Um Stage Play nada mais é do que uma adaptação de uma obra de sucesso para os teatros. Por certo não é uma novidade, mas é seguro dizer que peças baseadas em animes, mangás, tokusatsus e games estão ganhando cada vez mais espaço, principalmente quando falamos do Japão. Lá na Terra do Sol Nascente, este tipo de apresentação já era um tanto quanto popular há muito tempo, e com o passar dos anos, a reprodução deste tipo de espetáculo foi se tornando cada vez mais frequente.

Uma das razões pelas quais estas apresentações caíram rápido no gosto do público japonês é a presença de figuras famosas interpretando os personagens da obra, que vão desde artistas diversos da indústria musical e seiyuus (dubladores) a apresentadores de programas de variedades. Porém, quando se trata de um Stage Play de uma obra que já é live action, tal como os Super Sentai, Kamen Rider e derivados, os atores da peça são praticamente os mesmos da série de TV, salvo raras exceções. Nestes casos, os autores criam uma aventura totalmente nova para conseguir levar o público até o teatro, e por vezes, utilizam de crossovers entre universos que nada têm a ver um com o outro – o “Battle Fever J Stage Show”, por exemplo, reúne o esquadrão que dá nome ao show, além de dois Kamen Riders (V3 e Stronger), o Spider-Man Japonês, o Ultraman Jonias e até mesmo o Doraemon!

Todavia, simpatizar com um Stage Play à primeira vista não é uma tarefa fácil, uma vez que uma peça deste porte muitas vezes reúne tanto o que há de bom quanto o que há de ruim de sua obra de origem, além de agregar elementos extras na composição toda. Exemplificando melhor: muitas vezes não é fácil para o ator ou a atriz conseguir portar o peso, ou até mesmo agradar no visual do personagem que interpreta, mesmo que a caracterização esteja impecável. Além disso, que não é sempre que rola uma química legal entre o elenco.

Para adaptar os elementos fantásticos de uma obra, são utilizados recursos que podem espantar o telespectador, mas não necessariamente de uma forma muito boa. Grande parte das peças atualmente faz uso de jogos de luz e sombra, projetores, efeitos sonoros, telões, quadros transparentes, paredes movéis, dentre outros para trazer os efeitos especiais necessários para o palco.

Além disso, existem tipos diferentes de Stage Play, como por exemplo, o crossover que mistura universos completamente diferentes durante a apresentação, e o kabuki que é um estilo de dramatização baseado em lendas populares, onde os atores usam maquiagens estilizadas e roupas caricatas, além de atuar intercalando entre danças e canções típicas (One Piece foi recentemente adaptado desta forma). Há ainda um subgênero de peças de teatro dominado pelo Takarazuka Revue, um grupo japonês localizado na cidade de Takarazuka e composto de uma trupe de mulheres, unicamente. Todas as atrizes desta companhia representam peças que vão desde produções da Broadway e musicais ocidentais num geral, a adaptações de mangás do gênero shoujo e lendas folclóricas japonesas.

Por fim, há o elemento “musical”, que cada vez mais parece fazer parte da composição de um Stage Play (o boom destas adaptações para teatro, começou justamente com um musical de Prince of Tennis, lá em meados de 2003). Isto pode gerar ainda mais estranheza para alguém que está começando a se aventurar neste tipo de mídia, ainda que não necessariamente toda peça adaptada tenha um ato envolvendo música.

Mas eu gosto é de jogos… e diversão!

Falemos então das peças de teatro que adaptam games. Algumas das mais famosas são as de Persona 4, seguidas das de Persona 3. As apresentações do quarto título da série são divididas em duas partes: “Persona 4 Visualive” e “Persona 4 Visualive The Evolution”, e seguem basicamente a mesma história do jogo original para PS2, com modificações, obviamente. Outros dois Stage Play deste jogo também foram lançados, mas contendo um elenco diferente e um estilo mais voltado para atos musicais do que para o enredo propriamente dito; são eles: “Persona 4 The Ultimate in Mayonaka Arena Stageplay” e “Persona 4: The Ultimax Ultra Suplex Hold Stageplay”.

