Antes de você sequer ler o meu texto e vir me crucificar porque se sentiu incomodado por qualquer motivo que seja, tente pensar nas palavras descritas abaixo como uma reflexão em sua mais pura e simples forma. Por que, obviamente, este é um texto opinativo, e você tem todo o direito de discordar de mim, e eu não posso (e não devo) calar ninguém, ou tirar o direito de expressão de alguém, mas convenhamos… Uma pseudo-competição pela última palavra dita é tão sem sentido quanto o que anda acontecendo na E3 nesses últimos anos.

A Eletronic Entertainment Expo teve início lá em 1995 e, desde então, já passou por pelo menos três reestruturações em seu modus operandi – o que é compreensível na visão de mercado, para se adequar com às necessidades impostas. E de uns tempos para cá, se tornou comum assistir às conferências das principais empresas que formam o line-up da exposição pela internet, por meio de streamings. Isto acabou se tornando, para aqueles que não trabalham na área dos video games ou que não possuem estrutura financeira para viajar até o evento, uma das, ou talvez, a principal atração.

As três empresas consideradas como os carros-chefes do mercado de videogames na última década são Sony, Microsoft e Nintendo, certo? Talvez você discorde, mas elas são as veteranas, as sobreviventes, e as mais importantes, em diversos ângulos da composição toda. Dado isto, todo ano há aquela briguinha boba entre os fãs e consumidores de quem “ganhou a E3” com a melhor apresentação. Só que o buraco é bem mais embaixo, vai muito além disso na verdade.

Estas empresas e tantas outras (publishers, desenvolvedores, estúdios, dentre outros) estão indo lá para apresentar seus novos produtos, softwares, tecnologias, jogos (em desenvolvimento ou não), melhorias, etc., para o mercado e seus devidos investidores (o que enquadra o varejo), além de auxiliar a imprensa a testar o que eles levam à feira para que estes façam, de uma forma ou de outra, um burburinho, ou um jabá se preferir. De qualquer maneira, todo esse processo acaba influenciando o consumidor final, e por tabela, o fã.

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Mas… Talvez a briga pelo título de “venci a E3” tenha chegado longe demais…? O que me parece é que, a cada ano, as empresas tentam se superar mais e mais, em prol de ganhar o julgamento, o título de “melhor conferência do ano”. Pergunto-me se é realmente preciso tanto esforço para impressionar os investidores – o que deveria ser o objetivo principal. Além do mais, a adoração impensável (e às vezes insuportável) do público quando um trailer em CG de um remake é mostrado ou um anúncio de Kickstarter é feito, me parece cada ano mais levado a sério, cada ano mais barulhento, como se fosse uma competição acirrada por um prêmio que sequer existe.

Todo e qualquer anúncio feito sobre uma versão melhorada de um console parece ser automaticamente esquecido e perde seu valor em meio a uma orquestra e à exibição de uma aguardada continuação – que, muitas vezes, sequer recebe data de lançamento. Cada vez menos essas conferências fazem algum sentido, em especial quando não há uma conscientização do público geral a respeito de seu propósito.

Diabos, esses “shows” em que eles transformam as conferências são para quem, afinal? Para a pessoa que está em casa, para o investidor que vai injetar capital no projeto ou para a imprensa que está lá? Lembrando que algumas apresentações ainda permitem entrada do público, mesmo que seja um número mais limitado de lugares. E tudo acaba, no fim das contas, caindo na mão do consumidor final, de qualquer forma. É ele quem decide comprar o produto ou não, certo?

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Pensando nisso, vale mesmo ensurdecer os vizinhos e os amigos (ou a internet com Caps Lock, por assim dizer), quando aquele vídeo incrível de demonstração passa no telão, com gráficos exorbitantes e promessas impossíveis, para no fim, nem ser tudo isso que foi mostrado?

E, ei! Não é como se estivéssemos proibidos a partir de agora de falar “empresa x fez a melhor apresentação”, claro que não. Você pode e deve se expressar, mas os fatores que fizeram você ter essa visão de “melhor” podem não bater com os meus, e isso não quer dizer que uma pessoa está certa e a outra errada. Eu já usei esse termo “empresa y ganhou a E3”, e aposto que você também, e o seu amigo, e o seu colega jornalista, e o seu amigo da escola, e todo mundo mais. Não é também como se eu estivesse querendo pagar penitência ou algo assim.

Mas, supondo que você acompanhou meu raciocínio até aqui e parou para refletir sobre, vamos lá: qual é o ponto disso tudo? Essa competição que enxergamos, que talvez se estenda apenas até o lucro no mercado e nada mais, é assim tão importante para extrapolarmos a barreira do bom senso e gritarmos aos quatro ventos em redes sociais que a empresa z, seja sua favorita ou não, “ganhou a E3”? O que significa, aliás, ganhar uma E3?

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Vamos fazer, portanto, um experimento? Nas próximas edições, que tal analisar o escopo como um todo, e tentar extrair o que foi mostrado de legal, e separar o que não foi tão legal e debater sobre, de forma saudável? Não é possível que, após tanto tempo, aqueles gifs representando as empresas atirando ou lutando uma contra a outra, sejam ainda tão engraçados assim, e tudo se resuma a isso, ano após ano.

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