Depois de causar muita comoção no fim de 2017, a Capcom finalmente liberou, em comemoração aos quase dois anos de lançamento do título, a tão aguardada atualização que faria os maiores revoltados voltarem a sorrir depois de tanta reclamação sobre o “Beta Fighter V”. A Arcade Edition chega com tudo o que os fãs antigos e novos têm direito e muitas novidades, que talvez tragam a tão esperada redenção para que ambos os lados façam as pazes.

Ter Sakura como a primeira personagem a ser lançada nesta terceira temporada tem uma simbologia interessante por trás.

Finalmente o modo Arcade

Depois de muita reclamação na orelha do produtor Yoshinori Ono, Street Fighter V recebeu um Modo Arcade para fã nenhum botar defeito (talvez os haters). São seis modos diferentes baseados na época dos personagens em todos os títulos principais da franquia. Por exemplo, como Abigail é do tempo do Final Fight, de 1989, ele se encaixa no período do Street Fighter original, assim como Zeku, mestre de Guy, ainda ausente no jogo. O Modo Arcade pleno é o da quinta versão, com todos os personagens e recursos somados.

Um fator em comum nos seis tipos de Modo Arcade é a possibilidade de escolher o próximo adversário em algumas lutas, batalhar por pontos que são convertidos em Fight Money (FM, para encurtar) e os finais em artes feitas por ilustradores do mundo todo, que vão desde clássicos finais de personagem até FanArts, e claro, finais novos.

Outro fator interessante é que todas as músicas de tela de seleção, Versus e pós-batalha são remixes de suas versões originais. Se você nunca ouviu uma música do primeiro Street Fighter ou quer relembrar as nostálgicas músicas de SF II e Zero, eis aqui a chance! Já a clássica fase de Bônus de quebrar barris está de volta, mas agora um dos bandidos da Gangue Mad Gear para te atrapalhar, além de versões explosivas também. Esse é um dos novos modos de conseguir juntar FM mais comuns.

Quase um novo jogo

Falando do jogo em si, os personagens foram todos rebalanceados, uma tradição nos jogos da Capcom, e enquanto alguns choram que seu lutador preferido ficou mais fraco por perder vantagens, outros estouram champanhes por causa de melhorias no seu combatente de estimação. Alguns personagens como Ryu e Necalli ganharam novos Super Golpes e uma novidade, que todos compartilham, são os novos V-Triggers, as habilidades secundárias que se tornaram um trunfo valioso e que torna os personagens melhores por um curto período de tempo.

Falando especificamente dos V-Triggers, dá para ver claramente que alguns vão de quase inúteis para totalmente inúteis! E não sou só eu falando, é a comunidade inteira de jogos de luta tentando encontrar utilidade prática para algumas habilidades que, em uma partida PvP, são totalmente ineficientes, ainda mais se comparadas aos ataques anteriores.

Um exemplo básico é o novo V-Trigger de Juri, que suga a barra de especial do oponente enquanto está próximo a ele. À primeira vista parece útil, mas em uma ofensiva, só o chutinho da ativação tem utilidade para servir de elo para causar mais dano, pois Street Fighter V é um jogo que se enche as três barras facilmente em um round. Outro inútil é o primeiro de Sakura, que solta hadoukens duplos, com poucas opções de seguir acertando e causando baixo dano.

Os maiores dissabores em relação aos novos V-Triggers estão na comparação com os primeiros, que, certamente, tiveram mais esmero do time de criação. Zeku, por exemplo, ganhou um golpe anti-aéreo extra que o faz mudar de forma… e fim. Já seu colega de Final Fight, Abigail, recebeu um que o permite não só cancelar um Super Golpe em outro, mas se transformar em um trem desgovernado que não respeita defesas ou ataques, mas que pode ser cancelado em Critical Art.

Além dos modos de jogo herdados da primeira versão, temos Extra Battle, uma batalha específica com prazo de duração e limites de repetição que custa FM, mas que dá muitas recompensas. Neste primeiro momento, as batalhas são contra Shin Akuma (um Akuma com o V-Trigger 01 sempre ativado, que causa muito dano) e Rashid usando a roupa do Viewtful Joe. A batalha contra o primeiro é um evento isolado, já o segundo será enfrentado quatro vezes, separadas com datas, com cada uma dando uma parte do novo traje.

Além de novos títulos para o perfil do jogador, FM e experiência, é possível conquistar com esforço itens que são/serão vendidos com dinheiro real no futuro. Também temos o modo galeria, com os videos e ilustrações dos 200 finais possíveis quando se joga no Modo Arcade, e seus variados caminhos ao se optar por enfrentar tal adversário ou outro. Também é possível acessar as músicas e as baixar bastando seguir os procedimentos descritos no jogo.

A cerejeira refloresce

Capcom deixou a groselhagem das silhuetas de lado e já anunciou todos os seis DLCs de novos personagens para o ano de 2018. A primeira é Sakura e essa escolha é mais inteligente do que se pensava, por vários motivos.

O primeiro é o mais simples, Sakura ganhou como personagem mais popular de toda a franquia Street Fighter na pesquisa de opinião oficial da Capcom, desbancando outros famosos como Ryu (nono lugar), Cody (quinto lugar) e a musa Chun-Li (sexto lugar). Apesar de não morrer de amores por ela, devo admitir que ficou muito legal de jogar e sua história particular está bem interessante.

