Heavy Rain

Heavy Rain

por Felipe Demartini

Um origami mais bonito, e só

Por mais que tenha saído só em 2010, quando o PlayStation 3 já estava estabelecido, Heavy Rain é daqueles jogos que todo mundo se lembra quando o assunto é o poder gráfico da plataforma. Na época, muita gente se impressionou com as expressões faciais dos personagens, a história cheia de nuances e, principalmente, o estilo artístico, que aproxima o título de um filme de verdade.

Agora, seis anos depois, a Sony volta a essa carga e traz de volta o game para o PlayStation 4. O relançamento de Heavy Rain faz parte de uma leva de remasterizações da Quantic Dream, que se prepara para seu próximo jogo, Detroit: Become Human. A chegada tão próxima assim de Beyond: Two Souls permite que o jogador não apenas compare o caminho que a produtora tomou para chegar até aqui, mas também onde ela evoluiu e o que ainda precisa melhorar.

Logo de cara, já dá para perceber que o destaque da remasterização de Heavy Rain são os gráficos. Eles trazem as marcas do tempo, sim, mas mostram que o título envelheceu muito bem. Com essa repaginada, temos um jogo que ainda é muito bonito, apesar de deixar claro se tratar de algo com mais de cinco anos de idade. O destaque fica para as expressões faciais dos personagens, principalmente nas telas de loading.

Para o bem ou para o mal, a Quantic Dream não mexeu em nada além dos gráficos nesse relançamento. Isso significa que a jogabilidade esquisita está de volta – andar com o R2, porque, meu Deus? No PlayStation 4, o jogo também tem uma péssima zona morta no analógico, o que acaba fazendo com que o usuário tenha que empurrar demais a alavanca, e muitas vezes, acabe passando direto pelos objetivos, sem falar nos prompts confusos que muitas vezes causam erros no cumprimento de QTEs.

Heavy Rain

Os problemas de performance também retornam, algo tolerável em um título que puxa bastante do PS3, mas inexplicável quando estamos falando do PlayStation 4. Em Heavy Rain, você vai encarar muitas quedas na taxa de frames e problemas na sincronização entre falas e movimentos dos personagens.

Apesar das quebras de ritmo, Heavy Rain traz uma história envolvente, que você não quer parar de jogar antes de terminar.

Mas o pior mesmo é quando o game simplesmente buga, e você não tem nada a fazer, a não ser reiniciá-lo. Muitas vezes, nem mesmo recarregar o save funciona, e você deve efetivamente fechar e abrir de novo o aplicativo, algo que, quando acontece durante uma cena de ação, chega a dar nos nervos.

Por outro lado, quando tudo funciona bem, Heavy Rain brilha bastante. A história traz diversos personagens envolvidos na trama do Assassino do Origami, um serial killer de crianças que já fez diversas vítimas. Temos um pai que sofre com marcas do passado, um policial investigando o caso por meios oficiais e um detetive fazendo a mesma coisa pelas beiradas, enquanto outras pessoas acabam envolvidas, intencionalmente ou não, nessa trama.

E para cada momento de perda de tempo em prol do nada, como controlar o cruzamento de pernas de um personagem, aturar o tédio de uma sala de espera ou utilizar o óculos a la Minority Report que traz uma desnecessária tecnologia à investigação, temos decisões instigantes, que exigem sangue frio e reflexos rápidos do jogador. Os controles podem não ajudar sempre e esse problema acaba se tornando mais um fator de tensão, mas não de forma intencional.

A versão PS4 é melhor, mas só na parte gráfica. Os problemas de performance retornam, assim como a jogabilidade esquisita.

Apesar de suas quebras de ritmo, Heavy Rain traz uma história interessante e envolvente, daquelas que você não quer parar de jogar antes de chegar no fim. Entretanto, como no caso de Beyond, essa remasterização traz pouco de novo para quem já resolveu os mistérios do Assassino do Origami no passado.

No PlayStation 4, Heavy Rain é melhor, mas só na parte gráfica, o que o coloca no mesmo nível de Beyond. Mas no final das contas, só faz com que a gente sonhe por uma versão com os bons controles do jogo de Ellen Page, e mais do que isso, espere que Detroit: Become Human acerte nos dois quesitos, visual e jogabilidade.

O jogo foi testado em cópia cedida pela Sony.