Lawbreakers

LawBreakers

por Felipe Demartini

Algumas novidades em um mar de semelhanças

De tempos em tempos, existem alguns aspectos que tomam o mundo dos games de assalto. São tendências que se mostram bem-sucedidas muito rapidamente e acabam dando as caras em diferentes títulos como forma de, principalmente, chamar a atenção do público. Foi assim, por exemplo, com o modo multiplayer mata-mata, que apareceu até em jogos que não o comportavam, com as árvores de habilidades e, agora, com o estilo “battle royale” ou os games competitivos com heróis.

É nessa última categoria que se encaixa o novo título do designer Cliff Bleszinski. Você possivelmente já ouviu esse nome, mas, com toda certeza, conhece uma de suas principais obras, Gears of War, franquia exclusiva dos consoles da Microsoft, na qual ele deixou de trabalhar após o fim do terceiro título. LawBreakers é seu primeiro jogo fora da Epic Games.

Fruto de um trabalho de mais de quatro anos, o game competitivo é, ao mesmo tempo, um exemplo de visão de mercado e também de como, às vezes, não é bom seguir as lógicas dessa indústria. O que temos aqui é um game que adiciona ao gênero de formas interessantes e genuínas, mas que deixa a sensação de que a maioria das coisas feitas por ele já foram realizadas, de maneiras melhores, por outros títulos que, por isso mesmo, são consagrados.

Movimente-se sem parar

A ação de LawBreakers é frenética. Por aqui, nada de investir em posicionamento, times completos ou papeis bem definidos. Quem ficar parado vira alvo fácil nos cenários pequenos e sinuosos, cheios de verticalidade e com pontos de quebra da gravidade. É essa a lei, inclusive, que LawBreakers quebra o tempo todo, transformando os combates em um frenesi dos mais malucos.

Lawbreakers

E isso é bom. As batalhas lembram os áureos tempos de jogos como Unreal Tournament e Quake Arena, com oponentes correndo feito loucos, mortes rápidas e respawn mais veloz ainda. A trilha sonora é pesada, misturando rock com música eletrônica, e contribui para o ritmo extremamente acelerado do jogo.

LawBreakers é frenético e interessante. Diverte, mas é só. Pouco para o talento de Cliff Bleszinski.

Os modos ajudam. Blitzball, por exemplo, é o mais divertido, uma variação de caça à bandeira na qual os jogadores devem assumir controle de uma bola e leva-la à própria base. O item pode ser movido tanto pelos personagens quanto por disparos e poderes, além de ressurgir sempre no mesmo lugar, gerando correria e combates violentos no ponto central.

Já Turf War apresenta uma variante interessante à consagrada modalidade na qual os times devem dominar três territórios no mapa. Como se não bastasse o fato de os locais serem minúsculos, os estágios se encerram uma vez que os pontos estão dominados, sem a possibilidade de eles serem convertidos para o time adversário. O resultado, mais uma vez, é loucura, com uma corrida pelo controle dos territórios e tiroteio desenfreado quando equipes se encontram nessa empreitada.

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LawBreakers também investe na variação rápida de modos. Nenhuma de suas partidas vai durar mais do que oito ou 10 minutos, por mais disputada que seja, e mesmo que o mesmo time seja mantido, dificilmente a mesma modalidade será jogada duas vezes seguida. Isso permite não apenas que o jogador refresque a cuca com objetivos diferentes, mas também pede que ele mude sua estratégia e escolha de personagens.

E é aí que as coisas começam a pender para o lado negativo. Essa correria e falta de estratégia se reflete em um design de personagens que é até interessante, mas parece pouco balanceado e intuitivo. Como em Overwatch ou outros jogos do gênero, temos as classes de heróis tradicionais, como assalto, tanque, pistoleiro, ladino ou médico, cada um com seus próprios ataques especiais e características únicas.

