The Evil Within: The Assignment

por Felipe Demartini

Uma cria muito bem feita

O ritmo de lançamento de DLCs no mercado é quase tão grande quanto as discussões sobre o assunto. Enquanto gamers de todo o mundo discutem – e brigam – entre si, desenvolvedoras de todo o mundo lançam conteúdos extras a torto e a direito, e hoje, é praticamente impossível encontrar um jogo que não tenha pelo menos um. Mesmo com sua pegada de horror clássico e toda a promessa de volta às origens do Survival Horror, The Evil Within não poderia ser diferente.

O título que representou o retorno de Shinji Mikami à cadeira de diretor e também ao mundo do horror tem em The Assignment sua primeira expansão. Se você jogou Resident Evil 4, vai entender perfeitamente quando eu te disser que temos aqui o equivalente do novo game a Separate Ways – uma história separada e diferente, com uma personagem coadjuvante feminina, mas inteiramente ligada ao mundo do game original, influenciando-o diretamente e mostrando a verdade por trás de toda a trama.

A diferença é que o conteúdo leva a palavra expansão bem ao pé da letra. Aqui, não temos apenas um outro olhar sobre a história e novos fatos, mas também novas maneiras de se jogar e uma verdadeira continuidade dos conceitos que vimos no game original. Em suas duas horas de duração, The Assignment passa longe dos erros de The Evil Within e investe forte nos acertos, entregando uma experiência que é tão boa, senão melhor, que o game que o originou.

Mantendo o foco

Se a aventura com o detetive Sebastian Castellanos se perde da metade para o final, com um tiroteio descerebrado, muita correria e apelações que simplesmente trabalham contra o jogador, a aventura com Juli Kidman mantém sua estrutura até o final. Aqui, permanecemos com uma sensação de opressão extrema do começo ao fim do DLC, sempre sabendo que, depois daquela esquina, algo pode estar esperando para matar a protagonista com requintes de crueldade.

Se a aventura com o detetive Sebastian Castellanos se perde da metade para o final, aqui, permanecemos com uma sensação de opressão extrema do começo ao fim.

Golpes físicos já estavam fora de cogitação no game original, e em The Assignment, eles só estão no conjunto de controles para constar. Em termos de jogabilidade, Kidman é uma personagem mais fraca, capaz de sucumbir com poucos ataques inimigos. Mais do que isso, ela passa todo o tempo desarmada. Esqueça revidar contra os inimigos e saiba que sua inteligência e instinto precisarão ser suficientes para sair vivo dessa.

Deixando o combate definitivamente de lado, o extra aposta na furtividade. Durante boa parte do tempo, o jogador estará se esgueirando por dutos de ventilação e se escondendo atrás de objetos do cenário enquanto tenta atrair a atenção de inimigos, passando por eles sem que percebam. Enquanto isso, precisará tentar não se sentir oprimido por novos inimigos, que vão desde cachorros zumbis que explodem, mortos-vivos invisíveis e uma monstra que parece saída de uma versão muito, muito macabra do primeiro Toy Story.

Com essa abordagem, vão-se embora, também, muitos dos pontos negativos da jogabilidade original. Ainda temos, sim, uma personagem que é travada artificialmente em seus movimentos – e sofre de um severo caso de asma, sendo incapaz de dar mais do que alguns passos em uma corrida. Isso, porém, não deve deixar o jogador na mão já que, ao contrário do game original, ir para a porrada realmente não é recomendado, a não ser, claro, que o jogador esteja a fim de cometer suicídio.

Gameplay: vamos tremer em The Assignment, expansão de The Evil Within

Se a furtividade é um dos apoios da experiência com The Assignment, o outro é a iluminação. Levando adiante mais um conceito de The Evil Within, o DLC aposta forte no contraste e no jogo de luz e sombra para aterrorizar o jogador, colocando-o em cenários sempre escuros e com poucos elementos luminosos. Nas mãos de Kidman está uma lanterna, que serve não apenas para enxergar o que está adiante, mas também encontrar segredos escondidos nos cenários e desbloquear passagens secretas. Lembre-se que, aqui, estamos em um mundo de pesadelo, então, elementos como a física e o mundo em si não funcionam como deveriam.

Nesse aspecto, porém, são os usuários de consoles de velha geração que têm mais a perder. No PlayStation 3 e Xbox 360, perde-se muito em termos de ambientação por causa da baixa capacidade dos aparelhos – o que também acaba fazendo com que ela segure a onda nos dispositivos mais recentes. Mais uma prova de que as grandes empresas deveriam deixar os lançamentos cross-gen de lado, para entregar uma experiência plena e digna do potencial das novas plataformas, mesmo que isso signifique deixar uma gigantesca base instalada de lado.

Tudo muito bom, porém…

Temos aqui uma experiência competente e realmente expansiva, mas que também representa a prática mais nociva da indústria de jogos.

Por mais que The Assignment tenha muita qualidade, não dá para ignorar a sensação de que estamos nos submetendo a um caça-níqueis. Afinal de contas, a falta de profundidade da trama de The Evil Within foi um dos pontos negativos do game original, e isso, em grande parte, acontece por não sabermos exatamente qual a missão de Kidman, algo que foi deliberadamente deixado de lado para vender conteúdos extras.

Apesar de nos encontramos eventualmente com Sebastian e Joseph, estamos trabalhando do outro lado. Temos uma personagem “mocinha”, sim, mas que trabalha do outro lado da moeda. Na verdade, a associação correta aqui seria com um dado de três faces já que, na mesma medida em que demonstra não trabalhar para a polícia, ela também está atuando contra Ruvik, o que acaba a colocando no meio de um fogo cruzado em diversos momentos.

The Evil Within: The Assignment

E é justamente essa a complexidade que fica, muito claramente, faltando no game original. Em The Assignment, conhecemos as linhas gerais desse enredo que, aos poucos, começa a se amarrar, e deve ser concluído em The Consequence. Dois trechos que poderiam ser muito bem um modo extra em The Evil Within caso, claro, não existisse a grande necessidade de ganhar dinheiro que, na maioria das vezes, ultrapassa os interesses do jogador.

Essa noção é responsável por um dos únicos gostos amargos deixados pelo primeiro DLC do título. Temos, aqui, uma experiência competente e realmente expansiva, que anda com as próprias pernas na mesma medida em que complementa o game original. Por outro lado, ela também representa tudo o que há de mais nocivo nessa indústria, um mal quase tão grande quanto aquele criado pelo pensamento psicótico de Ruvik.

O game foi analisado no PlayStation 4.