Pela segunda vez em uma apresentação única em São Paulo, aconteceu o “PIANO OPERA: music from Final Fantasy”, um concerto solo tocado inteiramente no piano que, como o próprio nome diz, é focado nas músicas da querida série de JRPG, Final Fantasy.

Na ocasião, a apresentação faz parte de uma turnê mundial que passará por um total de 12 cidades; Paris, Bruxelas, Estocolmo, Londres, Taipei, Seul, Hong Kong, Singapura, Nova Iorque, Los Angeles e, por fim, São Paulo e Cidade do México. O evento foi marcado para 02 de março, sendo organizado pela Yamato, com ingressos distribuídos pelo Ingresso Rápido.

Diferentemente da primeira vinda ao Brasil que ocorreu em 2014 (organizada pela Japan Foundation de São Paulo e com entrada franca para o público), no entanto, o pianista responsável pela performance do espetáculo, Hiroyuki Nakayama, não veio sozinho. Como o homem de palavra que é, cumpriu sua promessa de trazer com ele desta vez, o aclamado compositor Nobuo Uematsu.

A presença de Uematsu durante a ópera, inclusive, foi um dos pontos mais altos da noite. É difícil imaginar que alguém tão importante como ele seja TÃO carismático, TÃO alegre e TÃO brincalhão! Para que haja um melhor entendimento do nível de humildade e de alegria do sorridente cidadão, eis um melhor detalhamento dos momentos iniciais do concerto…

Quando o concerto começou, Uematsu subiu ao palco e, mesmo que sua ilustre presença dispensasse qualquer sinal de apresentação, ainda assim ele foi introduzido ao público ao som de incansáveis palmas. Havia tradução simultânea para que todos entendessem suas falas, inclusive a mensagem mais importante do estimado compositor: “a música ultrapassa barreiras, e uma delas, é o idioma”. Em seguida, Uematsu começou a dizer como o evento que estávamos prestes a assistir não era um concerto tradicional e, portanto, estávamos liberados para ovacionar, assobiar e gritar o quanto quiséssemos tal como o público de tantos outros países também o fez nas demais apresentações – e podíamos fazer isso inclusive durante as músicas, e não apenas após elas acabarem. Feito o apelo, ele desceu do palco e distribuiu alguns bótons para a platéia, incumbindo os ganhadores de tal souvenir, da grande responsabilidade de gritar “BRAVO!” durante a apresentação, com toda a força de seus pulmões. “E quem não ganhou bóton…? Também pode gritar BRAVO!”, brincou Uematsu momentos antes de se retirar e dar espaço para que Nakayama surgisse no palco e iniciasse sua bela apresentação no piano.

5D3_6724-1024x683Mesmo mais contido e, de certa forma até imponente, o gracioso pianista ministrou as três primeiras músicas do setlist (“Prelude ~ Opening”, “Ami” e “Festival of the Hunt”), e, logo em seguida, deu uma pausa na performance para que Uematsu e sua intérprete retornassem para um rápido bate-papo.

Neste momento, foi perguntado a ambos como surgiu a ópera em piano, quais foram as primeiras impressões um do outro ao se conhecerem e um pouco de suas histórias e influências. Uematsu comentou que quando a idéia do projeto surgiu, ele correu atrás de alguém apto o suficiente para tocar suas músicas no piano. Foi aí que ele conheceu Nakayama e rapidamente se surpreendeu quando achou que o pianista, o qual havia estudado música clássica desde os 5 anos de idade, era muito mais divertido do que ele imaginava!

Nakayama por sua vez, comentou que jogava Final Fantasy desde quando era criança e, portanto, empenhava-se em estudar música para que tão logo sua mãe o liberasse para jogar videogame! Com o passar os anos, os títulos da série também o ajudaram com a aprendizagem sonora, e aos poucos, ele conseguiu tirar alguns temas dos jogos no piano, apenas escutando-os. Na escola de música, inclusive, seus colegas achavam-no um deus por tal feito! E por fim, anos depois quando finalmente conheceu Uematsu, ele próprio achou que estava diante de um deus!

