Qualquer pessoa que já tenho ido a mais de uma Brasil Game Show já sabe que é preciso reservar um bom tempo do seu dia — ou, dependendo de quando for, o dia todo. Não apenas por causa dos lançamentos que a empresa sempre traz para o evento, mas por causa das longas filas que se formam em cada uma das estações disponíveis.
Também pudera, já que a publisher francesa é uma das poucas a ir à feira apenas com games ainda inéditos no país, como a dobradinha de Assassin’s Creed e o aguardado Far Cry 4. E, foi exatamente por isso, que a empresa decidiu mudar um pouco suas estratégias na BGS 2014.
Se até o ano passado, os jogos da Ubisoft estavam sempre atrelados ao painel da NC Games, desta vez foi diferente. A companhia decidiu se tornar independente e ocupar um espaço próprio no Expo Center Norte, o que resultou em mais espaço e ajudou o público a aproveitar mais cada novidade.
“Mas não se trata apenas de tamanho”, explica o diretor da empresa na América Latina, Bertrand Chaverot, em entrevista ao NGP. “Como não precisamos mais de marketing, pudemos dar mais destaque aos nossos jogos e trazer mais atrações ao evento. Além dos YouTubers, os jogadores puderam conhecer quatro produtores de suas séries favoritas”.
E bastava olhar para a muvuca constante que se formava ao redor da área da Ubisoft para entender do que ele estava falando. Juntamente com as filas para testar os games, muita gente se amontoava na esperança de conseguir um pôster autografado de Benjamin Plich, game designer-chefe de AC: Unity, ou Matthieu Crepaux de Far Cry 4.
“A BGS já está entre os quatro maiores eventos do mundo”, conta Chaverot. Segundo ele, com um evento deste porte, é natural que a Ubisoft queira trazer desenvolvedores para cá, permitindo não apenas conhecer o país, mas medir a paixão do brasileiro com aquelas franquias. “Muitos desses produtores ficaram emocionados ao ver como o nosso público é louco por tudo isso. Parece exagero, mas você via nos olhos deles o quanto eles estavam felizes por estar aqui”.
O que 2014 ainda oferece?
Faltam apenas dois meses para o fim do ano, mas isso parece não ser problema para a Ubisoft. Com cinco títulos agendados ainda para este ano, a empresa segue otimista quanto ao bom desempenho que vem seguindo. “No primeiro semestre, lideramos o mercado, principalmente com o sucesso de Watch Dogs, que vendeu mais de 300 mil cópias”, conta um sorridente Chaverot. “Já para o restante do ano, queremos manter essa posição, principalmente com uma lineup forte e bem diversificada”.
Com dois Assassin’s Creed, The Crew, Just Dance e Far Cry 4 — claramente o favorito do executivo —, ninguém duvida que o bom desempenho se repita. E é exatamente por isso que o que chama a atenção é o destaque que títulos menores do estúdio vêm recebendo.
A começar por Child of Light e Valiant Hearts, dois games produzidos com cara de indie e utilizando o UbiArt Framework, o mesmo motor gráfico de Rayman Legends. Os dois títulos, além de sucesso de crítica, também conquistaram o público brasileiro. “O Brasil já é o terceiro em número de vendas de Child of Light, ficando atrás apenas de Estados Unidos e Japão”, conta Chaverot.
Contudo, é nas plataformas mobile que se desdobra a próxima batalha da Ubisoft. E, pelo entusiasmo do diretor na América Latina, isso não parece ser digno de preocupação. “Você já jogou Just Dance Now?”, questiona um empolgado Chaverot diante da possibilidade de dançarmos em qualquer lugar com um smartphone.
E esse ânimo todo é compreensível. O executivo vê no game uma forma de quebrar as barreiras impostas pelos consoles, permitindo que dezenas de pessoas possam dançar ao mesmo tempo. “O brasileiro é um povo muito criativo e vai arranjar formas de usar bem o jogo”, conta. “Ele pode ser usado em festas, flash mobs ou mesmo em eventos maiores, como um a comemoração de um aniversário da cidade”.
Apesar de a ideia de vermos uma prefeitura usando o game assim (a de Curitiba, talvez?) ainda ser um pouco exagerada, a relação entre o jogador brazuca e a dança é verdadeira. Tanto que, segundo o executivo, o Brasil já é o segundo país que mais baixou o título, perdendo apenas para os Estados Unidos — e por enquanto. “Nesse ritmo, devemos ser o número um na próxima semana”.
Contudo, seria a chegada de Just Dance Now uma forma de atualizar a franquia? Afinal, com um lançamento anual em que a maior novidade é a atualização de playlist e não de mecânica, não estaria a série caminhando para a mesma saturação que enterrou Guitar Hero? Chaverot diz que não.
“Jogos como Guitar Hero saturaram porque a jogabilidade se resumia a apenas quatro botões. Mudavam as músicas, mas você mexia apenas os mesmos dedos”, explica Bertrand fazendo um air guitar. “No caso de Just Dance, são novas coreografias que fazem com que você se mexa de uma forma completamente nova. Você sempre se diverte. É como as séries de futebol”.
Por isso, ele acredita que Just Dance Now não venha para substituir ou competir com aquilo que já temos, mas para complementar. “Ele é para um público mais amplo, não apenas para quem tem um console. Por isso, acreditamos nele como uma forma de expandir e de criar novas oportunidades”.
E a BGS 2015?
Embora a BGS 2014 tenha recém-terminado, a Ubisoft já planeja o que vai trazer para o próximo ano. “Para 2015, queremos manter a tendência do que mostramos aqui desta vez”, explica o diretor da empresa na região. “Não queremos apenas trazer os jogos, mas oferecer diversão para quem for passar por aqui”.
Mesmo sem dizer especificamente o que podemos esperar, é fácil perceber, em seu marcante sotaque francês, a animação de Bertrand Chaverot com o clima do estande. Assim, ao som de “What Does the Fox Says” e “Macarena”, já podemos esperar que a festa deve se repetir na BGS 2015.
Empolgado enquanto grava os jogadores dançando — e se desculpando por não poder entrar na brincadeira por conta de um problema no joelho — Chaverot é a prova de que a francesa Ubisoft está cada vez mais brasileira.