QUBE

Q.U.B.E: Director's Cut

por Diogo Fernandes

Uma versão do diretor bem intencionada

Quem gosta de puzzle games sabe que, vez ou outra, passará por perrengues em que ficará preso em determinada parte. Precisará analisar o ambiente como um todo e planejar uma jogada mais elaborada para superar um desafio proposto, prontamente se frustrando logo após, voltando à mesa de operações dentro da cabeça. Uma sina que faz parte da diversão.

Jogos assim, puramente estratégicos e sem um elemento de história, costumam atrair um séquito de adoradores fiéis, mas para o grande público, podem passar desapercebidos. Isso se resolve com inteligência por parte da desenvolvedora, reformulando seu produto e preenchendo a lacuna que ficou faltando. Inserindo uma alma sofredora para compartilhar com jogador seus momentos de malogro.

Ao pegar Q.U.B.E: Director’s Cut para jogar, dois pensamentos podem pairar sobre mente do jogador. A primeira delas é obviamente o amado jogo da Valve, Portal, o segundo é o filme quase homônimo, “Cubo”, de 1997, que seria excelente uma mistura desses princípios, imaginando uma GlaDOS não só munida da sua crueldade cibernética como também um arsenal de salas forradas de lâminas, jatos de ácidos e lança-chamas.

O gameplay simples de se aprender auxilia o jogador a superar os puzzles cada vez mais complicados com o passar do jogo.

Entretanto, apenas o primeiro ponto se faz presente uma boa parte da jogatina, levando em conta que é praticamente impossível não relacionar os dois jogos. O que não é algo de todo ruim. Mesmo não sendo tão brilhante quanto a obra-prima da Valve, até porque poucos jogos são, Q.U.B.E: Director’s Cut deixa claro que presta uma sincera homenagem a Portal.

A nova versão do puzzle game em primeira pessoa da desenvolvedora Toxic Games, primeiramente lançado em 2011 para PCs, chega para o PlayStation 3 e para os consoles da nova geração trazendo não apenas novos elementos e desafios, como também insere uma narrativa dentro dos labirintos claustrofóbicos e cheios de quebra-cabeças em que o jogador precisa resolver.

Uma versão do diretor bem intencionada

GAMEPLAY PRIMEIRO, HISTÓRIA DEPOIS

De início, somos jogados de paraquedas dentro do mundo do jogo, conhecendo pouquíssima coisa referente ao personagem que controlamos, contando apenas com uma voz nos guiando o jogo inteiro (lembra algo?) pelo rádio do seu equipamento de astronauta. Há cerca de duas semanas desacordado dentro de uma estrutura extraterreste que se chocará com o nosso planetinha azul e inofensivo, somos despertados pela voz vinda de uma estação na Terra. A partir disso, a história se desenrola.

Apresentando a nossa única arma dentro do jogo, um par de luvas especiais que manipulam blocos e seus formatos, nos é dada também a motivação para passar de sala em sala superando os quebra-cabeças, a fim de evitar a destruição do nosso planeta (uma boa motivação, inclusive). O gameplay simples de se aprender auxilia o jogador a superar os puzzles cada vez mais complicados com o passar do jogo.

Mesmo não sendo tão brilhante quanto a obra-prima da Valve, até porque poucos jogos são, Q.U.B.E: Director’s Cut deixa claro que presta uma sincera homenagem a Portal.

Soam um tanto destoante, a principio, os níveis de dificuldade de cada puzzle no decorrer do jogo, indo dos mais simples para, logo em seguida, vir algo saído da cabeça do Belzebu, alguns desses congratulando o jogador com um merecido troféu. Essa diferença serve para dar um respiro de alívio após o sufoco anteriormente passado.

Inserido na Director’s Cut, a história é pouco desenvolvida, sendo um pouco melhor aprofundada já no terço final da campanha, parte do jogo onde os desafios já consomem todo o raciocino do jogador. É possível perder trechos da narrativa devido ao áudio do rádio comunicador tentar simular uma conversa a milhares de quilômetros de distancia. A falta de legendas, mesmo em inglês, atrapalha ao buscar o encaixe das partes da história narrada.

Uma versão do diretor bem intencionada

THE CUBE IS A LIE

Diferente de Portal, onde temos uma GlaDOS para nos infernizar o jogo inteiro, que aprendemos a adorar graças às suas tiradas que trazem algo relevante para o jogo, em Q.U.B.E, temos duas vozes que discutem no seu ouvido – uma dizendo que você está em uma missão no espaço para salvar o mundo e outra chamando o primeiro de mentiroso sujo, e que na verdade você está sendo levado para sua morte. Porém, infelizmente, isso em nada acrescenta ao jogo e as vozes nem possuem um carisma que faça com que o jogador se importe com qualquer um dos dois lados.

As semelhanças de Q.U.B.E com Portal não ficam apenas no aspecto de um jogo de puzzles em primeira pessoa, ele possui elementos originais e bem criativos na resolução dos quebra-cabeças. Assim, acaba não se tratando de uma cópia propriamente dita, e sim, prestando várias homenagens ao jogo da Valve, com direito até ao maldito incinerador.

A falta de legendas, mesmo em inglês, atrapalha ao buscar o encaixe das partes da história narrada.

O game que foi finalista de vários concursos de jogos indies conta com uma trilha sonora melancólica, ressaltando a solidão no espaço. Os gráficos estão bonitos em sua maioria, apesar de existirem partes onde as texturas estão um tanto pobres para um jogo da nova geração. Porém, nada que salte agressivamente aos olhos.

O jogo conta com suporte ao Oculus Rift evem com o DLC Against The Qlock, que traz mais 10 níveis de puzzles para serem completados com limite de tempo, dando uma longevidade a mais ao título.

Numa briga comparativa entre qualquer game com Portal, há um desnível sem tamanho onde nenhum rival faz frente aos dois jogos da Valve (tá aí o eterno medo do número 3 da empresa). Mas enquanto houverem espelhamentos dessa qualidade em jogos futuros de outras desenvolvedoras, certamente virá coisa boa a ser jogada. Q.U.B.E: Director’s Cut é um bom exemplo disso, apesar de ter seus problemas.

O game foi analisado no PlayStation 4, em cópia cedida pela Toxic Games.