ANálise Guardiões da Galáxia

Guardiões da Galáxia: A Arma Universal

por Durval Ramos

Uma adaptação surpreendentemente boa

Todo jogador um pouco mais experiente já está cansado de saber que combinar games e filmes, salvo raras exceções, nunca dá muito certo. As adaptações que o digam. Seja nos consoles ou nos dispositivos mobile, a lista de tentativas é enorme e não faltam exemplos de títulos que ficaram péssimos. Tanto que a gente sempre se surpreende quando surge algo minimamente bom — como é o caso de Guardiões da Galáxia: A Arma Universal.

Pegando carona no novo filme da Marvel Studios, o jogo leva o universo daqueles heróis semidesconhecidos para os smartphones e tablets e, contrariando todas as expectativas, se sai muito bem. Mais do que isso, ele quebra com alguns vícios da plataforma e entrega tudo aquilo que os três fãs dos personagens esperam quanto quem quer diversão descompromissada procura encontrar.

Mas, afinal, como pode um guaxinim de trabuco se manter tão distante do histórico maldito das adaptações quando tantos outros grandes falharam?

Feijão com arroz

E a resposta é simples: Guardiões da Galáxia: A Arma Universal faz o básico, sem se aventurar em nenhuma das firulas que geralmente comprometem esse tipo de jogo nos mobile. E o porquê disso é fácil de entender.

Contrariando todas as expectativas, se sai muito bem. Mais do que isso, ele quebra com alguns vícios da plataforma e entrega tudo aquilo que os três fãs dos personagens esperam quanto quem quer diversão descompromissada procura encontrar.

Sem o peso de trabalhar com ícones de grande apelo, como Batman e Homem-Aranha, a Marvel Games teve muito mais liberdade de trazer algo bem mais estilizado com seus quase desconhecidos heróis espaciais. Como quase ninguém conhece os Guardiões da Galáxia, o estúdio não precisou recriar a estética dos consoles e nem inventar moda na jogabilidade, o que permitiu que A Arma Universal fosse divertido e acessível o suficiente para agradar tanto a meia dúzia que lia as HQs dos personagens quanto para quem vai sair empolgado do cinema.

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E o resultado disso tudo você percebe no visual cartunesco, no humor exagerado da trama e mesmo na estrutura simplificada das fases. São dezenas de missões em que você deve organizar sua equipe de Guardiões e colocá-los para lutar em diferentes arenas, passando por vários locais vistos nas telonas, como a prisão e a “cidade” de Luganenhum.

O grande trunfo disso é que ele adapta tudo isso muito bem aos smartphones e tablets. Por mais que você não possa avançar pelo cenário como em um Beat ‘em Up clássico, o sistema de combate baseado única e exclusivamente na touchscreen do aparelho torna as coisas bem mais ágeis e dinâmicas. Basta puxar seu personagem até um ponto específico da tela ou sobre um inimigo e pronto.

Por outro lado, essa simplificação também traz alguns problemas. Por mais que a lista de heróis disponíveis possa agradar muitos fãs de quadrinhos, indo muito além do elenco do filme, o estilo de combate não varia muito entre eles e isso deixa bem claro a falta de equilíbrio. Personagens com armas de fogo, como Rocket Raccoon e Senhor das Estrelas, têm uma larga vantagem sobre aqueles que partem para a porrada propriamente dita, já que eles conseguem eliminar sues oponentes à distância.

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Assim, enquanto Drax e Gamora caminham até um oponente, os outros dois Guardiões já fuzilaram a ameaça. Isso acaba um pouco com a dinâmica de um grupo e faz com que você polarize toda a ação em determinados personagens, inutilizando os demais. Tudo bem que isso pode variar de acordo com a sua estratégia, mas é inegável que aqueles que atacam de longe vão acabar se tornando os favoritos de todos.

Pitadas de RPG

Sem o peso de trabalhar com ícones de grande apelo, a Marvel Games teve muito mais liberdade de trazer algo bem mais estilizado com seus quase desconhecidos heróis espaciais.

Outro ponto que chama a atenção em Guardiões da Galáxia: A Arma Universal é que, apesar de ser uma espécie de Beat ‘em Up, ele ainda conta com alguns elementos de RPG que ajudam a tornar a mecânica mais ágil. Todo o sistema de níveis e atributos é um ótimo exemplo disso, uma vez que você precisa ir e voltar em missões anteriores para acumular experiência para conseguir enfrentar um inimigo mais poderoso com um pouco de tranquilidade.

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E isso acaba sendo potencializado graças às dezenas de opções de equipamentos disponíveis. São armaduras e acessórios que você pode adquirir nas lojas ou receber como prêmio em alguma das fases e que vão influenciar diretamente sua defesa ou seu poder de fogo. Isso adiciona uma parcela mais tática ao jogo bem interessante, uma vez que você precisa se preparar bem antes de ir efetivamente para a porrada.

Vale notar ainda que, apesar de essa estrutura ser bastante comum em games de console, ainda são poucos os títulos mobile que trazem isso, principalmente quando falamos de um inspirado no cinema. O ponto é que, apesar da aparente complexidade inicial, esse sistema todo é bem simples e acessível até mesmo para os jogadores mais casuais.

Isso fica bem claro quando olhamos a árvore de habilidade de cada um. Tudo é bem direto e o jogador possui poucas opções de como progredir, optando por um ou outro tipo de ataque especial. E, independente da escolha, ainda é possível mudar de ideia a qualquer momento.

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Por outro lado, falta uma melhor distribuição de equipamentos, uma vez que você consegue upgrades muito poderosos logo no início da aventura. O jogo não segue a curva lógica de progresso, fazendo com que você receba melhorias de atributos cavalares ainda nas primeiras missões. Assim, qualquer ataque realizado por seu personagem acaba sendo fatal e as ondas de inimigos nada mais são do que moscas voando em sua direção.

A honestidade do jogo do ladrão

Um dos maiores problemas quando um estúdio tenta levar um jogo adaptado do cinema para os smartphones são as famigeradas microtransações. Não são poucos os exemplos de games que colocam várias barreiras para forçar o jogador a comprar uma ou outra melhoria para o herói. E, apesar de Guardiões da Galáxia: A Arma Universal ser protagonizado por ladrões e bandidos espaciais, ele se revela um título bastante honesto neste sentido.

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Guardiões da Galáxia: A Arma Universal é um excelente exemplo de como é possível fazer bons jogos inspirados em filmes.

O game não oferece formas de você usar seu cartão de crédito para comprar uma vantagem ou benefício. Todos os equipamentos são adquiridos a partir do seu esforço e a única moeda aceita nas lojas é aquela que o próprio jogo dispõe. Assim, se você tinha algum tipo de ressalva em relação à economia de jogos mobile, os Guardiões da Galáxia apelam para a ironia e mostram que ainda há honestidade por aí.

We are Groot

Guardiões da Galáxia: A Arma Universal é um excelente exemplo de como é possível fazer bons jogos inspirados em filmes. Sem a obrigação de recriar a história do filme, ele se atém apenas à essência daqueles personagens e certamente vai agradar quem sair do cinema procurando reencontrar o bom humor do Senhor das Estrelas e dos demais Guardiões.

É claro que o preço um pouco salgado para um game mobile — US$ 4,99 tanto no iOS quanto no Android — pode afastar muita gente, mas aqueles que se apaixonaram pelo Guaxinim de Trabuco e quiserem ir um pouco além do que foi visto na telona não vai se decepcionar.