Hitman E01: Intro Pack

por Caio Vicentini

Matar é uma arte delicada

Hitman é a mais nova aventura do Agente 47, que, agora em formato episódico, explora as origens do assassino de aluguel mais famoso dos vídeo games. Retomando a fórmula dos jogos antigos e dando liberdade para como proceder nas missões, o primeiro episódio mostra o potencial deste ser o melhor jogo da série desde Blood Money.

Agente 47 de raiz

A série nunca teve o apelo popular que outras franquias do gênero stealth possuem, como Metal Gear e Splinter Cell. Mas os poucos que se arriscavam viam o imenso playground que cada missão proporciona. Era possível usar uma infinidade de disfarces, aliadas a diversas armas à disposição de quem jogava, fazendo a criatividade ser o único limite. Essa liberdade foi amenizada em favor de uma experiência mais linear em Hitman: Absolution, que também serviu para reviver a saga, que não via um jogo novo desde 2006.

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Felizmente, a nova empreitada resgata a sensação de controle total que o jogador tinha nos games antigos. No primeiro capítulo, somos apresentados a três missões, sendo as duas primeiras tutoriais de comandos e de como aproveitar as oportunidades de cada cenário. Em ambos, seguimos as instruções dadas pelo jogo através da nova mecânica de “Oportunidades”, que assume as rédeas define a abordagem. Isso serve para não deixar à deriva aqueles que preferem a linearidade de Absolution, mas o recurso pode ser desligado para os jogadores da velha guarda.

É na terceira fase, em Paris, que a equipe da IO Interactive explora o potencial de level design do jogo. Existem inúmeros caminhos para se locomover, com a possibilidade de criação das mais diversas estratégias. Cada parte do cenário tem seus próprios NPCs fazendo as mais diversas funções. Na área de funcionários do subsolo, você pode ver os garçons e cozinheiros se queixando dos seus chefes, enquanto, no camarim do desfile, dá para ouvir as discussões dos estilistas com seus modelos. É um ecossistema vivo que dá ainda mais profundidade ao nível.

Inimigos mais sagazes (mas nem tanto)

Hitman

Ainda que seja um resgate da velha forma, é bom ver que os desenvolvedores inseriram elementos dos jogos mais recentes neste Hitman. Agora, é possível agachar-se, usar superfícies como cobertura para esconder-se e utilizar o modo “Instinto” – que nada mais é que o Eagle Vision de Asssassin’s Creed –  tornando uma infiltração mais fácil e dinâmica (mas que pode ser desligada, se o jogador preferir).

Retomando a fórmula dos jogos antigos e dando liberdade para como proceder nas missões, o primeiro episódio mostra o potencial deste ser o melhor jogo da série desde Blood Money.

Falando em infiltração, a resposta da IA para a ação do jogador ficou mais justa e menos desajeitada. Agora, é possível circular livremente pelos cenários se estiver com a vestimenta certa, mas alguns personagens-chave, como o chefe do grupo de funcionários em que você está infiltrado, poderão estranhar a sua presença e ir atrás do agente. É justo e funciona, na maioria dos casos.

Mas nem tudo são flores, pois a reação dos inimigos sempre tem caráter temporário, e eles acabam voltando à sua rotina pré-programada, independente da gravidade das minhas ações. Na minha primeira tentativa de matar um alvo no desfile de Paris, acabei errando o tiro. Todos os guardas cercaram o objetivo e começaram a criar um perímetro para me encontrar (outra ótima adição, vale salientar), mas assim que eles não me localizaram, todos voltaram aos seus postos e deixaram a vítima voltar para o mesmo lugar onde eu tentei assassiná-la, e ela, dessa vez, não teve tanta sorte. Pode ser um detalhe bobo, mas vai contra o realismo que o jogo tenta tanto pregar.

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Empecilhos técnicos

O visual do jogo é algo de se encher os olhos. A iluminação e a atenção aos detalhes da modelagem fazem do jogo um agrado visual. Outra grata surpresa no quesito técnico é a opção dada de poder travar o jogo em 30 fps ou deixá-lo destravado, permitindo que ele vá até os 60 frames, mas também cair para a casa dos 20 em alguns cenários mais abarrotados de NPCs.  Infelizmente, tudo isso vem com um preço, já que os loadings do jogo podem chegar a demorar um minuto inteiro, fazendo com que o processo de carregar o save do seu progresso seja sofrível.

Outro problema está na obrigatoriedade de se estar conectado à internet para usufruir de todas as funções. Na versão de PS4, não era possível escolher outros locais de infiltração nem equipamentos de reforços caso eu não estivesse logado. Isso pode acabar sendo um grande problema para aqueles que não têm a conexão mais estável.

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Apesar de alguns tropeços na área técnica, Hitman é a volta da série ás suas origens, mas sem deixar seus fãs mais novos desamparados. Seu level design profundo e imenso fator replay torna esse primeiro capítulo uma promessa de muitas horas de diversão assassinando pessoas, sempre com estilo.

O jogo foi testado no PlayStation 4, em cópia cedida pela Square Enix.