Nessa segunda parte do especial “Lendas dos Jogos”, o foco continua sendo Final Fantasy VIII, mas desta vez, a lenda envolve o protagonista do jogo, Squall Leonheart. Ele, de acordo com uma teoria, teria morrido ao final do primeiro dos quatro CDs do jogo. Mas afinal, por que é que existe essa lenda? Ela tem algum sentido?
A teoria
No fim do primeiro CD, ocorre a primeira batalha contra Edea. Após Irvine falhar em acertar um tiro na feiticeira com sua sniper, Squall parte desesperadamente atrás dela, em busca do combate direto. Após o jogador “vencer” a batalha, uma cutscene é mostrada, e nela, a personagem, usando sua magia, crava uma estaca de gelo no peito de Squall, como mostra a cena abaixo.
Após isso, Squall acorda em uma prisão no deserto, completamente curado e sem nenhuma ferida em seu corpo. Em momento algum do jogo é explicado como Squall foi curado, já que poderiam ter usado um Phoenix Down, Elixir ou até mesmo a magia Curaga para isso. Mas, em uma situação semelhante em FF7, Aeris morreu apos ser empalada por Sephirot, que a rigor, também poderia ter sido revivida da mesma maneira, mas não foi. Afinal, será que isso pode ser um indício de que Squall teria de fato morrido e o resto do jogo seria um sonho?
A teoria sustenta que, antes de morrer, Squall ficou em um estado de coma profundo, tendo delírios diversos, os quais seriam exatamente os acontecimentos dos CDs 2, 3 e 4 do jogo. Mas é claro que ela apresenta falhas, mas antes delas, vamos falar dos pontos que sustentam a teoria.
Squall está morto!
Um destes pontos é a enorme quantidade de fatos surreais que começam a acontecer no jogo, como feiticeiras de tempos distantes vindo para o presente, viagens espaciais, locais sendo atingidos por mísseis… Mesmo considerando que Final Fantasy traz em seus enredos elementos de surrealismo, de fantasia e afins, a partir do segundo CD, tudo começa a ficar ainda mais fantástico do que já era no primeiro. Talvez pela evolução da trama e pela crescente dos acontecimentos envolvendo os SeeDs e as feiticeiras, mas é fato que a partir do fatídico momento, tudo se torna mais bizarro ainda.
Outro ponto é que, para alguns jogadores, Edea teria curado Squall para interrogá-lo. Porém, quando ocorre a primeira batalha entre Squall e ela, o protagonista é apenas um mero soldado novado dos SeeD, tendo praticamente zero informações a respeito de estratégias e afins para passar para a feiticeira. Ou seja, curá-lo para interrogatório seria algo praticamente inútil naquele ponto, e deixá-lo morrer seria muito mais cômodo para Edea e seus objetivos.
Entretanto, o argumento mais forte que sustenta a teoria que Squall morreu é a cutscene final do jogo. Todo mundo já deve ter ouvido aquela história que momentos antes da morte, a sua vida passa diante de seus olhos. Bem, é exatamente isso que acontece com Squall. Vários flashes de momentos marcantes da vida dele são mostrados na cutscene, incluindo Rinoa, a quem ele conhecera a um tempo relativamente curto antes de ser atacado por Edea.
Na cena final do jogo, toda vez que Squall tenta ver Rinoa, seu rosto está embaçado ou distorcido. Quase como um “reset”, a mente de Squall tenta repetidamente enxergar o rosto de Rinoa, tentando lembrar de uma pessoa, de um relacionamento, de laços afetivos que nunca existiram de fato. No fim, como se seu sonho estivesse terminando e ele estivesse chegando mais perto da morte, uma luz branca aparece envolvendo Squall, algo que é comum do imaginário ao se pensar em uma pessoa rumando para a morte.
É interessante notar, como o desfoque do rosto de Rinoa durante a cutscene final, dá certa sustentação para a teoria que Squall está morto. Isso também apóia, de forma ainda mais concisa, a teoria de que Rinoa é Ultimecia.
Outra cena que ajuda a sustentar essa teoria, é o trecho final da cutscene, onde, há uma reunião, uma festa em Balamb Garden, onde todos os personagens estão comemorando a volta da paz ao mundo. Squall não é mostrado interagindo com os outros personagens, e ninguém o vê, apenas Rinoa, que caminha até ele em uma sacada no local, onde os dois se beijam no encerramento da cena. Seria esse o paraíso para o qual Squall foi após sua suposta morte?
Squall está morto?
Ao contrário de R=U, a teoria que afirma que Squall morreu no fim do primeiro CD tem muito mais furos e contestações do que evidências de que ajudam a torná-la plausível. Os próprios acontecimentos do jogo, o desenrolar da história, envolvimento dos personagens é muito complexo para ser apenas um sonho ou um delírio pré-morte de Squall.
Há momentos em que Squall sequer está presente nos acontecimentos, como alguns dos flashbacks de Laguna, ou ainda momentos em que outros personagens passam a ser o centro da ação principal, mesmo que por um breve momento. Exceto pelo ferimento causado pela estaca de gelo, todas as afirmações que sustentam a teoria são “facilmente” desmentidas.
Por exemplo, a cutscene final, com Squall tentando “se lembrar” de Rinoa e de uma relação de afeto que eles nunca tiveram e de momentos que eles nunca viveram. Ele não conseguia enxergá-la e alcançá-la pois estava perdido no tempo/espaço após a derrota de Ultimecia, que desencadeou a separação de passado, presente e futuro.
Squall, desnorteado e atônito, buscava regressar ao seu tempo, e Rinoa representava justamente o que de mais precioso havia em sua época. Ele tem dificuldades para vê-la, pois a descompressão do tempo tornou tudo muito confuso, e aliando isso aos problemas de memória causados pelo uso dos Guardian Forces, configurou-se a dificuldade em enxergar o rosto de sua amada.
A verdade é que como, muitos bons jogos, Final Fantasy VIII traz uma trama complexa, cheia de alternativas e com muitas coisas que ficam sub-entendidas, mexendo com o imaginário dos fãs e fazendo com que teorias como esta fiquem na cabeça dos fãs mesmo hoje, mais de 15 anos pós o lançamento do jogo.
Mesmo com declarações da Square, e com contradições, essas teorias ainda hoje se sustentam porque fazem com que fiquemos com o pensamento aflorado na cabeça durante muito tempo, tentando encontrar conexões que as sustentem ou fatos que as derrubem. Então, cabe a cada fã buscar por informações, analisar e chegar a suas próprias conclusões a respeito dessas teorias sobre Final Fantasy VIII e tantos outros jogos fantásticos que dão abertura a esse tipo de interpretação.