Crazy Taxi era um dos títulos essenciais do Dreamcast. Um dos primeiros jogos de corrida de mundo aberto lançados, chegou aos arcades do Japão em 1999, mas fez mesmo sua fama no console da SEGA e acabou relançado para a maioria dos video games desde então. O status de clássico, porém, se restringe apenas ao título original da série, com suas sequências ou novas versões falhando em vendas e crítica.
Muito tempo se passou, a SEGA deixou o campo dos consoles de mesa e, enquanto os video games amargam diversas sequências de baixa qualidade, boa parte de seus jogos de qualidade acabaram restritos às plataformas mobile. E foi justamente sobre elas que o criador Kenji Kanno se debruçou e apresenta agora Crazy Taxi: City Rush, o primeiro titulo da franquia focado especialmente nos celulares e tablets.
Inicialmente, pode parecer o bom e velho game, agora repaginado. Após alguns minutos de jogatina, porém, dá para perceber que as mecânicas atuais aplicadas pela desenvolvedora Hardlight vieram não apenas para atualizar a fórmula, algo que é bastante positivo, mas também transformá-la em algo diferente do que estamos acostumados. E isso acaba não sendo lá muito agradável.
Crazy Taxi: City Rush pode ser definido rapidamente como uma mistura entre game de corrida e endless runner. Sai o controle livre dos jogos anteriores e entra uma jogabilidade baseada em trilhos, no qual o objetivo é desviar do trânsito e coletar moedas pelo caminho. Deslizar o dedo pela tela permite a mudança de faixas, enquanto pressionar as laterais do display permitem que o jogador faça curvas ou realize drifts.
As mecânicas atuais aplicadas pela desenvolvedora Hardlight vieram não apenas para atualizar a fórmula, algo que é bastante positivo, mas tambem transformá-la em algo diferente do que estamos acostumados.
É uma mudança extremamente bem-vinda e, principalmente, bastante criativa para os problemas de precisão que sempre acompanham títulos mobile. Não, não é legal ficar virando o aparelho como um volante de carro e a mudança aplicada pela Hardlight transforma Crazy Taxi: City Rush não apenas em uma nova versão de uma fórmula clássica, mas também em algo diferente do que normalmente se vê em jogos de corrida para celulares e tablets. Além disso, é uma mecânica que deve ser copiada no futuro.
Por outro lado, sai também o velho sistema arcade, no qual o jogador percorre a cidade livremente em busca de passageiros, coletando aqueles que desejar e levando-os ao destino de forma livre. Apesar de missões como estas ainda existirem no game, elas são minoria, e foram substituídas por um sistema baseado grandemente em objetivos.
E é aqui que se encontra um dos principais problemas do título: a repetição. Apesar do visual descolado, Crazy Taxi: City Rush apresenta pouca variedade de personagens e destinos. Na maioria das vezes, o jogador se verá trafegando pelas mesmas ruas e levando os mesmos passageiros aos mesmos lugares. A sensação de deja vu é constante.
Nada impede que você siga por caminhos diferentes do que o indicado, é claro. A exploração até mesmo é incentivada em algumas das informações que aparecem na tela durante a jogatina, mas fazer isso normalmente implica em seguir por caminhos errados e levar mais tempo do que o necessário para entregar os passsageiros. O resultado é um total de pontos menor e, muitas vezes, até mesmo a falha nas missões.
Com o tempo, novas regiões e cidades são abertas, mas a sensação de frescor é apenas momentânea e você rapidamente se verá conhecendo as regiões de cabo a rabo, de tanto levar passageiros para os mesmos lugares repetidas vezes.
Caímos, então, no sempre criticado muito das microtransações. Não há problema algum em uma desenvolvedora, seja ela qual for, escolher um modelo diferente de negócios, preferindo oferecer seus jogos gratuitamente e cobrar dos jogadores por melhorias e itens extras. O problema é quando esse tipo de sistema acaba transformado em uma mecânica restritiva, e esse é exatamente o principal problema de Crazy Taxi: City Rush.
Praticamente tudo no game depende de dinheiro de verdade e existe um certo limite até o qual o dinheiro virtual é capaz de te levar.
O tanque dos táxis é capaz de suportar apenas quatro “unidades” de gasolina por vez, e cada corrida consome uma delas. Entra, aqui, uma das principais características odiadas dos jogos free-to-play, os famigerados tempos de espera, que incentivam os jogadores a usarem dinheiro de verdade para garantirem a continuidade da jogatina naquele momento.
O problema é que, por si só, Crazy Taxi: City Rush é uma oferta consistente o bastante para compor um game completo. E eu, pessoalmente, pagaria alguns dólares para poder jogar sem restrições. Mas, pelo contrário, não estou disposto a investir dinheiro constantemente para ficar reabastecendo meu carro, de forma a garantir um tempo maior de jogatina. Esse sistema pode ser bem mais interessante para a SEGA, mas no caso dos jogadores, a conta não fecha.
Praticamente tudo no game depende de dinheiro de verdade e existe um certo limite até o qual o dinheiro virtual é capaz de te levar. Muito rapidamente, você se verá em uma situação na qual upgrades e melhorias para o carro custam um pouco caro demais, enquanto a dificuldade das missões não acompanha essa progressão de forma simétrica. Aqui, são duas as alternativas: repetir as mesmas missões para “farmar” moedas, ou então, abrir a carteira.
É o mal de praticamente todo título free-to-play lançado pelas mãos de grandes empresas, e uma crítica já feita aqui no NGP a outros jogos, como Trials Frontier, por exemplo. Infelizmente, é uma mecânica que parece cada vez mais ser a norma entre os jogos mobile, o que acaba por restringir o jogador e impedir uma experiência decente com títulos que, de outra maneira, poderiam ser bastante interessantes.
Ao lado da jogabilidade divertida e insana, a trilha sonora era o principal ponto forte do Crazy Taxi original. Com faixas de grandes bandas como The Offspring, por exemplo, o título era daqueles que dava vontade de deixar ligado apenas por causa das músicas. Com City Rush, é a mesma coisa.
A diferença é que, aqui, as canções vêm de bandas de hardcore praticamente desconhecidas do grande público, mas que apresentam tanta qualidade quanto os grandes nomes do game original. Nomes como Courage My Love e State Champs, com certeza, deixarão o game diretamente para seu player preferido.
Os gráficos seguem a mesma pegada e, apesar de terem sido refeitos completamente para essa versão mobile, apresentam aquele toque reconhecível do jogo de 1999. Mesmo com a repetitividade já citada, o resultado é bem bonito e representa o que há de melhor em termos de visuais mobile. Um show para os olhos, com toda a certeza.
O resultado é um título bastante divertido, mas que você possivelmente não vai conseguir aproveitar por muito tempo. Seja devido às medidas restritivas aplicadas pelo sistema de microtransações ou pela repetição de missões, Crazy Taxi: City Rush acaba sendo um daqueles games que você vai afirmar aos amigos que jogou um pouquinho, mas acabou deixando de lado. Uma pena, pois ele merecia mais.
Este game foi analisado no iOS.