Existe uma tendência um tanto esquisita no mundo dos games que indica que os anos ímpares são sempre períodos de grandes lançamentos e títulos gigantescos. Olhando para trás, em 2013, tivemos The Last of Us, Grand Theft Auto V e BioShock Infinite. 2011 foi a vez de Portal 2, The Elder Scrolls Skyrim e Batman: Arkham City. E assim por diante, vocês entenderam o ponto.

2015 não foi nada diferente, e desde o começo do ano, tivemos uma verdadeira invasão de títulos grandes, dificultando nossa vida financeira e social na medida em que saíam com intervalos curtos, de cerca de um mês entre um e outro. Haja tempo, haja dinheiro e, acima de tudo, haja hype.

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E é justamente esse último aspecto que trouxe consigo um movimento que motivou boa parte das discussões sobre jogos ao longo de 2015. Em uma adição inédita à tendência de jogos grandes e números ímpares, veio também algo inédito – em março, já tínhamos o melhor jogo do ano, Bloodborne. Ou não, pois em maio vinha The Witcher 3: Wild Hunt, e esse sim era o GOTY. Ou não, porque Batman: Arkham Knight estava a caminho. Ou Metal Gear Solid V: The Phantom Pain, ou Fallout 4, ou Star Wars Battlefront. Você escolhe.

Em 2015, teve praticamente um “melhor jogo do ano por mês”. E, em 2015, também teve muita decepção por causa disso.

Nem todos são bons o tempo inteiro

Apesar de ser um comportamento que tomou força neste ano, a primeira vez que me lembro de um game ter chegado com a força e, pior ainda, a responsabilidade de ser GOTY antes mesmo do lançamento foi Destiny. Lançado em setembro de 2014, a primeira obra da Bungie pós-Halo prometia um mundo gigantesco e jogadores ligados pelo resto da vida em um MMO de tiro para consoles.

A presença de Peter Dinklage, edições especiais absurdas e expansões ainda mais gigantescas prometiam o mundo. E aí Destiny chegou, como um ótimo jogo, sem dúvida alguma, mas também com um enredo que não prendeu muita gente e uma jogabilidade que pareceu efêmera, principalmente depois que a Bungie e a Activision revelaram já estarem trabalhando em uma sequência. Por todo lado, os que caíram no hype inicial gritaram como Hércules.

E assim se seguiu ao longo do final do ano passado e todo este ano de 2015. Desde The Order: 1886, todos os títulos AAA a serem lançados vinham com a missão de serem o GOTY, até desapontarem os fãs que tanto os esperavam. Isso, no fim das contas, acabava transferindo essa missão para o próximo jogo e, com raras exceções, todos se mostraram não tão bons quanto o que era esperado deles, gerando um caminhão de decepção.

Novos capítulos de uma franquia consagrada também não são garantia de nada. Fallout 4 é exatamente como Fallout 3, para o bem e para o mal, e no fim das contas, se parece mais com um jogo da velha geração. Batman: Arkham Knight mandou bem, mas e aquele Batmóvel hein? Metal Gear Solid V: The Phantom Pain marcou o fim dos trabalhos de Hideo Kojima na Konami, mas com a jogabilidade fluida, veio também uma história rasa para os padrões da franquia e uma repetição de conceitos quase absurda. Em sua maioria, todos os games foram, realmente, grandes. Mas também eram enormes seus poréns.

E, na esmagadora maioria das vezes, também, o hype que gerou essas ambições de GOTY não vieram das próprias desenvolvedoras. É lógico, que empresa não gostaria de ver seu game coroado como o melhor do ano? Mas por outro lado, fazer isso de forma antecipada não apenas colocaria grande peso sobre o próprio título, como geraria uma competição que não seria muito saudável para o mercado. Ainda assim, ela aconteceu, e sempre na cabeça dos fãs.

Não dá para saber ao certo o que motivou esse movimento, mas talvez, ele tenha a ver com uma citada, mas nem sempre comprovada, ausência de jogos para a nova geração. Principalmente quando se fala de remasterizações de títulos de PS3 ou Xbox 360 para os consoles atuais, é um comentário comum o de que não temos games para jogar. Mas, como já evidenciamos, em 2015 tivemos pelo menos um AAA por mês, além, é claro, das dezenas de outros jogos menores que saem todos os dias.