Enquanto isso, os Stage Play do terceiro jogo, que se chamam “Persona 3: the Weird Masquerade” ainda estão em andamento, com um total de cinco capítulos: “Blue Awakening”, “Ultramarine Labyrinth”, “Bismuth Crystal”, “Pledge of Indigo” e “Beyond the Blue Sky”. O enredo desta adaptação mostra tanto a rota do protagonista homem, presente no título original para PS2, quanto o da protagonista mulher, que fui incluída apenas na versão para PSP.

Outros jogos de franquias famosas também foram adaptados para Stage Play, tais como Sengoku Musou, Danganronpa, Arcana Famiglia, Yakuza, Nier: Automata, Phantasy Star Online 2, BlazBlue Continuum Shift e Tenchu. Há até mesmo uma peça que reúne dois universos criados pela Capcom em uma só apresentação: “Sengoku Basara vs. Devil May Cry”. E já que estamos falando em Capcom, não poderia deixar de citar a série Resident Evil.

No Japão, existem até o presente momento quatro peças de teatro sobre a franquia, intitulados de “Biohazard: Year Zero”, “Biohazard The Stage”, “MUSICAL BIOHAZARD ~Voice of Gaia~”, e “Biohazard The Experience” (em exibição durante o mês em que sai esta publicação). Como Stage Plays são num geral, difíceis de encontrar por estes lados do planeta, dentre estas quatro apresentações eu consegui assistir a apenas uma delas, Biohazard: The Stage, cuja história se passa em 2010, em uma universidade na Austrália e, segundo o site oficial da obra, faz parte da timeline oficial da série como um sidestory.

Pessoalmente, achei as atuações de “Biohazard: The Stage” bem de acordo com os personagens adaptados e/ou criados para a história. Há inúmeras referências aos jogos clássicos e efeitos que farão qualquer fã no mínimo se surpreender. Vale a pena conferir.

E quanto ao tio Sam?

Como já comentado anteriormente, Stage Play é algo proveniente e predominante no Oriente. No Ocidente, peças teatrais são, em sua grande maioria, voltadas a adaptações de livros ou versões musicais de uma obra, ou ainda reproduções de roteiros originais. Afinal, eles possuem Hollywood, que já impera há muitas décadas e leva milhões de pessoas para assistir suas produções cinematográficas.

Há inclusive, inúmeras adaptações de jogos para as telas de cinema, além de animações, séries, quadrinhos, livros, e às vezes até espetáculos musicais. Talvez a última peça que falte para que o mercado de games domine, de fato, todas as mídias no Ocidente, seja o teatro. Até a data de publicação deste artigo, consigo me lembrar de apenas dois momentos em que os videogames brilharam em um palco de atuação, que são “The Wii Plays” e “The Last of Us: One Night Live”.

O primeiro exemplo, nada mais é do que uma coleção de doze histórias curtas cujas temáticas foram inspiradas em 12 jogos (desconhecidos) de Wii. Quanto ao segundo caso, “The Last of Us: One Night Live”, ele não é exatamente um Stage Play. Se trata de uma celebração realizada pela Sony para comemorar o lançamento do game no PS4. Os atores de motion capture do título atuaram no palco com uma caracterização aceitável, enquanto o diretor Neil Druckmann narrava algumas passagens, explicando o que acontecia entre um ato e outro. O show contou ainda com uma apresentação do compositor Gustavo Santaolalla e, ao fim do evento, a equipe criativa participou de um quadro de perguntas e respostas ao vivo.

Será que os videogames alcançarão este patamar no ocidente, de reinar em absolutamente todas as mídias possíveis, ou será que ficaremos limitados a adaptações medíocres para longas-metragens, e quadrinhos e livros complementares, além de algum outro tipo de atração aqui e acolá, deixando que estas pérolas teatrais se limitem a serem produzidas apenas no Japão? Por fim, será que os videogames precisam deste tipo de expansão no Ocidente, ou será que os dois polos da indústria já estão bem divididos, cada qual com suas próprias obras e as extensões das mesmas para mídias bem delimitadas? Deixe sua opinião nos comentários.

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