Nem só de Sony, Microsoft, Ubisoft e Warner viveu a BGS 2014. No fundo do pavilhão principal do evento, longe do fervo das empresas maiores e dos grandes blockbusters do mercado, estava o espaço indie, alvo de grande polêmica antes da realização do evento e um local que pouca gente conheceu. E ali, em meio a grandes nomes desse mercado, como Hotline Miami 2: Wrong Number e Aritana e a Pena da Harpia estava Kriophobia, título dos brasilienses da Fira Soft.

A ideia geral que se tem é que conversões de jogos de consoles para dispositivos móveis nem sempre funcionam. Por isso mesmo, foi uma agradável surpresa conhecer este Survival Horror cuja demo estava à disposição do público pela primeira vez, trazendo o estilo bem característico dos primeiros Resident Evil aliado a gráficos pré-renderizados e com um toque das histórias em quadrinhos. Uma combinação que agradou aos olhos e também aos dedos, que mostra que a Fira Soft, em seu primeiro título autoral, ainda vai dar muito o que falar por aí.

Isolada e sozinha

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A história segue a saga de Anna, uma cientista russa que é enviada para uma base isolada durante uma investigação de anomalias sismológicas que estão acontecendo por lá. Um destes tremores, porém, acaba isolando a protagonista e sua equipe em uma base soviética subterrânea, onde experimentos bizarros aconteciam. A trama envolve, inclusive, elementos do passado da personagem, que está mais envolvida com toda a questão do que imagina inicialmente.

A demo disponível na Brasil Game Show reflete os momentos iniciais do título, mostrando a chegada do time à base e os primeiros enigmas após todos acabarem isolados na base russa. Já dá para sentir o básico da jogabilidade, que envolve toques na tela para praticamente todas as ações, desde levar a personagem pelos cenários até coletar itens e resolver enigmas.

As referências estão por todos os lugares. A coleta de itens de um lado para levar ao outro estão por lá, bem como as portas trancadas que escondem segredos a serem revelados no futuro. E qual não foi a minha surpresa ao encontrar um dos primeiros puzzles de Kriophobia, que envolve a reativação de um gerador da base russa e parece ser uma referência clara ao amado e odiado enigma da Water Sample, de Resident Evil 3.

Kriophobia

Durante meu tempo com a demo, ficaram faltando apenas os elementos de combate. Além disso, ficou claro que o título ainda precisa de polimento, principalmente nos controles, que nem sempre funcionavam na transição de uma sala para outra. Mas isso é algo que até mesmo a própria Fira Soft sabe. De acordo com Gabriela Araújo, designer do título, muito ainda vai mudar e a amostra disponível no evento serve para que a empresa sinta a recepção do público e veja para onde vai essa ideia.

De projeto pessoal para o mundo

Apesar de estar trabalhando em seu primeiro título próprio, a empresa que surgiu nos corredores da Universidade de Brasília já tem certa experiência com advergames e jogos educativos. Inclusive, é assim que Araújo define a Fira Soft. Por outro lado, ela conta que sempre existe o desejo de trabalhar com algo mais próximo dos desenvolvedores, ao contrário do cotidiano de criação de acordo com os pedidos dos clientes. Dos 15 funcionários, oito estão envolvidos no título de horror.

Apesar do foco em Kriophobia durante a BGS, a Fira Soft não quer se afastar de seu passado. Muito pelo contrário, segundo Araújo, essa é uma parte central do trabalho deles. “Temos programadores muito talentosos, então somos capazes de entregar os produtos muito rapidamente para os clientes. Então, conseguimos ter tempo para desenvolver jogos mais autorais e que curtimos mais”, conta ela.

Foi isso que levou a Fira Soft a não apenas apostar em Kriophobia mas também financiar ela mesma o título. A presença na BGS também tem a ver com isso, já que a expectativa era ver a recepção do público e conseguir um investimento para continuar o trabalho. Campanhas de financiamento coletivo estão nos planos, assim como uma parceria com uma grande companhia.

“Eu até fico um pouco ofendida quando [as pessoas] falam que só deveriam existir empresas independentes. Muito pelo contrário”, fala a designer. Ela cita o exemplo da thatgamecompany, sua desenvolvedora favorita, que foi adquirida pela Sony e continua mantendo suas ideias intactas, produzindo títulos de alta qualidade como Journey e Flower, por exemplo, de forma exclusiva. “Eles eram só uns alunos de faculdade pé-rapados e viraram monstros. É importante termos os grandões e também os pequenos ao mesmo tempo.”

No melhor momento possível

Kriophobia

A presença na Brasil Game Show também coincide com um tempo bastante propício para jogos de Survival Horror, que estão começando uma retomada com jogos como The Evil Within e Alien: Isolation. Sendo assim, nada melhor do que botar Kriophobia para rodar logo agora e apresentar a um novo público como eram os games de horror de outrora.

“Cada vez mais víamos outros projetos surgindo e [o nosso] ficando para trás. Por isso, decidimos pegá-lo e desenvolver como carro principal”, explicou. Então, a equipe passou noites acordada para finalizar a demo e leva-la para a feira. Pelo sorriso estampado no rosto da designer, a recepção parece ter sido bastante positiva.

Como Kriophobia se encontra em seus estágios iniciais de desenvolvimento, a Fira Soft tem um terreno livre para explorar. A empresa, por exemplo, pensa em usar um sistema semelhante ao de The Walking Dead, lançando o título por episódios em vez de entregar uma experiência completa. O game será pago e a Fira Soft quer garantir que o valor investido valha a pena.

Kriophobia ainda não tem data de lançamento marcada e está sendo desenvolvido para iOS e Android. Uma edição Windows Phone ainda está sendo estudada, bem como possíveis versões PC e consoles, que ainda são ideias distantes.

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