Quem assiste aos gameplays do NGP já deve estar familiarizado com o conceito de “prêmio Evolve”, dado anualmente e informalmente por este que vos escreve para o game que teve mais hype construído, mas que acaba esquecido poucas semanas depois de lançado. Se você não sabe exatamente do que estou falando, talvez esse vídeo te dê uma boa dimensão do que foi o tão grandioso quanto fracassado novo game dos criadores de Left 4 Dead.

Basicamente, a crítica é a uma noção de que determinados jogos irão explodir quando lançados, construída por uma combinação precisa de marketing, entrevistas com desenvolvedores cheios de declarações poderosas e bombásticas, presença de famosos e uma imprensa, principalmente internacional, e sendo assim, influenciando também a nacional, que cai de amores por determinadas propostas e jogos, falando daquilo por semanas e semanas sem parar.

Os gamers, claro, acabam indo na onda. Em um movimento parecido com o fenômeno GOTY do mês, que já comentei aqui anteriormente, temos a impressão de que certos títulos serão a salvação do mercado, e que quem estiver de fora estará, efetivamente, ficando para trás. Ou não, pois muitas vezes, os jogos não acabam nem mesmo decepcionando, já que não eram realmente tão esperados quanto a cobertura sobre eles fazia parecer

Evolve é um exemplo desse tipo, como o vídeo acima atesta – uma proposta interessante, que ganha tração absurda e termina, muitas vezes, nem se provando ruim, mas acaba sendo deixada de lado rapidamente por um motivo ou outro. Justamente o oposto do que era alardeado anteriormente pela mídia e mercado, mas menos pelos jogadores.

The Division

Essa visão pode parecer extremamente pessoal, mas fique comigo e vamos relembrar outros exemplos desse tipo de dinâmica – Star Wars Battlefront, Metal Gear Solid V: The Phantom Pain e The Division, apenas para citar alguns. Cada um por seu motivo, mas nenhum chegou perto de marcar tanto quanto era esperado. Se pensar com isenção, deixando seu amor por franquias ou criadores de lado, saberá que estou certo. Fora de um determinado nicho, eles simplesmente não são mais assunto, nem permanecem sendo jogados como a cobertura e a expectativa faziam parecer.

Uma vida de semanas

Pode parecer um tanto óbvio que o hype por um game morra depois de algumas semanas de seu lançamento. Afinal de contas, como no cinema, um título é lançado, muita gente o experimenta e, depois, ele acaba sendo substituído por outros. Essa é uma lógica implacável. Mas, ao contrário da sétima arte, entretanto, games permanecem conosco, em nossas prateleiras, e é nisso que as desenvolvedoras se apoiam ao afirmarem que um título vai revolucionar (insira alguma coisa aqui) e será jogado por eras vindouras, eternamente.

Vamos voltar ao exemplo de Evolve, cuja publicadora, a 2K, tomou uma atitude recente para resolver o problema. De forma a lidar com a queda drástica no número de jogadores, que atingiu níveis críticos um mês depois de sua chegada às lojas, a empresa anunciou a transformação do shooter em uma proposta free-to-play, baseada em microtransações, como forma de criar uma nova base de usuários e trazer de volta os antigos.

Em uma situação parecida, mas mantendo o cronograma e sem se mexer quanto a isso, está a Electronic Arts e seu Star Wars Battlefront, que vendeu mais de 12 milhões de unidades na combinação PC, PS4 e Xbox One. Hoje, de acordo com o site P-Stats, são menos de 50 mil pessoas jogando o game. Apenas a título de comparação, quando falamos de Battlefield 4, lançado em outubro de 2013, são quase 14 milhões de cópias comercializadas e hoje, quase três anos depois, quase 95 mil pessoas apenas no computador e consoles de nova geração, para que a comparação seja justa.

O mesmo culpado vale para ambos: a falta de conteúdo. Talvez apoiados no hype – em um caso, o nome de seus criadores, em outro, a franquia que representava -, desenvolvedores acabaram vendendo uma ideia que não condizia à realidade, enquanto tentavam vender DLCs para conteúdo adicional. Quando o game chegou às lojas, o que se tinha era uma proposta capada, de pouco conteúdo e com quase nada a ser feito. O abandono foi veloz e cruel, com meia dúzia de mapas e personagens nem de longe sustentando o hype criado anteriormente.

Um título recente, entretanto, poderia até ser encaixado neste mesmo quesito, mas pela competência de seus realizadores, conseguiu concretizar o hype. Como dizem as primeiras linhas da análise de Overwatch que publicamos aqui na última semana, o shooter é um dos melhores do ano, mesmo sem uma campanha e apenas três modos de jogo. O segredo, aqui, é uma combinação de um bom trabalho, acessibilidade e competitividade, a fórmula perfeita para fisgar usuários e transformá-los em fãs.

The Crew: matando sua saudade de viajar

Em outros casos, temos as promessas que não se firmam como realidade. Destiny, The Division e The Crew, por exemplo, foram prometidos como MMOs massivos, cada um em seu nicho, com um mundo em evolução que se transformaria e ganharia novos elementos de forma a manter uma grande população online sempre conectada e engajada.

De todos, apenas o primeiro conseguiu firmar uma base, mas ainda assim, longe da comunidade gigante esperada, como a que vemos em outros MMOs. Mas assim como os dois da Ubisoft, que caíram no limbo, todos incorreram no mesmo erro – foram vendidos como algo muito maior e mais complexo do que realmente eram. E todos, principalmente a mídia e, por consequência, os consumidores, caíram.

Ação sem reação

O NGP está longe de ser um dos maiores sites ou canais do Brasil, mas mesmo assim, proporciona um contato direto e frequente com o público. O site esteve ativo no lançamento dos jogos citados nesse artigo, na maioria dos casos, o que se via era um hype que parecia generalizado na imprensa, com artigos, matérias, entrevistas e textos sendo publicados o tempo todo, mas que acabava não se repetindo junto ao público.

Gameplay: Destiny, muitos bichos malditos e ainda mais mortes

Em alguns casos, gameplays ou análises nem foram feitos, devido à falta de acesso de nossa equipe ao título. Ninguém sentiu falta. Em outros, uma série de gameplays foram programados, e eles acabaram tendo um resultado abaixo do que o hype prometia. Enquanto notas altas eram dadas e gritos de GOTY ressoavam à distância, nos sites, podcasts e vídeos, parecia que muita gente não estava interessada em absolutamente nada.

É algo que merece uma reflexão. Até que ponto somos levados adiante pelo hype, e como saber a diferença entre antecipação e promessas da qualidade real de um game? De que forma confiar em vídeos e impressões de demonstrações quando elas, muitas vezes, são feitas cirurgicamente para transmitir a sensação que a produtora quer passar, mesmo que ela não condiza com a realidade? E, mais do que tudo isso, até que ponto uma desenvolvedora realmente acredita no que diz?

No Man’s Sky vai colocar as capacidades do PS4 à prova

O “prêmio Evolve” é real, e aparentemente, continuará sendo entregue para novos games. Minha próxima aposta para vencedor é No Man’s Sky, mais um que promete uma realidade fantástica e absurda, como nada antes visto. E enquanto os dólares continuarem entrando, é de se duvidar que as responsáveis se preocupem dessa maneira com a diferença entre hype e realidade. Não deveria, mas no final das contas, essa acaba sendo uma das bases da concorrida indústria atual de jogos.

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