Momodora: Reverie Under the Moonlight

por Durval Ramos

Um amálgama que deu certo

A gente gosta de encher a boca na hora de dizer que acompanhamos todo o mercado de games, mas sabemos que isso não é bem verdade. Estamos tão acostumados a ficar de olho apenas nos grandes lançamentos que muita coisa acaba passando despercebida pelo nosso lado. E, às vezes, a gente deixa escapar jogos realmente bons.

É o caso de Momodora: Reverie Under the Moonlight. O game é, na verdade, a quarta iteração de uma franquia que pouca gente conhece e que somente agora chega aos consoles. Trazendo um belíssimo visual em 16 bits misturado ao velho estilo Metroidvania, o jogo desenvolvido pelo brasileiro Guilherme Martins conquista o jogador ao mostrar o quanto a primeira impressão pode enganá-lo. Primeiro, porque você realmente se assusta ao descobrir que se trata de uma produção nacional e, depois, um jogo bonitinho assim não é capaz de fazê-lo querer esmagar o controle contra a parede, correto?

As comparações com a franquia Dark Souls são detestáveis pelo lugar comum que se tornaram, mas, no caso de Momodora, esse paralelo é inevitável. E não porque o game é difícil, mas porque ele pune duramente sua imprudência. Isso contrasta muito bem com o visual amistoso que o título oferece. Ele bagunça a sua cabeça e faz com que você não leve a sério os desafios que aparecem à sua frente. Porém, isso muda no exato instante em que você leva o primeiro tapa e percebe o tamanho da ameaça. No fundo, as aparências realmente podem enganar.

Uma jornada de descoberta

Trazendo um belíssimo visual em 16 bits misturado ao velho estilo Metroidvania, o jogo desenvolvido pelo brasileiro Guilherme Martins conquista o jogador ao mostrar o quanto a primeira impressão pode enganá-lo.

A história de Momodora: Reverie Under the Moonlight é simples, mas funciona. A jornada da sacerdotisa Kaho para salvar o mundo de uma maldição, porém, se desenvolve de maneira fragmentada em que cada peça é montada à medida que a protagonista conhece novos personagens e explora novas áreas. É uma estrutura que se encaixa muito bem ao estilo Metroidvania, que valoriza exatamente esse vaivém por entre casteloas, pântanos e florestas.

Uma das coisas mais interessantes de observar em títulos independente​s assim são as influências que o desenvolvedor carrega e insere em sua obra. E isso é evidente em Reverie Under the Moonlight. Seja na ambientação de um Castlevania, nas habilidades de Metroid — virar um gato para passar por buracos é o equivalente à Morph Ball de Samus — ou mesmo na já citada cautela do combate que a From Software popularizou estão ali. Até mesmo o visual da protagonista bebe da fonte de Final Fantasy, com Kaho tendo uma veste idêntica aos White Mages dos RPGs da Square Enix.

E, embora de fácil reconhecimento, essa mistura não transforma o jogo numa amálgama vazia. Mesmo com tantas referências em sua estrutura, Momodora conquista sua própria identidade e vira algo único, exatamente por saber dosar cada um desses elementos muito bem para que você ainda se sinta sua originalidade.

Leves tropeços

Ao mesmo tempo, Reverie Under the Moonlight comete alguns pequenos deslizes. Em tmmros de habilidades, por exemplo, Kaho segue bastante limitada ao longo de toda a sua aventura. Embora adquira um ou outro poder novo à medida que avança em sua jornada contra a maldição, eles não oferecem grandes mudanças de jogabilidades e são poucos os momentos em que o jogador sente uma evolução na mecânica. Tudo bem que se trata de um jogo curto, mas essa falta de novas possibilidades faz com que, em alguns momentos, a coisa fique um pouco monótona demais.

Porém, o maior pecado em relação à história e à mecânica como um todo é o mau aproveitamento dos personagens. Embora conte com um bom número de NPCs — basta ver como a arte promocional é linda, destacando todos os inimigos e aliados que cruzam o caminho da protagonista —, o jogo não consegue utilizá-los de maneira proveitosa nem para contar a história e nem como elementos de evolução de Kaho. No fim das contas, estar ou não ali é indiferente para eles. Na grande maioria dos casos, poderia simplesmente surgir um balão na tela dizendo o que o jogador precisa fazer que o peso seria o mesmo — e isso vai afetar no quanto você se importa com aquela história.

Ainda assim, não há como negar que Momodora: Reverie Under the Moonlight é um ótimo jogo. Tem suas limitações e falhas, mas seus acertos conseguem compensar essas falhas, principalmente para quem é apaixonado por um bom Metroidvania. É um título curto, é verdade, mas que mostra que podemos ter ótimas ideias por aqui. No máximo, precisamos lapidá-las um pouco mais.

O jogo foi testado no PlayStation 4, em cópia cedida pela Bombservice.