Outro ponto a se pensar, talvez, seja o alto preço dos games no Brasil. O ser humano tem uma tendência natural a valorizar de forma extrema aquilo que possui, ao mesmo tempo em que minimiza o que não está ao alcance, para se sentir melhor com isso. Ao comprar um título por R$ 250, deve existir uma vontade inerente de que ele seja fantástico, principalmente quando se investe esse valor antes mesmo do lançamento, e mesmo que ele não seja tanto assim. Mas, aqui, divago.

Os esquecidos

Além da decepção em si, um outro ponto extremamente negativo desse “compromisso” de todo AAA de ser o melhor jogo do ano, imposto pelos fãs, é o simples esquecimento de outras propostas menores, ou não, mas de maior qualidade. Em meio a discussões entre fãs sobre qual será o GOTY, outros títulos com tanto potencial para levarem a taça, ou até mais, acabam passando despercebidos.

E isso é algo que acontece até mesmo com jogos grandes, como foi o caso de Rise of the Tomb Raider. O novo game de Lara Croft acabou esmagado, não apenas sob o peso de uma exclusividade que tem data para acabar, mas também entre os lançamentos de titãs como Fallout 4 e Star Wars Battlefront. Pouca gente prestou atenção no título que, aqui no NGP, foi elogiado como um dos melhores e mais consistentes do ano, ficando com nota 9,5.

O mesmo aconteceu com Life is Strange, game da Dontnod que chegou devagarinho para surpreender e, na minha opinião, é o melhor jogo de 2015. Aqui, porém, um dos grandes assassinos foi justamente o calendário mal programado, já que alguns dos episódios da história coincidiram com a chegada de nomes de peso como The Witcher 3 e Batman: Arkham Knight.

Mais uma vez, ninguém prestou atenção no game, mas quem o fez pôde conferir uma trama com um envolvimento como pouco se vê por aí, apesar de alguns bugs e gráficos pouco realistas. A imprensa até elogiou o título, e aqui no New Game Plus, ele fez muito sucesso em nosso canal, mas ficou longe de ter a tração que merecia.

Inúmeros outros exemplos se encaixam aqui, pelos mais diversos motivos. Todo mundo tem a sua pérola escondida, e em 2015, muitas delas realmente acabaram ocultas diante do rolo compressor de AAAs que vinham com a promessa de ser um GOTY. E quando a realidade não se provava tão promissora quanto os sonhos, os jogadores seguiam para o próximo vagão do trem do hype, em vez de prestar atenção nos pequenos.

A apoteose da indústria

Chegamos, então, ao final do ano, e a mais um The Game Awards. A cerimônia, que acontece na madrugada do dia 4 de dezembro, vai, finalmente, decidir exatamente qual o melhor jogo do ano e, potencialmente, acabar com a discussão de 2015. Ou não, já que para muita gente, o que importa é a própria opinião, e não a de uma premiação. E esse tipo de pensamento não é errado.

Por outro lado, não tem como ignorar a importância do prêmio. Assim como o Oscar define, no final das contas, qual foi o melhor filme do ano e acaba chamando a atenção para produtores, atores, diretores e roteiristas, a mesma coisa vale para o The Game Awards. Uma estatueta entregue por Geoff Keighley naquele palco pode fazer a diferença para a produção de sequências, exclusividades, temas, abordagens e estilos.

The Game Awards

É uma pena que o tal hype considerado nocivo durante todo o ano também faça sua presença aqui. The Walking Dead, por exemplo, levou a taça no lugar do ótimo Journey, e eu ainda não consigo aceitar que The Elder Scrolls V: Skyrim foi escolhido no lugar de Portal 2. Tudo indica que, agora, não vai ser diferente.

É claro, a opinião sobre qualidade vai de cada um, mas temos ausências importantes entre os cinco indicados a game do ano. Por outro lado, títulos que não merecem o prêmio estão lá concorrendo a ele, e o resultado só Deus sabe, principalmente quando se fala de uma premiação com grandes e questionáveis laços com membros da indústria, incluindo indicados, que têm grande interesse em uma estatueta.

Enquanto isso, aguardamos a partida para o trem do hype 2016. As loucuras que vimos ao longo de 2015 deram uma cessada após o lançamento de Fallout 4, provavelmente devido ao fato de o próximo lançamento ainda estar à distância, com Street Fighter V abrindo as porteiras do ano que vem apenas em 16 de fevereiro.

Depois, tem The Division, Uncharted 4, Quantum Break, Dark Souls III, No Man’s Sky e Deus Ex: Mankind Divided. Será que vai faltar troféu de novo, ou por ser um ano par, será hora de o hype finalmente dar uma descansada para voltar apenas em 2017?

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