Quando eu era criança, parte da minha diversão era escrever histórias que misturavam o meu mundo com o de Dragon Ball. Eram pequenas fanfics (embora eu não tivesse a menor ideia disso na época) que colocavam o pequeno Durval ao lado dos heróis que via na TV, soltando Kamehamehas e salvando o mundo de um vilão que queria explodir o planeta. Um passatempo bobo e infantil que muita gente certamente compartilhou e que, finalmente, vai ganhar vida depois de tanto tempo.
Pela primeira vez na série, Dragon Ball Xenoverse vai permitir que que criemos nosso próprio personagem para lutar ao lado de Goku e companhia. Definir seu visual, seu estilo de luta e seus poderes. Evoluir suas habilidades para se tornar o ser mais poderoso do universo. É o sonho de toda criança se tornando realidade. Mas por que tanta demora para isso?
Para o gerente de marca da Bandai e produtor do game, Jason Enos, era tudo uma questão de timing. Segundo ele, a chegada da nova geração trouxe um potencial que não tínhamos até então e isso permitiu aos desenvolvedores ir além do básico e apostar em algo diferente – e arriscado – daquilo que tínhamos visto até então.
Só que essa mudança não é motivo para preocupação, já que sempre houve um cuidado ao lidar com o conteúdo original. “Dragon Ball é quase uma religião para os fãs”, brinca Enos. “Por isso, quisemos renovar o entusiasmo da franquia que eles tanto adoram”. E, pelo que foi possível ver na demonstração disponível, a Bandai está no caminho certo. Como o próprio produtor acrescenta, chegou a hora de sermos os verdadeiros heróis desta história e, quem sabe, criar aquele que pode ser o novo Goku.
Um mundo para povoar
A primeira coisa que chama a atenção em Xenoverse é exatamente a presença desses heróis criados pelos jogadores. Embora a demo que testamos não nos permitisse brincar com isso, era possível selecionar três personagens originais moldados previamente e colocá-los para cair na porrada com Goku, Gohan, Picollo e outros rostos bem conhecidos.
É claro que, sendo um jogo de Dragon Ball, não há como esperar nenhuma mecânica inovadora, mas a presença desses “novatos” ajuda a trazer uma variedade interessante às batalhas que há tempos não víamos em um jogo inspirado na obra de Akira Toriyama. Isso porque, ao contrário de todo o restante do elenco, você não sabe o que esperar na hora da luta. Um dos personagens disponíveis era uma garota que, além de soltar um Kamehameha como o próprio Goku, era capaz de virar Super Saiyajin e usar um golpe ainda mais poderoso na sequência. São oponentes imprevisíveis.
Esse fator novidade é o grande diferencial por aqui, principalmente por conta das várias opções de personalização. “O jogador pode criar seu próprio personagem, customizar seu visual e habilidades e fazer com que seu lutador seja completamente diferente de qualquer outro”, explica um orgulhoso Enos em relação às possibilidades criadas. E nossas várias partidas demonstraram muito bem isso.
Só que toda essa liberdade criativa vai muito além de apenas fugir da mesmice dos personagens clássicos. Embora ainda seja um jogo de luta, Dragon Ball Xenoverse flerta muito com elementos de MMO – embora o produtor se antecipe em dizer que este não é seu gênero. “O jogo conta com vários recursos típicos de um MMO, mas não quisemos focar apenas nisso”, explica Jason Enos, que prefere tratar Xenoverse como um Dragon Ball com um lado social bem mais acentuado – o que nos fez lembrar muito o que a Bungie fez com Destiny, que também fica nesse meio do caminho. Sem aquelas características que todos conhecem dos MMORPGs, Enos concorda que o título se enquadra em uma espécie de “Fighting MMO”.
E, embora essa pegada online não estivesse disponível na demonstração, era possível ver um pouco desse recurso no trailer que era exibido incessantemente em algumas TVs espalhadas pelo evento – além dos próprios comentários do produtor. “Quando o jogador cria seu personagem, ele pode andar por Tokidoki City, uma cidade feita especificamente para o game e que funciona como uma espécie de HUB”, detalha. “E é lá que você vai poder se unir com outras pessoas para entrar em missões ou mesmo desafiá-las para uma luta”.