Por último, Uematsu comentou brevemente sobre suas influências, sem deixar de confirmar que a música brasileira faz parte do seu repertório de inspirações. Só então o compositor e sua intérprete novamente se retiraram do palco e Nakayama voltou ao piano para continuar a apresentação. Após outras cinco músicas rearranjadas no piano (“Words Drowned by Fireworks”, “Town Medley”, “Not Alone”, “Cosmo Canyon”, “The Man with the Machine Gun”), houve um intervalo de cerca de 15 minutos, que mais pareceram uma eternidade, considerando a ansiosidade pelo que veríamos no Ato II do concerto.

Com o retorno da ópera, houve uma explosão de nostalgia na platéia com a música “Opening ~ Bombing Mission”, e, depois de uma alegre performance de “Kefka” e “Troian Beauty”; houve mais um intervalo. Desta vez, apenas Uematsu trouxe consigo o CD “Piano Opera Final Fantasy I-IX Piano Arrangement Album”, que estava sendo vendido no evento, e fez algumas brincadeiras com o objeto, incentivando a platéia a comprar o álbum. Findada a propaganda, mais um bloco voltado a conversas teve início, muito embora apenas o carismático e bigodudo velhinho tenha feito comentários, enquanto que Nakayama acompanhava discretamente o bate-papo dele com o público, tocando a lindíssima “Theme of Love” no piano.

5D3_6678-1024x683

O interlúdio da vez começou com uma sessão de comentários de fãs brasileiros, apontando suas músicas favoritas da série Final Fantasy e o porquê disso. Todavia, a cada mensagem lida pela intérprete, Uematsu complementava com um interessantíssimo comentário sobre a produção da canção em questão.

Sobre a conhecida “One Winged Angel”, por exemplo, o compositor revelou ao público que a equipe de produção de Final Fantasy VII achava-a demasiadamente tensa, e que eles ficaram receosos em colocá-la no jogo a priori a priori (Uematsu ainda complementou a frase brincando, dizendo que até hoje não sabe por que! rs). Todavia, quando ele teve a oportunidade de ouvir esta música sendo executada por uma orquestra e viu toda a repercussão que a música gerou, ele ficou muito feliz por terem deixado a música fazer parte do título. Já quando um dos clássicos temas da série foi citado, “Prelude ~ Opening”, Uematsu contou que foi obrigado a compor a música em cerca de 30 minutos, pois ele já havia finalizado a trilha sonora do game, mas seu chefe na época, Hironobu Sakaguchi, apareceu em sua mesa e exigiu uma música curta que seria o tema da tela de abertura do jogo, e que fosse entregue o quanto antes ainda por cima!

O velhinho ainda brincou, dizendo: “Se eu soubesse que Final Fantasy duraria tanto tempo assim, teria feito algo melhor…”. Por fim, quando “The Dream Oath ‘Maria and Draco’” foi comentado, o compositor disse que a letra dela foi escrita por Yoshinori Kitase (diretor de alguns jogos da série), e, apesar dele ter sido um pouco zoado pelos colegas da produção e também, pelo próprio Uematsu por conta do sentimentalismo na composição, a canção foi feita como uma declaração para a sua namorada, a qual por sinal acabou se tornando sua esposa depois (awn <3).

Outras canções apontadas nesse bloco foram “Eyes On Me” – que teve direitinho a uma palhinha do vozerão do Uematsu! –, além de “Terra’s Theme” e “Melodies of Life” (estas duas últimas, sendo citadas por Uematsu como suas favoritas). Ao pianista Nakayama, que foi chamado pela intérprete nesse momento, também foi perguntado qual era a sua canção favorita da série, a qual ele revelou ser “Dancing Mad”.

Enfim, após a conversa, Uematsu retornou aos bastidores junto de sua intérprete e, quando Nakayama assumiu o piano novamente, para a não surpresa do público, eis que as duas próximas músicas a serem tocada, foram justamente as favoritas dos dois artistas; “Melodies of Life” e “Dancing Mad”, respectivamente. Esta última, inclusive, me deixou arrepiada e sem fôlego de tão bem executada, já que ela é uma música complexa, longa e que exige muita habilidade e rapidez nos dedos – algo que Nakayama fez de maneira magistral. Além disso, esta primorosa canção foi também a última do setlist, o que encerrou oficialmente o Ato II da apresentação. E, como não poderia deixar de ser, logo em seguida, o público berrou aos montes pedindo por mais.

