Quem não gostou tanto de um segmento de entretenimento que quis fazer parte disso? Ser fã de um filme ou diretor e decidir seguir carreira no cinema, um entusiasta de música que abre sua própria banda, ou aquele que gosta tanto de jogos que decide fazer parte dessa indústria vital. Mas o que fazer, como e quando? Para tentar responder algumas dúvidas e dar uma luz para quem estiver interessado em fazer parte do mundo dos joguinhos, nós conversamos com Rodolfo Arantes, diretor de marketing da escola Saga, especializada em desenvolvimento de jogos, arte digital e efeitos visuais.

SAGA

New Game Plus: Sem entrar no mérito das habilidades individuais, como saber programar ou desenhar, na sua opinião, qual o perfil que um game designer precisa ter?

Rodolfo Arantes: A grande sacada é: para você entrar no mercado de jogos, primeiro, é preciso entendê-lo. Para trabalhar com cinema, você se pergunta se quer ser diretor, produtor, ator, roteirista, enfim, porque vão ser muitas atividades. E no desenvolvimento de games é a mesma coisa, são diversas posições. Às vezes, a pessoa entra achando que acabará fazendo tudo, mas um título sério tem várias etapas. A gente tem alguém que acaba sendo muito bom em game design, mas que não entende muito de programação, enquanto outro que pode ser muito bom em programar mas não entende muito da mecânica e conceito do jogo. Então acaba saindo como um trabalho em equipe.

A primeira coisa é ter paixão naquilo que você quer fazer, porque não adianta não gostar de jogos e querer entrar no mercado porque está em expansão. Você joga? Não? O que você fará lá então? É a mesma coisa que comprar um hambúrguer e você não gostar do cheiro de fritura. Acho que então a primeira coisa é isso, não tem como, você tem que ter criatividade, ideias e estudar muito. Não é porque é uma escola de games que é uma coisa empírica. Até para entender os conceitos básicos de um jogo, as bandeiras que o fazem ser atrativo. Saber porque o game A explodiu e não o B. Entender conceitos de jogabilidade, atratividade, criação de personagem e, por fim, programação. Quando você tiver essa visão holística, você consegue entender como entrar no mercado.

Além de que, fazer isso não significa necessariamente ter sucesso. Eu gosto muito de usar o exemplo do pessoal do Angry Birds, o jogo mobile fez muito sucesso e os caras ficaram ricos. Só que pouca gente sabe que eles fizeram, antes, 50 outros games que não deram em nada, e mesmo assim, insistiram, correram atrás e estão aí. Então não é que o seu primeiro jogo fará sucesso, e se fizer, não quer dizer que você vai guardar o chapéu e não vai mais brincar. Brinque sim, vá descobrir porque o game acabou fazendo sucesso e analise as tendências do mercado.

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NGP: Falando em tendências, quais são os gêneros que os estudantes de jogos acabam preferindo fazer primeiro? Existe alguma orientação por parte da Saga para eles seguirem tendências que estão em voga no mercado?

RA: Eles são totalmente livres para escolherem. Invariavelmente, um pouco mais do que a metade acaba indo para o terror,  na linha de Slenderman. O pessoal gosta de fazer um jogo que dá susto [risos]. Tem sim jogos de plataforma, assim como de corrida, mas o que eu tenho mais visto [na Saga] é o horror.

NGP: Nós falamos tanto do que você precisa para entrar no mercado de jogos, mas quais são os erros que as pessoas normalmente cometem ao fazerem isso?

RA: Às vezes, insistir em algo que o público não queria. Vamos pensar em termos de gente de marketing, nós temos um produto que vamos lançar no mercado, mas ele não aceita o produto e você fala que o mercado não sabe o que é bom. Isso é muito ego, sabe? Então acho que não ouvir o segmento é um erro.

Muitos querem empreender e abrir seu próprio estúdio, mas não necessariamente você precisa fazer isso para trabalhar na indústria. [Na Saga], temos alunos que vão trabalhar para empresas do exterior. Então às vezes a pessoa quer empreender, mas não tem uma visão, independentemente de ser um game ou não, a coisa não dá certo e ele acha que não tem competência para aquilo. Às vezes ele tem, mas falta um pouco de noção. Também talvez tenha uma questão de ansiedade, não vê a hora de colocar o produto no mercado e acaba lançando algo meio “verde”, que vem com alguns bugs aqui e ali, e você acaba se queimando com isso. Nem sempre você tem a chance de causar uma primeira boa impressão novamente.

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NGP: Com o período econômico em que estamos, ainda é válido procurar uma carreira em jogos? A busca por formação na área foi afetada?

RA: A estabilidade não existe mais no mundo, a dinâmica de mercado vive mudando toda hora. Algumas pessoas chamam isso de crise, se é que podemos usar essa palavra para falar de um período de instabilidade. Nesse ano, nós abrimos três escolas e, em 2017, mais quatro, porque as pessoas ainda procuram. O segmento de games está se expandindo no Brasil, de 15% a 20% ao ano. Isso também vale para entretenimento, basta olhar o tamanho da BGS.

NGP: Para finalizar, o que você acha que falta no cenário nacional de jogos, e como o game designer pode ajudar a melhorá-lo?

RA: Acho que o que falta no cenário atual é a educação. Educação no sentido de cultura, de apoio do governo. Você não vê incentivo na esfera federal ou municipal no sentido de aquecer o desenvolvimento de mercado de games brasileiro. Muitas vezes, as pessoas vêem como um brinquedinho. Os game designers precisam entender que a indústria de games não é só entretenimento, pois existem muitas empresas e executivos gamificando seus processos. Ninguém quer ficar numa sala de reunião de aula vendo filmes de instrução, então você vê empresas fazendo games em que, o funcionário jogando, vai entender o processo corporativo. É necessário entender que não existe só o jogo para entretenimento, pois existe também espaço para outras esferas.

 

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