O anúncio da parceria entre Marvel e Square Enix para a produção de uma série de jogos inspirados nos heróis da editora pegou todo mundo de surpresa. Havia uma expectativa de que o tal anúncio prometido para a última quinta-feira (26) fosse algo relacionado a Kingdom Hearts 3, mas o que se viu foi algo ainda mais importante. Afinal, é o retorno da Casa das Ideias para o mundo dos videogames. E, ao que tudo indica, do jeito certo.

Não por acaso, a novidade foi muito bem recebida por todos os jogadores. Apesar do sucesso nos cinemas, a Marvel ainda estava devendo jogos de qualidade de seus personagens. Nos últimos anos, nenhuma das tentativas de emplacar uma boa adaptação deu certo e tudo o que vimos foram tentativas pífias de pegar carona no licenciamento e na explosão de popularidade oferecida pelo cinema.

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E esse vácuo deu muito espaço para a concorrência. Enquanto a Marvel tropeçava nas péssimas adaptações de seus filmes ou naquela desgraça de jogo dos Vingadores para Kinect, a DC estabeleceu um universo próprio nos games graças à Rocksteady. Porém, depois de muito pelejar, parece que finalmente podemos estar diante do nascimento de algo equivalente à saga Arkham estrelada por Homem de Ferro e companhia. Mas o que podemos esperar dessa parceria?

Iniciativa Vingadores

Para correr atrás do prejuízo, a Marvel e a Square Enix não perderam tempo. Ao invés de construir esse universo peça a peça como nas telonas, partiram logo para seu maior trunfo: os Vingadores. Ainda não sabemos absolutamente nada sobre o título, exceto que está sendo produzido pela mesma Crystal Dynamics que nos entregou o excelente reboot de Tomb Raider. E isso já é o suficiente para deixar muitos fãs contentes.

Ainda assim, restam algumas dúvidas. A primeira delas diz respeito ao modo como esses jogos vão se conectar ao cinema. No anúncio da parceria, as empresas afirmam que o projeto deve durar por vários anos e gerar vários games durante esse período. Em um primeiro momento, é natural que pensemos que essas histórias inéditas estejam relacionadas ao chamado Universo Cinematográfico da Marvel — ou MCU, caso prefira —, já que essa ligação sempre foi o principal chamariz do estúdio. No entanto, isso não deve acontecer.

O pequeno teaser liberado na semana passada traz indícios de um universo bem diferente dos filmes. O vídeo fala sobre um mundo onde as pessoas temem os heróis — algo que começamos a ver em Vingadores: A Era de Ultron, mas em menor escala —, acompanhado de partes destruídas dos personagens. Além disso, a voz feminina na narração fala sobre reunir os heróis, algo que parece ser muito mais retirado dos quadrinhos do que das telonas. E isso é ótimo.

É claro que esse independência do cinema pode frustrar quem não se contenta apenas com as duas horas de projeção e quer uma experiência mais contínua e mais um banho de referências. E essa decepção faz sentido, já que os jogos poderiam expandir o MCU e aprofundar histórias que não são mostradas nos filmes, sobretudo ao contar o que acontece entre eles. Sabe aquele curta que mostrava o que o Thor estava fazendo para não aparecer em Capitão América: Guerra Civil? Agora pense isso sendo tratado de maneira série e na forma de um jogo.

Só que, ao mesmo tempo que isso é uma ótima maneira de ir além e de enriquecer esse cenário, ele também cria uma série de outros problemas, como a limitação de ideias. É algo que já vemos acontecer na série de TV Agents of S.H.I.E.L.D, que está conectada aos eventos dos filmes, mas sem a liberdade de ir além do que lhe é permitido. Por isso, essa independência que os jogos provavelmente terão é mais do que benéfica.

Foi isso que garantiu o sucesso da série Arkham. Os jogos do Batman sempre estiveram alheios ao que a DC estava fazendo nos cinemas, permitindo que a Rocksteady tivesse muito mais liberdade criativa de fazer o que quiser — incluindo matar alguns personagens “imatáveis”.

Por isso, é importante que a Crystal Dynamics, Eidos Montreal e todos os demais estúdios que trabalharão com a Square Enix não tenham vergonha de abraçar o segredo do morcego e aproveitem que a origem dos Vingadores já está bem estabelecida no imaginário popular para trabalhar em coisas inéditas e independentes. Esses novos projetos não devem ser consolidados sobre os filmes, mas a partir deles. O MCU é um ótimo ponto de partida para a construção de algo novo.