PIANO-OPERA-Music-from-Final-Fantasy-1024x562-720x395

Não demorou muito e Nakayama retornou para dar a César o que é de César: não uma, mas duas músicas de bis, “Force Your Way” e “Clash on the Big Bridge”. Com o encerramento mais do que satisfatório e incrivelmente digno, Uematsu voltou ao palco com a intérprete, e entre gracejos e encenações de propagandas da venda do CD do evento, agradeceu ao público ao lado de Nakayama, entre berros, assobios e aplausos que, se dependesse de mim, jamais parariam.

Agora que você já sabe o que aconteceu detalhadamente ao longo de todo o “PIANO OPERA: music from Final Fantasy”, vou deixar aqui algumas de minhas impressões, a começar pelo local do concerto, o Teatro Gamaro. Particularmente não acho que seja um local de difícil acesso, muito pelo contrário – ele é próximo de uma das avenidas mais famosas de São Paulo, e, por tabela, é localizado relativamente perto de estações de metrô. O que dificultou muito a chegada de vários membros da platéia foi o péssimo dia escolhido para a apresentação (uma quarta-feira) que, além de ser um dia comercial, é também oficialmente um dia predominado pelo futebol na cidade. Não bastasse isso, o trânsito massivo causado pela chuva que caiu também foi um fator que atrapalhou muita gente.

Falando do interior do local em si, achei o teatro muito bom para uma apresentação deste cacife, com uma acústica agradável para a congenialidade do piano (amplificado por microfones, aliás) – já não sei dizer se o mesmo ocorre com um concerto completo no palco. Fora isso, há porte para um número significante de pessoas, além de uma arquitetura simplista que permite a todos os setores (desde a platéia ao mezanino), enxergar muito bem a tudo que ocorre sobre o tablado. Minha única reclamação fica para os assentos, que possuem muita pouca dimensão entre si (considerando frente e os lados direito e esquerdo). Durante o intervalo entre os Atos do concerto, mal me arrisquei a levantar e respirar um pouco de ar externo, devido a este pequeno problema – e eu nem quero imaginar o perrengue que alguém de estatura alta e com longas pernas deve ter passado com isso…

Outro comentário que vale a pena ressaltar é o compromisso do público no evento em demonstrar sua empolgação com as músicas que eram tocadas. Senti maior animação, obviamente, quando as canções de Final Fantasy VII eram executadas, mas num geral; os gritos, os assobios e os aplausos no meio dos arranjos não foram um grande problema, pois achei que a platéia se comportou bem, até – e o cuidado em garantir a ampliação da performance do piano foi muito bem pensado, talvez, já antecipando esse tipo de comportamento.

Por fim, faço um comentário ao telão que exibia algumas cenas dos jogos da série, para ilustrar alguma música que era tocada por Nakayama ao longo da ópera… Ali, poderiam muito bem ter colocado uma legenda, indicando qual o nome da canção que estava sendo executada, ao invés de simplesmente mostrar cenas do título. Digo isso, pois era um tanto constrangedor quando a platéia reconhecia determinadas músicas apenas em segmentos específicos, o que tornava uma experiência que deveria ser animada (tipo a minha) em algo um pouco frustrante – a exemplo disso, durante o grand finale quando a icônica “Battle at the Big Bridge” foi tocada e, até mesmo o pianista brincou com o público durante a música; ninguém pareceu ter reconhecido a canção que ele estava tocando, e, portanto, não entraram na brincadeira também.

zNpBORo

Bem… Se você me perguntasse que nota eu daria para o “PIANO OPERA: music from Final Fantasy”, sabe qual seria? Ora, numa escala de 0 a 5, certamente seria 4,5 Mussarelas vestidos de Moogle com uma batuta conduzindo uma orquestra. Agora, resta aguarda ansiosamente para que um dia este concerto possa retornar e, que com essa porta que se abriu para além da costumeira Video Games Live; que a partir de então tenhamos cada vez mais apresentações deste porte no país.

Observações: como não fui ao evento como imprensa, eu não tive oportunidade de tirar fotos (o que, inclusive, só era permitido durante as três primeiras músicas). Vídeos estavam fora de cogitação, sendo estritamente proibido pela organização do evento. Desta forma, peguei algumas imagens do site Made in Japan para ilustrar a matéria, e a imagem do setlist é do site Final Fantasy Brasil.

Encontrou um erro?

Envie um email para contato@newgameplus.com.br com a URL do post e o erro encontrado. Obrigado! ;-)