O novo personagem de Street Fighter V é incomum por vários motivos, que vão desde o vazamento precoce de seu nome, imagens e o adiamento dele para um mês depois do usual. Ele vai aparecer em um Beta gratuito para teste da Capcom Fighting Network, a rede online do quinto game da série, que também teve um atraso “bobo” (um ano e meio, dois e meio se contar com os testes estendidos de 2015), mostrando sua enorme transformação física e coexistindo no modo história geral como uma pessoa totalmente diferente. Mas o mais impactante para os jogadores antigos é que o personagem não usa movimentos de comando tradicionais como meia-lua, por exemplo. Este novo implemento é um teste para futuros títulos da Capcom, mas vamos primeiro falar do novato do momento.

No final de Balrog em Street Fighter IV, podemos ver o boxeador pilantra resgatando um moleque, que seria o novo receptáculo para M. Bison, dos escombros da S.I.N. Prevendo o potencial do guri, o boxeador contraria sua natureza egoísta e o adota, como esperado, servindo de mau exemplo para o jovem até se tornar um dos novos comandantes da Shadaloo.

Ed mostra um estilo de combate bastante peculiar, que parece um KickBoxing meio acrobático, com projéteis e o cabo energético feito de Psycho Power, a fonte do poder maligno do vilão que o criou. Misteriosamente, o personagem fica gigante e bombado em pouco tempo e não lembra em nada o personagem franzino ainda presente no jogo.

Antes de aprofundar nos detalhes do novo integrante de Street Fighter e seu diferenciado modo de jogo, vamos destacar os detalhes que estão sendo discutidos pelos mais fanáticos desde o lançamento do trailer semana passada: Ed é um amálgama de referências!

Não deve ser à toa que ele lembra o Capitão América dos Vingadores, pois o personagem tem muito pouco do original na sua “forma final”. O show de menções está nos golpes que vão desde os herdados de seu pai adotivo até famosos ataques de outros games, animes e mangás famosos.

A primeira referência é Ed ser um jovem loiro com poderes malignos de cor lilás, adotado por um lutador de rua que cresce e luta no mesmo torneio, copiando algumas técnicas de seu mentor. É a história de Rock Howard, da série Garou, da SNK, que foi criado por Terry Bogard após a suposta re-morte de Geese Howard. O novato de Street Fighter V tem até um Burn Knuckle como sua inspiração, mas com Pyscho Power e, não por acaso, o golpe se chama Psycho Knuckle.

É interessante pensar que Ed cresceu vendo Street Fighter de perto, lendo mangá e jogando Tekken e games da SNK, pois sua base de homenagens traz golpes normais de Guile, o Psycho Shot do M. Bison (da série Zero) e até um Ultra Combo de Decapre como v-Trigger, uma enorme bola de Psycho Power disparada usando o corpo todo. Certamente, algumas referências são mais sutis do que outras, como a sequência de Jabs rápidos que existe no mangá “Hajime no Ippo”. O cabo de energia lilás que usa para prender, arrastar ou aproximar-se dos oponentes é o Hermit Purple, poder de Joseph Joestar do mangá “Jojo’s Bizarre Adventure”, sem tirar nem por. O próprio design de seu traje default é uma soma do uniforme de inverno do período nazista, criado pela Hugo Boss, com um toque de moda ao estilo Jojo.

Aprofundando mais no lado da SNK, chegamos aos golpes Blitzkrieg Punch, de Ralf Jones, um potente soco aéreo, e algumas poses vindas diretamente do antigo jogo Savage Reign, sendo seu chefe final, King Lion, a musa inspiradora mais atípica possível. A maior homenagem, que eu chamaria de plágio épico, está no Critical Art de Ed, que começa com três sessões de Body Blows e termina com a cutscene do boxeador rodeando e acertando o oponente, finalizando com um Upper, assim como Nelson, o pugilista brasileiro de The King of Fighters XIV. Como se cópia pouca não fosse bobagem, há inspiração em Steve Fox, da série Tekken, que tem esse ataque originalmente, inclusive, já usado pela Capcom como Cross Art em Street Fighter X Tekken.

Falando de gameplay, Ed se destaca por ter um sistema de controle diferenciado no jogo e em toda série, que já chegou aos seus 30 anos de combates e personagens exóticos.

Sua V-Skill – Psycho Snatcher – é um cabo gerado pela mão que, no nível um, puxa e acerta o oponente, e quando carregado, traz o adversário pra perto para continuar o espancamento, mesmo quando defendido. Possui a versão para oponentes no chão e no ar e tem propriedade de magia, ou seja, pode destruir projéteis de todo tipo. Por ser muito útil em combos e estratégias, possui um tempo longo de recuperação quando erra o adversário.

Já a V-Trigger – Psycho Cannon – é uma versão mais fraca do Psycho Stream de Decapre, mas em compensação, envia o oponente para o ar e é fácil de acertar em combinações simples e avançadas. Possui três tipos de velocidade e é muito útil para criar pressão sobre oponentes no canto ou que pulam muito para tentar acertar suas costas. A esfera é um pouco maior que seu Psycho Shot e, na velocidade lenta, permite ser acompanhada, formando uma barreira de magia muito boa para se aproximar de forma ofensiva.

Como a barra de V-Trigger enche rapidamente e tem só dois estágios, é possível usar os ataques duas vezes por round facilmente. Como pode ser cancelado após qualquer ataque normal no chão, o jogador pode apelar à vontade, pois Ed é um personagem de combate de curto/médio alcance, mas sem uma técnica de deslocamento rápido, mesmo sendo um boxeador peso galo.

A adaptação a um sistema de comandos não-baseado em meia-lua ou carregamento é muito estranha, pois  a Capcom criou esses comandos de direcional, e todo jogador, agora, está migrando para um campo onde o receio é o de simplificar tanto para as novas gerações, tornando a experiência desagradável para os veteranos que tanto se acostumaram a ver Street Fighter e realizar os clássicos golpes.

Jogando com Ed, a transição mental foi terrível e mesmo curta, os revéses são maiores que os benefícios, pois, diferente de Nelson, que usa o mesmo sistema, em King of Fighter XIV,  em Street Fighter V temos o sistema de linkers, golpes intermediários que ligam com normais, e supers, para combos devastadores e amigáveis. Ed não tem nem um mísero Target Combo.

Apesar de tanto apelo a tornar o novo personagem amigável para os novos adeptos, o tiro acabou saindo pela culatra, pois, para os veteranos, é incomum ver um personagem da franquia sem comandos condicionados na mente por 30 anos. Já os novatos perceberão em Ed um personagem que requer nível intermediário para avançado, de forma a ligar golpes que abusam do limite de alcance e timming. A mudança pode me ajudar a combater um possível Alzheimer ao ter que sair da minha rotina de sinapses sensoriais, mas existe um limite para a inovação em um clássico e a Capcom adora pisar além da linha.

Com data de lançamento oficial prevista para o fim do mês de maio, Ed vem somar ao time de lutadores que entrará para a história como o maior número de loiros num game de luta após Dragon Ball Z, é claro.

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