Devil May Cry 4: Special Edition

por Jessica Pinheiro

Relembrando que o amor sempre vencerá

Recomendação: leia este review com esta música. Vai ficar tudo bem, prometo…

Depois de colocar as mãos em tantos títulos do gênero hack n’ slash mais recentes e mais aprimorados em questão de jogabilidade, retornar a Devil May Cry 4 pareceu ser uma tarefa difícil, pelo menos a priori. É um clássico caso de julgar a capa pelo livro, sim, mesmo sabendo que a Special Edition é um pacote melhorado e completo da primeira versão do game.

Antes de comentar das novidades que o título traz, porém, é importante ressaltar como foi satisfatório perceber que a impressão de que o jogo não me divertiria de forma alguma jogando Devil May Cry 4: Special Edition, mostrou-se um tremendo equívoco no fim das contas.

Mesmo já tendo jogado o título original há uns bons anos atrás em outras plataformas, e de ter estranhado aquele garoto Nero a primeira instância, além de ter criticado a decisão de deixar Dante de lado mais da metade da história principal – como todo fã chato tem que ser –; retornar a este mundo que antes parecia tão defasado, provou que tudo merece uma segunda chance.

NOVA PERSPECTIVA

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Talvez tenha sido um amadurecimento pessoal que permitiu isso, mas fato é, que DMC4:SE se transformou inesperadamente em um jogo deveras relaxante. Chegar em casa tarde durante a semana após um dia estressante, passar por algum problema cuja resolução está fora de sua alçada, ou ainda, lidar com pessoas e/ou problemas do cotidiano que facilmente tiram do sério… Tudo isso pareceu ser rapidamente jogado para escanteio depois de 3 minutos de jogatina – um mérito que ultimamente, é difícil um game conseguir tão facilmente.

Claro que o game alcançou isso também pelas melhorias que trouxe, afinal, a resposta para os comandos executados durante os combates foram aprimorados, além de trazer novas possibilidades de combinações de ataques com tipos de armas variadas, e tudo isso em conjunto torna a partida em um consumo viciante de ação desenfreada.

É tiro, porrada e bomba pra todo lado – literalmente – mas de uma forma bonita de se ver e realmente prática de se executar.

E muito embora a história da série Devil May Cry não seja o que a franquia tem de melhor (com exceção do terceiro game), o que realmente cativou aqui, foi revisitar a bonita história de amor entre Nero e Kyrie. É até engraçado como em outras épocas, pareceu imperdoável a decisão dos desenvolvedores em deixar Dante, o protagonista dos três primeiros games da série até então; colocado de lado por praticamente mais da metade da campanha principal. Hoje, porém, encarando através de uma perspectiva mais maleável e, por que não dizer romântica, a história contada no game pareceu muito melhor.

Esta fúria sem precedentes de outrora fez com o que o garoto do braço demoníaco fosse ofuscado no passado, e só agora é que foi possível perceber como ele é muito mais legal em diferentes camadas de existência. Explicando melhor: o jeito metido e eloqüente de Dante e essa maneira descerebrada com que ele lida com os problemas a sua volta, tirando sarro de tudo e todos o tempo inteiro e sempre saindo vitorioso porque ele sabe do potencial que existe em sua linhagem demoníaca (já que seu pai foi um lendário demônio temido por todos e blá-blá-blá), é claramente uma barreira para esconder uma profunda tristeza – isto é melhor abordado em Devil May Cry 3: Dante’s Awakening.

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Contudo, é perceptível que esta fórmula já cansou… Então de um jeito mais complexado, Nero veio como um contraponto. Ele é sarcástico e desprezível com quem não gosta, ele não tem medo de demonstrar seus sentimentos, e ele faz de tudo para proteger aqueles com quem ele se importa. Ele também pisa na bola muitas vezes por ser extremamente impaciente, além de ser inexplicavelmente inseguro e demora a aceitar e acreditar no incrível potencial que tem (e por isto ele se amaldiçoa tanto). Mas todas estas características o tornam tão humano que foi difícil não rolar uma identificação com o novato.

Sem sofrer alterações na narrativa, a storyline principal é a mesma da primeira versão do jogo.

Por outro lado, Dante como um telespectador nesta história toda (que, querendo ou não, é a história do Nero e todinha dele apenas), faz dele um espelho para o jogador do outro lado da tela. É com o Dante que se testemunha como existem pessoas que deturpam crenças, que o amor sempre é um elo mais forte e, acima de tudo, que podemos amadurecer e perceber que nem sempre o mundo gira em torno de nós.

