Um gênero que não aparece muito aqui na coluna é o de jogos de ação e aventura, pois há um alto número de indies investindo em estilos como plataforma, luta ou RPG. Quebrando um jejum que vem desde Jotun, temos o artístico e profundo Mask of Semblance, que traz um sistema divertido e história filosoficamente pesada, fazendo analogia com sentimentos e as “máscaras que usamos” no cotidiano.

O game é trazido à vida pelo Red Essence Studios, formado por apenas cinco amigos que trabalham em uma velocidade assustadora sem perder qualidade, o maior pesar dos grandes estúdios atualmente. A demo que avaliamos é toda envolta em mistérios, com mais sendo encontrados na medida em que se avança. Como não se trata de um “remake” de títulos antigos, tendência comum entre os indies, não há clichês para esperarmos enquanto jogamos, o que torna a experiência muito melhor.

O jogador controla o “Rapaz Orgulhoso”, ainda sem nome revelado, que usa uma máscara capaz de conversar com ele, o orientar e garantir poderes especiais. Ela parece estar presa a seu rosto, mas ele não soa incomodado, dada sua ignorância sobre o mundo e a surpresa ao encontrar outro ser humano. Só aí já podemos criar teorias interessantes sobre a história do personagem e começar a discutir sobre identidade.

Lembrando bastante Jotun, o personagem tem uma única arma, que possui ataques fracos e fortes, explorando em um cenário lindamente desenhado à mão e rico em detalhes. Ele está em busca de informações sobre si mesmo na companhia de uma máscara falante que parece saber de tudo, mas dado seu temperamento, não revelará muita coisa ao pobre rapaz, que parece não se importar muito em estar sendo enganado ou manipulado.

O objetivo do jogo é básico e tradicional: superar qualquer obstáculo do caminho e seguir adiante, seja acionando switches, derrotando monstros, escapando de armadilhas ou explodindo pedras com seus poderes, tornando a simplicidade um fator de diversão. O primeiro fator inovador é a opção de escolher entre dia e noite para começar.

Mask of Semblance também pode ser jogado de trás para frente, para duplicar o fator replay, o que se assemelha ao Mario Kart, onde corremos nos circuitos ao contrário. Dadas as circunstâncias do jogo, mudar a ordem dos acontecimentos altera a noção do jogador sobre as missões a se cumprir para avançar e a dificuldade de certos trechos, bem como as escolhas morais do personagem. Como a visão é isométrica e o cenário, fixo, o ângulo de visão de certos desafios é crucial para acertar seus passos, rolamentos e ataques.

Diferente de outros títulos do mesmo gênero, Mask of Semblance é um adventure com muito diálogos e mostra de forma interessante a relação do personagem com a máscara e como, de certa forma, um dá força ao outro através da proximidade física e psicológica. Ainda bem que as falas são curtas e interessantes, pois serão frequentes em um jogo recheadosde cutscenes, com sua maravilhosa arte à mão.

O próprio processo de adquirir o segundo ataque normal, inclusive, é um acontecimento interessante e revelador. Se você é daqueles que pulam os diálogos, certamente ficará perdido na história e terá dificuldades em avançar no jogo.

Um fator decepcionante desta demo é que obstáculos de cenário são mais difíceis que os chefes, que além de soltarem ataques pequenos e previsíveis, possuem um padrão básico de inteligência artificial. Para finalizar, existem plantas recuperadoras de energia na arena de batalha.

Entendo que altas dificuldades espantam os jogadores mais casuais, mas precisa haver um limite. Lembremos que Cuphead se tornou icônico por seu desafio, sem deixar de ser divertido, e que todo usuário busca algo para se por à prova, e não um título infantil ou apenas narrativo.

Apesar de a trilha sonora e efeitos especiais serem ótimos, temos uma animação um tanto lenta e magias sem muito apelo visual, que contrastam com o efeito que elas causam e colocam o jogador em dúvida sobre o alcance delas. Isso sem falar em bugs bobos, como caixas de texto que deveriam desaparecer quando se completa um puzzle, por exemplo.

Certamente, esses errinhos bobos serão sanados na versão definitiva. A jogabilidade fácil e divertida, somada aos gráficos encantadores, trilha sonora imersiva e narrativa bem construída formam o tripé que sustenta Mask of Semblance. Uma experiência maravilhosa, um case sobre desenvolvimento de jogos indie a ser seguido tanto em gráficos quanto em roteiro.

O título ainda não tem data de lançamento ou previsão de outras plataformas além do PC.

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