Boa parte da marmanjada que hoje joga videogame cresceu na década de 80 ou viu os ecos dessa época no início dos anos 90. Não é à toa muito do conteúdo criado nesse período é cultuado até hoje, seja porque era realmente bom ou porque gostamos de nos enganar com aquele saudosismo bacana.
Então é fácil entender por que todo mundo surtou com a notícia de Alien: Isolation contará com um DLC que traz os personagens do clássico Alien: O 8º Passageiro — que é de 1979, na verdade, mas entra na conta mesmo assim. O filme de Ridley Scott faz parte de uma lista de clássicos do cinema que marcou toda uma geração, o que faz com que sua “adaptação” seja mais do que merecida.
Só que há lista ainda enorme de outros títulos importantes que deveriam receber um tratamento semelhante. Os anos 80 é terreno fértil de coisa boa, seja com adaptações ou como forma de inspiração. Far Cry 3: Blood Dragon está aí para não nos deixar mentir — assim como Rambo: The Video Game nos lembra que há muita coisa ruim que pode dar a volta e ficar genial.
Assim, fomos resgatar em nossas memórias, nos VHS antigos ou na programação da semana da Sessão da Tarde para ver quais outros clássicos do cinema dos anos 80 deveria ganhar vida nova nos consoles.
Cobra
Esta não seria uma lista de respeito se ela não fosse aberta com o filme que melhor representa aquela década dourada. Stallone Cobra não é apenas o ápice da carreira de Sylvester Stallone como também resume muito bem o espírito brucutu que dominava aquela época.
E, para ser sincero, parte dessa nostalgia em relação ao filme se dá principalmente por conta de seus diálogos, sobretudo na clássica dublagem que chegou aqui. Assim, para levar Cobra para os videogames, o único requisito básico é que tenhamos aquelas vozes sendo aplicadas naquelas mesmas falas — nem que isso signifique retirar os áudios do Blu-Ray.
Não é preciso ir muito longe para imaginar como seria a adaptação. Como boa parte dos filmes de ação dos anos 80, Cobra é um shooter genérico com doses cavalares de galhofagem, o que faz com que seu jogo tenha de seguir o mesmo caminho. É quase como se refizessem Duke Nukem Forever, só que direito.
Falcão: O Campeão dos Campeões
Se ainda tem gente chorando por um novo Full Throttle, por que não trazer o espírito do clássico adventure e adaptá-lo em outra pérola da carreira de Stallone. Falcão: O Campeão dos Campeões se encaixaria perfeitamente nessa proposta, apenas substituindo a gangue de motoqueiros por um caminhoneiro — o que é muito mais legal.
Com essa mecânica Point and Click, o jogador não só poderia interagir com vários objetos e personagens do cenário, como se aprofundar na densa narrativa do clássico, acompanhando a triste história de Falcão em sua luta para reconquistar o amor de seu filho.
E não poderíamos deixar de fora a parte mais legal do filme: as disputas de queda de braço. Para isso, não há outra alternativa além de apelar para os famigerados Quick Time Events, o que pode acabar com um pouco da emoção. Para compensar, os acertos ajudam a encher uma barra secundária que, quando cheia, permite que você vire seu boné para trás — e quando você vira seu boné, você vira uma máquina.
Rocky
Fechando a trilogia Stallone, nada melhor do que o único filme que rendeu um Oscar ao boca torta. A hexalogia (?) do pugilista fracassado que se torna um astro da noite para o dia e volta a se tornar um nada até a luta de redenção é uma metáfora à própria carreira do ator. Sendo assim, nada mais justo do que vermos o icônico Rocky Balboa aparecendo decentemente nos consoles.
A série até ganhou um jogo para PlayStation 2, mas ele era tão ruim que vamos desconsiderar sua existência e imaginar algo novo e digno da franquia. Sendo assim, a primeira coisa que nos vêm à mente é Ignite, aquela engine linda que a Electronic Arts está usando em seus jogos de esporte.
Com ela, teríamos um Sylvester Stallone ultrarrealista em seu PS4 e Xbox One, então bastaria apenas corrigir o sistema de impacto visto em EA Sports UFC e adaptar a mecânica de Fight Night para recontar toda a saga do Garanhão Italiano dentro e fora dos ringues.
Daria até mesmo para criar um modo carreira para consertar a bomba que foi Rocky 5. Assim, você criaria seu próprio personagem para ser treinado por Rocky enquanto ele acha que vai morrer de alguma doença que é ignorada no filme seguinte.
