Little Nightmares

por Diogo Fernandes

Fugas e puzzles no escuro

O som é tudo em um jogo de terror ou suspense. Da trilha suave de uma caixinha de música no breu total ou o barulho do metal sendo arrastado, eles são os principais motivos de não existir ateu jogando algo bom do gênero. E junto da combinação de luz e sombra e uma história com bons personagens, é um grande indício que um jogo assim será incrível.

No caminho contrário, Little Nightmares possui todos os pontos acima, mas não consegue ser incrível. É apenas bom, preferindo não avançar mais do que o necessário no universo que cria e na jogabilidade que implanta. Ele deixa no ar uma história com bons ares de contos de fadas – daquelas bem medonhas –, mas abandona o gameplay inicial, sendo esse um dos melhores aspectos apresentados no jogo.

Consegue, entretanto, de imediato, impressionar com a direção de arte bem bonita e própria, retratando a pequena Six com sua capa de chuva amarela, seus inimigos bizarros e todos os detalhes do lugar de uma forma que dificilmente se tornará esquecível. E as excelentes divagações sobre seu final servem para contrastar ainda mais com suas decisões estranhas no avançar do game.

Fugas na claridade e puzzles no escuro

Assustador e fofo

Despertamos com Six isolada e sozinha em uma ala profunda do The Maw, uma espécie de resort subaquático, portando apenas um isqueiro para iluminar e se guiar em meio à escuridão. Muitas perguntas podem passar pela mente do jogador, como o motivo de o isqueiro estar com uma criança ou o porquê do nome Six, ou de qualquer outro personagem, não aparecerem em momento algum do game – informados apenas no material oficial do jogo.

Isso faz parte das pontas soltas deixadas pela história do game, mas que podem ser aprofundados na minissérie em quadrinhos em quatro edições de Little Nightmares. A publicação é feita pela Titan Comics, também responsável pelos quadrinhos Assassin’s Creed: Uprising e os – nem tão bons – ligados à série Dark Souls.

Fugas na claridade e puzzles no escuro

Dentre os personagens, os Nomos são os únicos aliados de Six. Como outros elementos, esses pequenos gnomos também não possuem uma explicação precisa de estarem ali. Assim que nos veem, fogem desesperados, talvez por experiências ruins no passado. Quando os encurralamos, temos a opção de abraça-los, como se Six tivesse finalmente encontrado um amigo, mesmo que por pouco tempo. A cena do abraço é bem bonitinha, quase um refúgio de onde se encontram.

Com apenas cinco capítulos, Little Nightmares é extremamente curto, com uma história bem executada, mas, aparentemente, finalizada às pressas.

Tentar entender alguns dos detalhes do ambiente é mais desafiador do que o jogo em si. Sabemos apenas que lá é um local para receber pessoas, muito ricas e obesas ao ponto de mal se moverem, que comem tudo que há pela frente. E o motivo de alguns usarem máscaras para ocultar seus rostos é o alimento oferecido: crianças vivas.

Além de Six, outras estão presas em pequenas jaulas, aguardando o Zelador, um monstro cego com longos braços, leva-las para cozinha. O cenário piora quando, envolto em trapos, formas humanas ficam penduradas no frigorífico do The Maw.

Fugas na claridade e puzzles no escuro

Estranhas mudanças

Com apenas cinco capítulos, Little Nightmares é um jogo extremamente curto. Cada um deles conta com puzzles bastante simples até o terceiro capítulo. Do quarto em diante, Little Nightmares vira um jogo de perseguição e cenas envolvidas em uma música de tensão com a Six fugindo dos frequentadores do lugar.

Uma mudança não drástica, mas perceptível e triste. O jogo já bastante curto – há um troféu em terminar o jogo em uma hora – e sofre com a falta de desafio nos episódios finais. Ele parece priorizar a apresentação de trechos para montar a narrativa do que o gameplay divertido de antes.

Fugas na claridade e puzzles no escuro

O último capítulo serve para apresentar a Senhora, uma gueixa mascarada, como regente do local. Além de mostrar seu aposento, o episódio contém uma resposta crucial sobre quem é Six e o porquê de ela ter acordado sozinha e isolada das outras crianças, em uma prisão na mais profunda câmara do The Maw, em seu pequeno pesadelo.

Tanto essa resposta e os motivos de tudo ter ocorrido são bastante verossímeis com os antigos contos infantis, antes da Disney colocar suas mãos e açucarar essas fábulas. Uma pena uma história boa e inicialmente bem executada tenha sido, aparentemente, terminada às pressas, como se faltassem páginas para encerrar de forma completa.

O jogo foi analisado no PlayStation 4, em cópia cedida pela Bandai Namco.