Mas que tipos de missões são essas? Afinal, é difícil imaginar o que Dragon Ball pode oferecer em termos de variedade além de pancadaria. E, apesar de Enos não trazer nenhum exemplo disso, ele deixa bem claro que as coisas não vão se limitar apenas à porradaria. “É claro que, por ser uma série de luta, os combates serão parte importante dessas missões, mas não serão as únicas. Quisemos trazer tanto variedade quanto profundidade aos objetivos, o que vai tornar as coisas mais interessantes”.
Novo, mas com rostinho familiar
Ok, mas como é jogar Dragon Ball Xenoverse? Esse lance social é legal, promissor, mas é apenas parte do que o título tem a oferecer. O que realmente importa é como a pancadaria vai funcionar. Afinal, quando eu escrevia minhas histórias quando criança, era para fazer meu personagem cair na porrada e não ficar conversando com os outros.
E, se essa é sua principal preocupação com o game, pode respirar aliviado. Todo o sistema de combate é bem fluido e funciona muito bem, principalmente em termos de agilidade. Alternar entre socos, chutes e disparos de Ki é bastante simples, assim como utilizar ataques especiais. Basicamente, há um botão específico para cada ação e, para movimentos mais poderosos, basta combiná-los com o uso dos gatilhos. Rápido, simples e indolor – no caso, para quem está atacando.
É aí que está a grande surpresa que certamente vai alegrar os fãs de longa data dos jogos de Dragon Ball. Como reparado por muita gente ao longo de evento, o game realmente traz muitas similaridades com a série Budokai, uma das favoritas dos apaixonados por Goku. E isso não foi por acaso. “Dragon Ball Xenoverse está sendo desenvolvido pela Dimps, a mesma que trouxe a série Budokai”, conta Enos, que descreve o clássico do PS2 como um dos melhores títulos inspirados na saga dos Guerreiros Z. “Sabemos que os fãs gostam muito dessa mecânica, então trouxemos a mesma equipe para levar Dragon Ball para a nova geração. Queremos trazer o melhor do passado com todo o potencial do novo”.
E essa relação entre o antigo e a novidade parece ser o que norteia todo o desenvolvimento do game. Além de estar presente na jogabilidade, essa também é a premissa do enredo. Como apresentado pela Bandai em alguns de seus trailers, a trama trata exatamente de viagem no tempo, reescrever o passado e a criação de um novo futuro.
Oi, eu sou Goku (e não vai ser desta vez)!
Por fim, a dúvida que todo fã de Dragon Ball tem a cada novo lançamento: será que Xenoverse vai finalmente trazer a dublagem brasileira do anime para os consoles? E a resposta é novamente frustrante: não.
“Sabemos o quanto o jogador quer a dublagem do jogo por aqui, mas temos noção também que não pode ser qualquer uma. Tem de ser A voz de Goku”, explica Jason Enos se referindo ao ator Wendel Bezerra, que eternizou a voz do herói ao longo de toda a série aqui no Brasil. O produtor conta que já ouviu a versão nacional do anime e gostou bastante de como o personagem é retratado, mas deixa claro que é exatamente por isso que é tão difícil trazer esse elemento para os jogos. “É tudo uma questão de agenda. É difícil conciliar o nosso cronograma com o dos atores e, por isso, não será dessa vez que teremos um Dragon Ball dublado. Ainda assim, gostaria muito de ver isso acontecer mais pra frente”.
Apesar de ser um pouco decepcionante, o posicionamento de Enos e de toda a Bandai Namco mostra um respeito enorme com a série e os fãs. “Se for para trazer vozes em português, que seja aquelas que o público quer”, explica. E, como não foi possível, Dragon Ball Xenoverse chega com o aúdio original e apenas legendas em nosso idioma – nada com o que a gente não esteja acostumado.