cópia cedida pela Motion Twin.