Fatal Frame: Maiden of Black Water

Fatal Frame: Maiden of Black Water

por Felipe Demartini

Opressivo, mas vagaroso

A série Fatal Frame nunca foi reconhecida por ser leve. Mesmo com o investimento pesado da desenvolvedora Tecmo Koei nas personagens femininas, de forma que elas se encaixem perfeitamente no estereótipo de “waifus”, a franquia sempre acompanhou temas bastante soturnos. Afinal de contas, estamos falando sobre rituais, espíritos atormentados e almas perdidas, tudo observado em primeira pessoa, a partir das lentes de uma câmera.

Não é necessariamente o tipo de coisa que vemos no Wii U, um console reconhecido por seus títulos mais joviais e, para muita gente, infantis. Mas a Nintendo não apenas deu à Tecmo Koei o apoio que ela não tinha de outras fabricantes como também investiu na série, tornando-a uma exclusividade e dando liberdade criativa aos criadores.

Lidando com uma temática pesada e inspirada em acontecimentos reais, Fatal Frame: Maiden of Black Water traz a franquia de volta ao Ocidente após uma longa ausência. O título surge como uma das propostas mais assustadoras do Wii U, mas ao mesmo tempo, chega também recheado de problemas que o tornam menor do que deveria ser.

A opção extrema

O game lida com um tema sobre o qual muita gente nem gosta de falar, mas que deveria ser mais abordado: o suicídio. Apoiando-se nas lendas da floresta de Aokigahara, o segundo local mais utilizado para esse tipo de ato no mundo, inicia-se uma história sobre uma montanha fictícia e suas bizarras histórias de assassinato, desaparecimentos, visões e gente desesperada tirando a própria vida.

Fatal Frame: Maiden of Black Water

Nesse ensejo, se misturam personagens inéditos, mas ligados ao passado, e ligações com os games anteriores da própria franquia. O resultado é um título que, ao mesmo tempo, soa como familiar o bastante para os veteranos e também fresco o suficiente para trais quem nunca colocou as mãos em Fatal Frame e deseja conhecer exatamente por que a galera fala tanto na série.

Não apenas a temática em si é densa, mas também a ambientação. Mesmo nas cenas que se passam com o sol ainda brilhando, é impossível não se sentir oprimido pelas florestas e cabanas abandonadas, sempre muito fechadas e silenciosas, ou pela chuva que parece cair sem parar. De repente, um barulho atrás de você. Mas não tem nada lá. Ou será que tem?

Além de ser um dos jogos mais assustadores do Wii U, o novo Fatal Frame também possui uma das melhores utilizações do GamePad.

Essa opressão também se traduz na jogabilidade, que apesar de mais ágil que nos anteriores, ainda é bastante vagarosa. Fatal Frame: Maiden of the Black Water é um game que caminha aos poucos para que você explore os cenários e busque preciosos itens, mas também para te perturbar. Fazer com que o jogador se sinta ameaçado o tempo todo é uma das premissas, que a Tecmo Koei realiza com bastante sucesso.

Fatal Frame Maiden of Black Water

Por outro lado, essa lentidão acaba se refletindo também em controles travados e poucos funcionais. Em muitos momentos, você se verá trombando em barreiras invisíveis ou ficando perdido com viradas de câmera enquanto sofre ataques ou é cercado por um grupo de fantasmas. Os combates contra eles também são lentos e até mesmo os espíritos mais fracos levam alguns golpes para morrerem, fazendo com que o jogador tenha que pensar com uma estrategia que nem sempre é propiciada pelo conjunto de comandos.

Cara de cera e pilhas de livros

Troca-se a tensão por uma imagem “sexy” gratuita e sem relação alguma com o que está acontecendo, apenas para apelar à audiência masculina.

Toda a densidade do roteiro e da temática, porem, acabam sendo altamente prejudicadas por decisões de design mal feitas pela Tecmo Koei. A começar pela representação de personagens femininas, que apesar de serem centrais no título, tem seus atributos físicos evidenciados sem necessidade alguma, um caráter que acaba tirando a seriedade de alguns momentos.

É o caso, por exemplo, de uma das primeiras missões, quando uma garota apresenta o caso de uma amiga desaparecida. Visivelmente transtornada por acontecimentos recentes que não são revelados naquele momento, tentamos entender junto com a protagonista o que está acontecendo, até que um close desnecessário nos seios aparece para tirar a seriedade da cena. Troca-se a tensão por uma imagem gratuita e sem relação alguma com o que está acontecendo, apenas para apelar à audiência masculina.

Fatal Frame: Maiden of Black Water

Percebe-se também um trabalho demasiado nos corpos das personagens femininas, e menos em suas expressões faciais. Enquanto roupas ficam molhadas de maneira bastante realista – algo que, inclusive, se configura também como um elemento nos combates, tornando os protagonistas mais vulneráveis aos fantasmas – todos reagem de forma inexpressiva ao que acontece à frente. Não importa se sua assistente está prestes a se enforcar ou se você encontrou um cadáver que parecia estar boiando há algumas semanas, sua reação sempre será a mesma de uma modelo em um editorial da Vogue.

Fatal Frame: Maiden of Black Water também traz uma história um tanto complexa, com várias ramificações, personagens e facetas. O problema é que muitos desses detalhes ficam renegados a arquivos de texto espalhados pelo cenário. Por mais que muitos deles sejam obrigatoriamente coletados pelo jogador durante a aventura, interromper a tensão para a leitura de diários e cartas causa um corte frustrante, além de tornar ainda mais truncada uma progressão que já é lenta o suficiente.

Usando de verdade o GamePad

Além de ser um dos jogos mais assustadores do Wii U, o novo Fatal Frame também possui uma das melhores utilizações do controle-tablet do console. Não é como se fosse nenhum tipo de inovação, mas ao encará-lo como um dispositivo de realidade aumentada e também como a própria Camera Obscura, a Tecmo Koei traz muito mais imersão para um título que tem muito a ganhar com isso.

Fatal Frame: Maiden of Black Water

Tirar fotos e atacar fantasmas com o dispositivo funciona exatamente como numa câmera de verdade, e durante essa ação, inclusive, é pedido que os jogadores olhem para a tela do Gamepad e o usem como se efetivamente estivessem diante do espírito. É melhor que você esteja com o treino de braço em dia, pois os combates não são poucos.

Felizmente, caso o jogador se canse, existe uma opção em que tudo funciona mais como nos velhos tempos de Fatal Frame, com o uso do analógico e a interface da câmera transferida para a televisão. Pode ser o jeito mais ágil de se jogar, mas não é o mais divertido. A escolha fica para o freguês.

Um bom retorno

Fatal Frame Maiden of Black Water

Fatal Frame: Maiden of Black Water surge como uma das propostas mais assustadoras do Wii U, mas ao mesmo tempo, tem problemas que o tornam menor do que deveria ser.

O título da Tecmo Koei entrega exatamente aquilo que os fãs precisam: a atmosfera opressiva de sempre, os fantasmas aterrorizantes, histórias sombrias e conexões com o passado. Mesmo com as utilizações desnecessárias das personagens femininas, os fanáticos poderão olhar além disso e não se importarão nem mesmo com a quantidade grande texto a ser lido, pois ele adiciona bastante ao enredo.

Por outro lado, Fatal Frame: Maiden of Black Water traz problemas que devem impedir a criação de novos fãs. Quem está acostumado com os controles ágeis dos games de nova geração não vai se dar muito bem aqui, e a não ser que seja capturado pela ambientação extremamente opressiva, a tendência é que os novatos abandonem o game e busquem ofertas melhores.