Uma experiência cinematográfica. Está é a melhor forma de definir o que é The Order: 1886. Não é à toa que o produtor do jogo, Marc Turndorf, fez questão de repetir essa expressão algumas dezenas de vezes ao longo de nossa entrevista durante a Brasil Game Show 2014. E não há como dizer que ele está errado.
No entanto, ao mesmo tempo em que essa aposta no visual surpreendente é um dos trunfos da Ready at Dawn para este início de geração, ela também pode ser seu principal ponto fraco. Por mais que a transição entre cenas de corte e momentos jogáveis seja imperceptível, o tão esperado jogo tem algo mais a oferecer para o jogador que há tanto tempo se contorce de ansiedade ou se baseia apenas em seus gráficos para impressionar?
E, se eu tive uma impressão bastante positiva do game durante a E3, a possibilidade de jogá-lo com um pouco mais de calma durante a Brasil Game Show serviu para acender o perigoso sinal de alerta do hype. Embora ele realmente seja espetacularmente bonito, talvez seja a hora de diminuir um pouco as expectativas.
Bonitinho, mas ordinário
A demonstração disponível no estande da Sony nesta BGS é exatamente a mesma que a empresa havia levado para a E3, além de tê-la exibido em outros eventos e mesmo em transmissões pela internet. O jogador é posto no início do terceiro capítulo do jogo e deve cruzar as ruas de uma Londres de uma Era Vitoriana alternativa enquanto enfrenta um grupo de rebeldes que surgem das construções ao seu redor.
E não há como negar que o visual de The Order: 1886 impressiona, independente de estar ser ou não seu primeiro contato com o game. “Quisemos trazer uma experiência cinematográfico para o jogo”, conta Turndorf enquanto exibia um pouco mais dos personagens e do mundo criado. “Nosso principal objetivo aqui era realmente que o jogador não conseguisse diferenciar a CG da parte jogável. Tanto que é bem comum você ficar esperando a animação acabar e perceber que já poderia controlar há algum tempo”.
E, de fato, é isso o que acontece. É bem comum você ficar parado e não se dar conta que já assumiu o controle do personagem, visto que a transição é imperceptível – o que não é ruim, pois esses segundinhos são muito bem aproveitados admirando o excelente trabalho da equipe de design tanto na criação desse universo steampunk quanto nos cuidados com os detalhes, texturas e mesmo na ambientação como um todo.
“O foco do estúdio foi exatamente essa aproximação com o cinema”, conta o produtor, destacando sobretudo as expresses faciais dos membros da Ordem. “No entanto, ele tem de ser bonito e também divertido”. E é aqui que o sinal de alerta começa a piscar.
Não me entendam errado: a demonstração de The Order: 1886 convence, principalmente por conta das armas originais e de seu funcionamento bem peculiar. No entanto, você logo percebe que as coisas podem não ir muito longe daquilo e logo surge a impressão de que ele é muito mais uma promessa do que algo realmente novo.
Durante toda a entrevista com Turndorf, a impressão que ficou é que a Ready at Dawn quis jogar seguro e não ousou em praticamente nada – e, por isso, o foco excessivo na tal experiência cinematográfica nas falas do produtor. Assim, o jogo segue exatamente a cartilha dos shooters em terceira pessoa. “Não quisemos criar um jogo que fosse a revolução do gênero, mas que aumentasse a barra de qualidade”, explica.
Isso não faz com que The Order seja ruim, mas não consegue tirar a imagem que se trata de mais um jogo de murinho. Focado na ação single-player e sem qualquer tipo de evolução de personagem (atributos, habilidades ou qualquer coisa do gênero), tudo se resume ir do ponto A ao ponto B enquanto enfrenta os inimigos que surgem em seu caminho.
E isso é que também chama a atenção na demo: a linearidade exagerada. Embora o mundo seja rico em detalhes e o contexto Vitoriano Steampunk chame a atenção, o level desing peca ao colocar o jogador em um longo corredor. Você não se sente explorando aquele universo, mas apenas seguindo a única trilha disponível.
O próprio Turndorf reforça essa noção. Para exemplificar as “opções” que o jogador terá à disposição para seguir seu caminho, o produtor cita um momento específico da demo. “Em uma área mais aberta, você pode tanto seguir em frente e ter um combate cara a cara, ou pegar um desvio para subir em uma plataforma e atacá-los de cima e em segurança”. No entanto, apesar de sua fala dar a entender que se trata de uma escolha realmente significativa, ela pouco faz diferença para acabar com essa sensação de que você está andando em linha reta. Escolher o murinho no qual você vai se esconder pouco ajuda a mudar isso.
Mas qual o diferencial?
Embora The Order: 1886 tenha arrancado muitos elogios desde seu anúncio, não há como negar que ele nunca deixou a sombra de ser mais um shooter na lista de infinitos que chegam aos consoles todos os anos. como a Ready at Dawn quer torná-lo único em meio a tantas opções disponíveis?
Questionado sobre os diferenciais do jogo para não fazê-lo ser apenas um Gears of War da Sony, Turndorf ressalta o universo único criado pelo estúdio. “São pequenas diferenças. Toda a ambientação do jogo é única e diferente do que já vimos até então. Além disso, temos armas bem peculiares e pequenos outros detalhes que fazem parte desse universo”. E, como não poderia deixar de faltar, “a experiência cinematográfica”.
Sabendo que The Order não iria variar muito em relação aos outros shooters, a Ready at Dawn se preocupou em, pelo menos, trazer situações que tirem o jogador da sensação de estar fazendo sempre a mesma coisa. De acordo com o produtor, há vários momentos de quebra de ritmo, em que o personagem terá de resolver um puzzle ou realizar alguma tarefa não relacionada a dar tiros.
Ele também destaca a batalha contra chefes, que deve ser um dos pontos altos do título. Embora a demonstração não nos contemple com isso, Turndorf relembra do trailer exibido na última E3, em que uma espécie de lobisomem ataca os heróis.
Já em relação aos equipamentos, eles realmente chamam a atenção, sobretudo o Thermite Rifle, cuja utilização é bem diferente da maioria das armas que já vimos. Isso porque ele dispara uma solução de magnésio altamente inflamável que, apesar de não causar dano no inimigo, faz com que tudo entre em combustão ao menor sinal de fogo. Um sistema diferente e que, apesar de confundir em um primeiro momento, traz o mínimo de variedade esperado.
Versão brasileira
Por fim, maior surpresa relacionada a The Order: 1886 nesta BGS foi o fato de a demonstração disponível no estande da Sony já estar dublada em nosso idioma. E, seguindo uma tendência que acompanha os lançamentos da empresa, a qualidade não decepciona.
É claro que, por ser uma demo bem curta, não é possível fazer uma avaliação mais detalhada, mas a primeira impressão foi bastante positiva. Até mesmo os sotaques, como o francês de Lafayette, são bem adaptados sem soar ridículos.
No estande não era possível saber se há uma opção para retornar às vozes originais, mas, levando em consideração o histórico da Sony, é bem provável que ela esteja presente. Contudo, elo que foi apresentado no evento, a dublagem dos personagens pode ser a última coisa com que você vai se preocupar em The Order: 1886.