Uncharted Lost Legacy

Uncharted: The Lost Legacy

por Edes WR

O melhor Uncharted!

Talvez o termo “aventura Sessão da Tarde” já não faça muito sentido nos dias de hoje, uma vez que a referência aqui é a uma época diário extinta na programação da TV em que as tardes eram reservadas para filmes de ação, aventura e caça a tesouros, tão comuns nas décadas de 1980 e 1990.

A série Uncharted sempre bebeu dessa fonte de inspiração, bem como Tomb Raider, e ambos acabaram se influenciando mutuamente, exceto pelo fato de que a franquia da Naughty Dog trazia um protagonista masculino. Agora, essa distância acaba de ficar no passado, com The Lost Legacy fazendo excelente uso dessa tradição.

O legado perdido

Chloe Frazer, ladra especializada em relíquias perdidas, aventureira, forte no mano-a-mano e na personalidade, falastrona e dona de uma beleza exótica que salta aos olhos, embarca na busca da joia denominada “Presa de Ganesh”, tanto pelo valor monetário quanto por motivos pessoais que envolvem o legado de seu pai. Nadine Ross, empresária do ramo paramilitar, sul africana de gênio difícil, durona e extremamente profissional, ex-líder da Shoreline com seu pequeno exercito mercenário, também busca reaver o legado paterno, mas como a CEO da empresa outrora herdada, mas perdida nos eventos de Uncharted 4.

Muito do senso de urgência da trama se multiplica em sua segunda metade, ampliando nosso interesse e preocupação com os envolvidos.

Ambas são mulheres donas de seus destinos, que acabam por unir forças a fim de se complementar na busca de seus respectivos legados perdidos. Essa é a premissa de Uncharted: The Lost Legacy, que não poderia ter trazido juntas duas personagens mais interessantes e apaixonantes do que Chloe e Nadine.

A seriedade e profissionalismo de uma em contraste com o humor acido e a ousadia da outra torna a aventura uma jornada divertida, empolgante, coesa e que nos leva não querer parar de jogar por um minuto sequer.

Tão importante quanto as protagonistas é a presença de um vilão crível, temível e afetadamente odioso como o revolucionário disfarçado de colecionador de arte Asav. Sua postura, atitudes e visual denotam seu caráter dominante e também machista em vários de seus diálogos durante o game, fato que serve principalmente para torná-lo ainda mais odioso.

Meio mundo aberto, meio linear

A série Uncharted, apesar de seus cenários vastos e exuberantes, nunca nos deu muito espaço no que diz respeito à exploração livre dos ambientes, nos mantendo sempre nos trilhos entre pontos distintos da trama. Em The Lost Legacy, o gameplay muda um pouco nesse aspecto, ao menos na primeira metade do jogo, nos apresentando uma área bem vasta, a qual podemos explorar a vontade com nosso jeep, concluindo objetivos que fazem parte da trama na ordem que bem entendermos, também encontrando tesouros e derrotando hordas de inimigos, ambos totalmente opcionais.

Essa nova abordagem permite que o jogador imprima seu próprio ritmo á aventura, dando espaço para que a construção do relacionamento entra as personagens seja natural e orgânica, com diálogos condizentes com cada situação em que se encontram. Aqui, ficamos sabendo muito do passado de cada uma, os porquês de suas jornadas e o que esperam uma da outra. Espere por muitas referencias a jogos anteriores da série e até troca de figurinhas sobre relacionamentos e amores passados.

Do ponto de vista de gameplay, The Lost Legacy é exatamente o mesmo game que Uncharted 4, mas leva adiante suas boas ideias e introduz novos conceitos.

Já na sua segunda metade, com amizades e oposições bem definidas, o jogo se volta para a formula mais “linear” da franquia, mas com uma grande lição aprendida, mantendo a aventura focada sem grandes desvios ou sessões de tiroteio demasiadamente longas. Muito do senso de urgência da trama se multiplica, ampliando nosso interesse e preocupação com os envolvidos.

Deixar de ser uma DLC do quarto game para se tornar um título quase independente ainda faz com que el seja um pouco mais curto (com por volta de oito horas de duração), mas também contribuiu para que as melhores ideias da série, assim como novas mecânicas, fossem bem trabalhadas e exploradas sem se perderem em uma mar de horas de gameplay apenas escalando ou empurrando caixas.

Quem construiu isso?

Uncharted The Lost Legacy

Do ponto de vista de gameplay, The Lost Legacy é exatamente o mesmo game que Uncharted 4, seja nas partes com um ou com dois companheiros controlados pela I.A. e até mesmo nos problemas, como quando, durante uma infiltração furtiva, os inimigos não dão a mínima para sua parceira saltando sem nenhum cuidado para lá e para cá pelo cenário. Durante as sequências de combate e tiroteio, a I.A. também se comporta exatamente como visto no game anterior, não atrapalhando mas também não sendo de grande ajuda.

Já nos puzzles, outra marca registrada da série, a suspensão de descrença passa um pouco dos limites, apesar de serem divertidos, desafiadores e bem variados. Mecanismos gigantescos que tomam salões enormes, registros que abrem e fecham aquedutos a quilômetros de distância, jogos de sombras que formam painéis históricos, entre outros exemplos.

Tudo muito exuberante, porém, nem um pouco funcional ou prático dentro do contesto das civilizações representadas. Fica difícil imaginar como tais mecanismos foram construídos e com qual objetivo, e então somos jogados para fora da imersão, nos dando conta de que aquela engenhoca só esta ali para impedir nosso avanço e não com um contexto.

Longe do fim

The Lost Legacy abre as portas para um mundo de possibilidades com a dupla Chloe, Nadine e seja mais quem for o terceiro membro da equipe, independente da aposentadoria do protagonista original, Nathan Drake. Como dito no início desta análise, Tomb Raider tem forte influência no desenvolvimento da série Uncharted, e termos duas protagonistas femininas extremamente marcantes, agora, traz um ar nostálgico e ao mesmo tempo de novidade.

O título representa um apanhado muito bem executado do melhor que fez de Uncharted um clássico moderno. Isso também torna The Lost Legacy uma obra memorável e imperdível, deixando a porta aberta para muitos outras sequências.