Os Goonies
Outro grande clássico da Sessão da Tarde e um dos ícones do cinema de aventura dos anos 80, Os Goonies já virou jogo em 1986, mas estamos falando de algo mais moderno e com tudo aquilo que a nova geração tem a oferecer.
O mais divertido é que a história permite que a adaptação flerte com vários gêneros. Assim, poderíamos ter um RPG — aproveitando todo o conceito de exploração em grupo visto no filme — com altas doses de aventura e ação. E nem é preciso ir muito longe para imaginar como isso pode dar certo.
Em outras palavras, um jogo de Os Goonies poderia ser quase um sucessor espiritual — ainda que bem distante — de Earthbound, o RPG cult da Nintendo. Basta ter aquele clima descompromissado, uma grande dose de bom humor e tudo aquilo que a nostalgia exige.
Duro de Matar
Em uma época em que os jogos de tiro se resumem a pegar uma metralhadora e atirar feito um imbecil enquanto avança por um longo corredor, Duro de Matar poderia ser uma ótima lição para os fãs de FPS de que é preciso de muito mais do que um dedo no gatilho para sobreviver.
E nem é preciso se estender à toda a série para render um bom jogo. O primeiro filme, de 1988, já rende material o suficiente para um game tenso e bastante desafiador. Misturando stealth com estratégia, o jogador precisa se manter invisível enquanto explora o sistema de segurança de um prédio enquanto um grupo fortemente armado mantém todo mundo refém.
Esse foco na ação silenciosa e nos passos cuidadosamente pensados já são o suficiente para fazer com que Duro de Matar se torne um FPS muito mais interessante que a grande maioria que chega ao mercado.
Karate Kid
Faz tempo que não temos nenhum bom Beat ‘em Up chegando ao mercado, então a saga de Daniel-san poderia muito bem preencher essa lacuna. Não é preciso fazer nada muito elaborado, o que faz com que Karate Kid possa ser lançado sem problemas apenas na PSN e na Live.
Em resumo, o herói deveria avançar pelas fases dando porrada na moçada e realizando pequenas atividades indicadas pelo Mestre Miyagi. Com isso, ganharia pontos de experiência para adquirir novos movimentos, como o Golpe da Garça.
Depois de terminar a campanha, você pode desbloquear o modo Reverso e jogar com o Johnny o loirinho do Cobra Kai, o verdadeiro Karate Kid. E talvez lancem um DLC com o filho do Will Smith.
Curtindo a Vida Adoidado
É difícil imaginar que gênero se encaixaria melhor no filme que melhor resume os anos 80. É porque o longa é tão bom que chega a ser um crime fazer mudanças para a adaptação.
Assim, a melhor solução é não transformá-lo em um jogo, mas em “uma experiência interativa” — ou qualquer outro termo bacana que o David Cage adore fazer. Se a Quantic Dream já jogou o conceito de gênero pelo ralo com Heavy Rain e Beyond, que tal usar esse poder para o bem e nos deixar controlar (mesmo que só um pouquinho) Ferris Bueller enquanto ele tenta matar aula. Pense só na apoteose que Cage vai transformar a cena em que Matthew Broderick canta Twist And Shout.
David Cage dirigindo um jogo de Curtindo a Vida Adoidado: EU ACREDITO! (Contanto que ele não queria trazer à tona a discussão de que Bueller nunca existiu, sendo apenas uma projeção dos desejos de Cameron Frye).
Caverna do Dragão
Ok, não é um filme.
Ok, ele é inspirado em Dungeons & Dragons, que já virou uma dezena de jogos.
Mas eu quero um jogo de Caverna do Dragão!
Não há como errar. Basta reunir os personagens originais e colocá-los em um mundo fantástico repletos de criaturas que já vimos em outros RPGs. É só fazer isso e todos os fãs vão chorar até não poder mais. E, se alguém prometer que o jogo vai trazer o final verdadeiro da série, as vendas triplicam.
A solução mais fácil para essa adaptação seria um Beat ‘em Up ao estilo do que vimos em Dragon’s Crown. Só que Hank, Eric, Presto e companhia merecem muito mais que isso. Esse jogo mais simples pode até ser um prequel para a aventura maior, que funcionaria muito bem como um grande RPG, ao estilo de Dragon Age ou Dragon’s Dogma — repare que a quantidade de “dragões” no nome não é uma mera coincidência.
Se o estúdio responsável pelo game pegasse esse conceito e utilizasse um visual desenhado (semelhante ao que a Namco sempre faz com Naruto, por exemplo), já temos o GOTY inexistente que todos queremos ver — embora uma adaptação mais realista também possa ficar muito boa.