Outro motivo interessante é que Sakura é o nome da flor de cerejeira, que representa a juventude na cultura japonesa e tem um fator poético muito grande no imaginário nipônico. Outros fatores é o retorno de uma personagem clássica mais adulta e com dúvidas sobre o futuro, dando em cima do Ryu sem muitos pudores.

Uma grata surpresa foi perceber que a Capcom deu 24 horas de brinde para se jogar com a Sakura com todos seus trajes (a roupa clássica de estudante, de contra-regras e de Ryu, com variações de cores para Ken, Akuma ou Dan), um incentivo para que todos os jogadores possam experimentar a primeira personagem da nova temporada mesmo sem condições de adquiri-la pelos modos convencionais. Para minha surpresa, a personagem manteve seus golpes clássicos, mas seu sistema de jogo está diferente das versões anteriores, de uma forma muito positiva, seguindo o padrão adotado desde o lançamento do Akuma em dezembro de 2016.

No modo história, Sakura reflete sobre essa vida de ficar saindo pelo mundo sem responsabilidades e tenta levar Ryu para o caminho da família clichê, pois não se imagina fazendo aquilo para sempre, agora que trabalha meio-período numa casa de fliperama e procura um emprego que pague mais, coisas que não passam na cabeça da maioria dos outros lutadores.

Sakura não ficou somente um pouco mais madura, mas está com golpes voltados para o jogo inteligente, visto que causam mais dano de Stun (zonzura) do que de energia. Esse sistema obriga o jogador e adversário a encararem a nova personagem de uma forma diferente, principalmente se comparado a Street Fighter IV. Quem estranhar que Sakura tem um Hadouken para cima certamente não jogou com ela em Rival Schools, sem falar dos crossovers com a Marvel.

Além do Hadouken, tem também o ShoOuKen, seu clássico Shoryuken que acerta várias vezes o oponente, que ganhou maior alcance, mas a versão forte é mais lenta para ser acionada, portanto não vai conectar com qualquer ataque. Da mesma forma, o ShunPu Kyaku que está mais lento, mas serve para atravessar projéteis e alongar combos, dependendo da versão. Claro que, quando se ativam os V-Triggers, a coisa muda de figura, visto que ambos foram elaborados para fortificar os Super Golpes de Sakura.

V-SKILL: Haru Kaze

Haru Kaze é uma técnica que lança Sakura no ar em um ângulo incomum no jogo e deixa três opções de ataque para surpreender. Com soco, ativa o clássico golpe Sakura Otoshi – três consecutivos no oponente. Com chute, ativa o OukaKyaku, ataque que desce em um ótimo ângulo para começar um combo destruidor. Por fim, temos o agarrão KashinFu, que serve para surpreender rivais que se movimentam muito.

Lembrando que cada golpe tem sua fraqueza bem exposta e deve ser usado com muita atenção. A recompensa de fazê-lo são muitos danos no Stun do oponente e a barra de V-Trigger rapidamente completada.

V-TRIGGER I: Haru Arashi

O primeiro V-Trigger, aquele quase inútil, permite que Sakura tenha Hadouken duplos de imediato, baseado na versão carregada normal (não EX) que até agora possui poucas opções de continuação como outro Hadouken ou ShoOuKen versão Médio, visto que o Forte atrasa na ativação. Tenho muita esperança que logo alguém descubra uma particularidade épica para este V-Trigger. Neste modo Sakura ganha um Super Golpe exclusivo, que inicia lento mas abre brecha para mais ataques.

V-TRIGGER II: Sakura Senpu

Agora sim, estamos falando de um V-Trigger decente! Ao contrário do Haru Arashi, Sakura Senpu fortifica o ShoOuKen e o ShunPu Kyaku de uma forma explêndida, com um grande alcance e ativação super rápida. Quanto acerta, mais manda o adversário para o alto pra apanhar. Como se já não fosse maravilhoso o bastante, é possível cancelar o último chute em V-Skill e, assim, mostrar todo o potencial da personagem, permitindo fazer Sakura Otoshi três vezes ou OukaKyaku, que pode ser completado com o ShoOuKen fortificado pelo V-Ttrigger02 ou EX ShoOuKen. O ShoOuKen fortificado tem características de EX ShoOuKen e é cancelável em Critical Art.

CRITICAL ART: Sakura Rain

O Critical Art de Sakura tem duas versões, de perto e longe. A segunda é seu clássico Shinkuu Hadouken, que acerta seis vezes e conecta com outros golpes do tipo, principalmente o normal carregado. Já se pega de perto, entra a animação da giratória que leva o oponente longe e finaliza com um Upper super potente. Tirando o último golpe, o visual da técnica é meio sem graça, mas é muito útil no jogo. Apesar de ser uma magia grande, é bem lenta e raramente será eficiente se usada de muito longe.

Interessante ver que muitos golpes da Sakura fazem referência a vários tipos de ventos, desde os mais fracos até furacões, e certamente reflete no conceito da personagem, que perdeu muito de sua inocência original.

Com claras referências a Yuri Sakazaki, da série Art of Fighting e King of Fighters, Sakura é a nova sensação de Street Fighter V, que antecede o retorno de outro clássico personagem, o selvagem Blanka, que esperamos ver o mesmo esmero. Que o Hype não seja abalado por péssimas decisões do time de criação, como V-Triggers inúteis e telas de fundo feias ou pobres graficamente.

Certamente os 30 anos de Street Fighter estarão bem representados com essas novidades, que remontam ao antigo sem deixar de inovar.

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