Cria da zona norte de São Paulo, Emicida cresceu ouvindo rap em casa. A jornada que o levaria de fã a ídolo do gênero musical começou, todavia, a ser construída quando ele mandou suas primeiras rimas nas batalhas freestyle (com versos improvisados) que ocorriam na cidade. O talento fez com que se destacasse e ele logo se tornou um nome conhecido na cena paulista. Com o lançamento do seu primeiro single e sucesso, “Triunfo”, foi dado então o primeiro passo de uma trajetória que poucos anos depois levaria o MC mundo afora.

Mas Emicida não se resume a apenas uma ótima história de ascensão, ritmos envolventes e letras fortes e difíceis de esquecer. O rapper possui um histórico com trilhas sonoras de jogos, e inclusive chamou atenção durante o evento em que anunciou oficialmente sua colaboração em FIFA 15; comentou que estava feliz em ver que cada vez mais os jogos estão sendo sendo totalmente localizados em português brasileiro. Além de fã de videogames – daqueles que inclusive sofreu jogando Final Fantasy em japonês durante sua infância – o MC mostrou-se humilde e atencioso, e nos concedeu uma entrevista, onde mostra um pouco mais dessa sua faceta gamística, em um bate-papo bem divertido! Confira!

https://www.youtube.com/watch?v=SQHrX_RwpEM

NGP: Durante a Warner Bros. Games Summit, você disse que é fã de games e jogou até mesmo versões japonesas de Final Fantasy. Quais consoles você teve e quais seus títulos antigos preferidos?

Emicida: Na verdade esse é o primeiro momento da minha vida em que tenho a oportunidade de ter um video game. Vim de uma realidade bem pobre, e bicicleta, video game, não eram coisas de primeira necessidade, uma vez que a luta era pra ter o pão de cada dia. Mas joguei muito na casa de amigos que tinham Super Nintendo, Mega Drive – lembra aquele do Aladdin? Super Nintendo tinha muita coisa: RPG 2D, tipo os primeiros Final Fantasy aos quais me referi no Games Summit. Sempre fui fã de Super Mario World. Acho o Miyamoto um gênio. Entre vários outros clássicos, um título favorito que atravessa tempos e que eu comprei recentemente novamente é o Super Metroid 2. Amo esse jogo e sempre retorno a ele.

NGP: Qual sua memória gamer mais antiga? Conta aí alguma história bacana pra gente!

Emicida: Meu parceiro tinha um Super Nintendo. Ele, quando perdia, ficava puto e jogava o controle no chão. Uma vez ele jogou com tanta força que o cabo esticou e puxou o videogame junto, que por sua vez puxou a TV junto. Desabou toda a mobília da sala, quebrando a TV. Ele ficou em choque porque o pai dele retornava à noite do trabalho e ia acabar com ele quando visse o que fez. Então ele teve a brilhante ideia de tirar os fusíveis da caixa de luz pra parecer que tinha dado um blackout e o pai dele não ver nada dentro de casa. Ele só esqueceu de combinar com o resto do bairro, então obviamente o pai dele foi descobrir por que só na casa deles é que não tinha luz, e o bicho pegou.

NGP: Como foi passar de jogador para alguém que divulga jogos localizados aqui no Brasil?

Emicida: Divertido. Meu sonho era ser atendente de locadora pra ver filmes e jogar uns games nas horas vagas. Imagina como estou hoje! Esse é o melhor trabalho que já tive (risos).

NGP: Além de FIFA 15, você também participou da trilha de Max Payne 3. Gostaria de trabalhar novamente com músicas exclusivas para jogos? Existe alguma diferença no processo de criação para videogames?

Emicida: Adoro a possibilidade de me tornar outro personagem, como no caso do Max Payne. Sou fã de teatro e a minha maneira de compor gosta de estar imersa no contexto em que aquilo vai existir, então tive que me tornar aquele cara ferrado, afundado em drogas, com a vida destruída, que recebe uma missão e precisa cumprir ela em um país como o Brasil. Mergulhei no roteiro, conversei com eles durante a concepção do game, acompanhei essa parte, então estava bem por dentro de tudo aquilo, a música “9 Círculos”, para os que prestam atenção nas letras, fala diretamente disso, descrença, depressão, drogas, tensão.

Ênio César (2)

NGP: Ainda sobre FIFA 15, o que significa para você ser escolhido o embaixador do jogo aqui no país?

Emicida: Uma oportunidade de representar a música do meu país em um contexto tão divertido e grandioso. É sempre uma honra representar o Brasil e a riqueza que ele possui!

NGP: Ainda joga hoje? Como concilia a agenda de shows e o trabalho com o tempo de lazer? Que títulos você anda jogando?

Emicida: Jogo nas viagens. Tenho um Super Nintendo portátil, um PS4 e um Xbox em casa. Os caras da banda têm um Vita, sempre está ligado, Carlos Café (percussionista da banda) é viciado nele! Eu tenho jogado o Fifa 14 com os camaradas, Watch_Dogs, The Last of Us Remastered, e tô sabendo que vai sair GTA V pro PS4 ainda esse ano. Vai parar na minha lista também.

NGP: Para você que cresceu com jogos, como é ver o mercado nacional ganhando força, com cada vez com mais jogos traduzidos?

Emicida: Da hora! Traduzir ou subentender o que era dito em outra língua era bem trabalhoso, mas tem um lado bom: parte do meu conhecimento em outros idiomas veio disso também!

NGP: Você tem uma filha, correto? Você compartilha seu gosto por videogame com ela? Caso sim, existe alguma mediação para que ela não tenha contato com jogos extremamente violentos?

Emicida: Minha filha gosta de coisas mais coloridas, divertidas, filmes, ela curte uns mais tensos. Ela curte The Walking Dead, eu assisto com ela e ela vê feliz da vida. Quando vamos viajar, pergunta se na cidade tem zumbis. Eu procuro, com a mãe dela, acompanhar o entretenimento dela. Conversar é sempre a melhor forma de educar e aprender, não penso que jogos influenciem as pessoas a serem mais violentas do que a realidade que os jornais mostram. Não concordo, acho que a desigualdade social do nosso país, o racismo e outras mazelas tornam as coisas muito mais difíceis e são jogadas para debaixo dos panos como se não existissem. Essas sim são bombas relógio que explodem com muito mais freqüência e todos fingem não ver. Em resumo eu tento estar perto, até porque não moramos juntos, ela voluntariamente gosta de coisas infantis, coisas pra idade dela, quando eu achar que ela tem se aproximado de algo que ultrapassa algum limite eu vou intervir e conversar. A mãe dela também tem um olho vivo muito bacana nesse sentido e tudo fica mais fácil assim.

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Considerado pela crítica como o Jay-Z brasileiro, Emicida já se apresentou no SWU e no Rock in Rio, além de marcar presença em festivais renomados fora do Brasil. Já foi indicado ao EMA (Europe Music Awards), recebeu prêmios no VMB (Video Music Brasil) e Prêmio Bravo de Cultura, e participou da trilha sonora do game “Max Payne 3”. Seu primeiro álbum de estúdio, “O Glorioso Retorno de Quem Nunca Esteve Aqui”, foi lançado em 2013 e foi considerado pela revista Rolling Stone como o álbum do ano. Às vésperas da Copa do Mundo no Brasil, o rapper teve a canção “Hino Vira-Lata” incluída na trilha sonora do jogo “2014 Fifa World Cup Brazil”. Mais recentemente, Emicida foi anunciado como embaixador mundial do jogo FIFA 15, participando ainda com a música “Levanta e Anda” na trilha.

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