Isso vai permitir que os jogos apresentem personagens que ainda não foram introduzidos nos cinemas sem qualquer amarra, além de reaproveitar aqueles que foram subaproveitados em alguns dos filmes. Sabe aquele Mandarim que era só um ator em Homem de Ferro 3? Pois ele pode finalmente mostrar seu verdadeiro poder em um jogo, por exemplo.

Questão de licenciamento

Outro ponto importante e que ainda segue nebuloso diz respeito ao licenciamento. A Square Enix não comentou nada sobre isso — e tampouco o deve fazer — e o mistério deve permanecer até que mais detalhes sobre o jogo dos Vingadores em si seja lançado. O máximo de informação que conseguimos desenterrar até agora é que “tudo é possível”, mas sem qualquer detalhe mais aprofundado.

Nos cinemas, os Skrulls estão licenciados para a FOX, mas iriam aparecer no jogo cancelado dos Vingadores

E que conclusões podemos tirar disso? Tradicionalmente, os jogos não sofrem das mesmas barreiras que vemos no cinema. Ainda que os direitos de determinados personagens estejam espalhados por alguns estúdios, não se sabe se há alguma cláusula de exclusividade. O Homem-Aranha, por exemplo, era propriedade da Activision, mas isso não impediu o herói de aparecer em LEGO Marvel Super Heroes e na série Marvel vs Capcom. E esperamos que a mesma lógica seja aplicada agora que o Cabeça de Teia está nas mãos da Insomniac.

Aliás, a decisão de focar esse primeiro jogo da parceria entre Marvel e Square nos Vingadores é muito inteligente, pois retira essa dependência de nomes que possam estar nas mãos de outras empresas. Assim, por mais que a Crystal Dynamics não possa usar esse ou aquele personagem, os Heróis Mais Poderosos da Terra já contam com um bom número de coadjuvantes e antagonistas que podem ser utilizados sem problema.

Talvez a única baixa fique nos mutantes. Ainda que a licença dos X-Men nos videogames provavelmente esteja com a Marvel, é difícil imaginar que a editora vai querer trazer de volta os holofotes para os personagens, visto que a briga com a FOX no cinema é tão grande que os próprios quadrinhos foram afetados. Se essa lógica se manter, é muito provável que Wolverine, Magneto e Fênix sejam colocados em segundo ou terceiro plano dentro desse universo — ou mesmo limados completamente.

Novas possibilidades

Por outro lado, algumas das impossibilidades existentes nas telonas podem se concretizar nos jogos. O licenciamento feito aos estúdios de Hollywood se refere somente a filmes, o que significa que boa parte desses personagens possam ser usados pela Marvel em seus games. O caso da FOX é um simples caso de evitar dar propaganda para a concorrência.

Isso significa, portanto, que heróis que não podem ganhar um filme pelas mãos da Marvel Studios aparecer nos consoles. É o caso do Namor, por exemplo. Os direitos do Príncipe Submarino estão com a Universal, mas isso não impede a Marvel de usar o personagem em um jogo. Aliás, ele pode muito bem ser o vilão desse primeiro jogo, explorando possibilidades que o cinema está legalmente impossibilitado de fazer.

Isso sem falar daqueles heróis que não tiveram muita sorte nas telonas. Blade e Motoqueiro Fantasma andam sumidos desde que suas licenças retornaram para a Marvel e eles poderiam muito bem protagonizar uma aventura no futuro.

Enfim, são muitas possibilidades do que pode acontecer daqui para frente. O que importa, contudo, é que a Casa das Ideias realmente estava precisando desse novo gás nos videogames. Com o MCU indo muito bem nos cinemas, não era justo ver jogos tão medíocres aparecendo aqui e ali nos videogames. Assim, esperamos que a Square Enix consiga virar esse cenário e, no mínimo, rivalizar com o bom trabalho da DC.

O estúdio já mostrou um excelente trabalho ressuscitando a série Tomb Raider, então não esperamos nada diferente com uma das mais rentáveis propriedades do momento. Afinal, nunca foram apenas “heroizinhos” — nem para o mercado e muito menos para nós.

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