NOVOS CONTEÚDOS

Como já citado anteriormente, Devil May Cry 4: Special Edition se trata de um pacote com gráficos remasterizados e diversas adições in-game que o tornam um game bem completo. Abaixo, há uma lista com as novidades que você encontrará no título:

Não é de se espantar que, com tanta novidade, o pacote seja tão especial, agregando até o adjetivo ao seu nome.

MAS O INFERNO É GELADO

Infelizmente, nem tudo é perfeito. Por mais que tenha sido mais divertido do que o imaginado revisitar DMC4, alguns problemas da versão originalmente lançada, ainda permanecem. A câmera, por exemplo, é um destes aspectos. Em conjunto com os momentos em que é preciso pular de uma plataforma para outra então, nem se fala… Dá a impressão de que o design das fases é muito mal feito, o que o coração grita não ser verdade nessas horas, mesmo quando os olhos sentem a raiva e a angustia de um pulo mal executado por causa da câmera.

Em determinados momentos ela mais atrapalha do que ajuda, em especial no que se refere à movimentação dos personagens. Era muito comum estar andando com Nero, por exemplo, e quando a câmera mudava de posição entre uma transição e outra, a direção em que o boneco era controlado fazia-o voltar pelo mesmo caminho que ele havia percorrido instantes antes, ao invés de fazê-lo prosseguir.

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A trilha sonora do game é a mesma de antes também, e num geral continua boa, tendo ainda a mesma melodia pesada dos demais títulos, trazendo solos pesados de guitarra e um vocal gutural incompreensível na maior parte do tempo. Mas aqui vai uma pitada de gosto pessoal de alguém que já amou (e ainda ama) muito rock music e suas derivadas vertentes no passado e hoje, aprecia instrumentos mais variados em uma canção e curte todo o tipo de gênero musical existente: aquela guitarra tocando o mesmo riff acalorado em todas as batalhas contra inimigos comuns mais causava dores de cabeça do que adrenalina.

Muitas vezes a vontade era de apertar o mute no volume da TV e colocar uma música avulsa no celular para apreciar melhor o momento…

A repetição dos cenários e de inimigos também não ajuda muito no fator replay do título, e este problema também já existia na versão original, quando você assume Dante na segunda metade da jogatina. Como o plot principal do jogo é contado através de duplas, com Nero & Dante, você joga os onze primeiros capítulos com o garoto do braço demoníaco e depois os sete próximos capítulos com o filho de Sparda, voltando a assumir o controle de Nero apenas nos dois últimos capítulos.

Com Lady & Trish é a mesma coisa: onze primeiros capítulos percorrendo o mesmo trajeto de Nero só que na pele de Lady, depois com Trish os sete próximos capítulos através do mesmo trajeto de Dante e, por fim, os dois últimos capítulos com Lady novamente. Vergil por sua vez, tem os 20 capítulos todinhos para ele, mas… Não há nada de diferente aqui também. É o mesmo caminho de ida e volta, sem alterações. Inclusive, nas duas storylines extras você também enfrenta Dante em dois capítulos da campanha – o que não faz sentido algum sendo que Lady & Trish estão do lado dele…

Por fim, e talvez o pior aspecto que tenha permanecido da primeira versão sejam os loadings… Comparados ao original, eles estão um pouco mais rápidos, mas o problema é que ainda existem. Simples assim. E além de quebrarem o ritmo da ação do game, eles são incrivelmente constantes – e irritantes. ÉééééééÉÉÉÉÉÉ…!!!!!!!! :\

SHALL NEVER SURRENDER

O veredicto é simples… Quem entrar em contato com DMC4 pela primeira vez através do Special Edition, sem dúvidas vai conseguir aproveitar muito mais. Aos fãs da série que curtiram o quarto jogo; revisitar Nero e Dante agora acompanhados de Vergil, Lady e Trish vai parecer delicioso com certeza. Aos que não gostaram tanto assim do primeiro DMC4, este pacote é um bom jogo sim e todas as novidades justificam sua remasterização, mas o título ainda deixa um tantinho do gosto amargo que a versão original deixou. Jogue sem medo e você irá relaxar, se divertir muito e esquecer os problemas, isso é garantido! Mas não espere embarcar em uma aventura fantástica que vai virar seu mundo de cabeça pra baixo.

Devil May Cry 4: Special Edition foi analisado no PlayStation 4 em cópia cedida pela Capcom.