A loucuragem das partidas de LawBreakers, entretanto, privilegia o uso de personagens velozes, e por incrível que pareça, nem todas as opções disponíveis são ágeis. Entrar e sair rapidamente de pontos de controle ou fugir de maneira ligeira com a bola pode ser mais interessante do que matar os oponentes, situações em que a utilização de protagonistas defensivos ou médicos simplesmente não é necessária.

Lawbreakers

Existem, claro, modos que permitem essa utilização. Overcharge e Uplink, por exemplo, pedem que os times segurem um determinado ponto por um período de tempo, seja para recarga de uma bateria ou envio de informações para um satélite. Aqui, escudos e cura até podem ser necessários, mas na maioria das vezes, a força bruta e a velocidade acabam falando mais alto, com os jogadores preferindo assassinar oponentes para proteger o local.

Com isso, LawBreakers acaba soando como uma proposta desbalanceada, algo que contrasta muito com suas visões competitivas. Antes mesmo de chegar às lojas e quando ainda estava em acesso antecipado, o game já tinha ligas oficiais de eSports anunciadas, bem como times competindo pelo primeiro lugar do pódio. Aparentemente, ainda há muito a ser feito, em termos de desenvolvimento, para que o game chegue a um ponto estrelado como o da concorrência.

Quem se importa com essas pessoas?

Não ajuda o fato de o game se parecer demais com um monte de coisa. O uso da gravidade e terreno soa único, mas é pouco para dar personalidade ao título.

A falta de balanceamento e cuidado com os personagens também se reflete em outros aspectos. Os protagonistas até têm um design interessante, mas na maioria das vezes, os jogadores não vão reparar neles pelo simples motivo de que estarão malucos demais para voltarem aos cenários enquanto o balanço das partidas pode ser alterado rapidamente.

LawBreakers tem um minúsculo fio de história, parecendo mostrar o combate entre agentes da lei e indivíduos que quebram as regras. As classes de personagens são representadas por protagonistas diferentes de cada um dos lados, todos com um estilo agressivo e marrento, mesmo que suas habilidades sejam iguais independentemente do alinhamento.

Lawbreakers

É um aspecto que acaba sendo deixado completamente de lado quando, para escolha de protagonista ou troca de herói durante uma partida, é preciso que o modelo carregue completamente antes da confirmação. Isso demora alguns segundos, que parecem preciosos em um jogo no qual pontos são distribuídos rapidamente e intermissões acontecem a todo momento durante as partidas.

Nem mesmo um treinamento aprofundado é incentivado. LawBreakers até traz a tradicional arena aberta com bots para serem enfrentados, além de modos onde é possível enfrentar inteligências artificiais. Entretanto, no que só pode ser entendido como descaso, os tutoriais de cada herói são, na verdade, meros links para vídeos no YouTube, abertos, inclusive, no próprio navegador do console ou PC em utilização pelo jogador.

Na maioria das vezes, a sensação que se tem é de que, efetivamente, o melhor é sempre correr. LawBreakers não motiva o jogador a criar estratégias ou se aperfeiçoar com as variadas classes de forma a ajudar o time. Ele testará todas rapidamente, escolherá a que preferir e seguirá com ela até enjoar.

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Além disso, não ajuda o fato de o game se parecer demais com um monte de coisa. A estrutura é semelhante à de Overwatch, com o ritmo de Quake Arena, enquanto o design de fases e personagens lembra Call of Duty: Black Ops III. O uso da gravidade e do terreno soa único, mas é pouco para capturar o jogador e dar personalidade ao título.

Não é fácil revolucionar o tempo todo e o “momento eureca”, normalmente, só aparece algumas vezes na vida. Além de se perder em um mar de títulos semelhantes, o game também chegou ao mercado em um momento abarrotado de lançamentos e grandes franquias que mantiveram os fãs ligados e com pouco incentivo para olharem ao redor.

LawBreakers é frenético e interessante. Diverte, mas é só. Pouco para o talento de Bleszinski.

O game foi testado no PlayStation 4, em cópia cedida pela Boss Key Productions.