Ubisoft confirma lançamento de Assassin’s Creed Rogue

Assassin's Creed: Rogue

por Durval Ramos

Uma boa história em um jogo preguiçoso – e a culpa é sua

Eu poderia falar muitas coisas sobre Assassin’s Creed: Rogue, como o fato de o novo jogo da série para PS3 e Xbox 360 não ser mais do que uma expansão de Black Flag ou mesmo a despedida da franquia para esses consoles, no entanto, nada disso o descreveria tão bem como um jogo bastante preguiçoso. E a culpa disso é tanto sua quanto minha.

Quando a Ubisoft anunciou que Unity seria exclusivo da nova geração, muita gente torceu o nariz para o fato de a empresa estar “abandonando” os fãs que ainda não migraram para PS4 ou Xbox One. Afinal, como a série nasceu nessas plataformas, é a “obrigação” do estúdio atender a esses apelos e não deixar ninguém órfão de sua franquia anual favorita. E foi o que ela fez.

Era óbvio que ela não ia abandonar uma base instalada de usuários tão grande quanto a da geração passada, principalmente quando esta praticamente exigia um novo lançamento. No entanto, desenvolver um jogo é algo caro e a produtora estava claramente apostando (e investindo) muito mais na história de Arno, fazendo com que Rogue tivesse de se virar com os “restos”. E é exatamente essa sensação de estarmos encarando algo requentado que permeia toda a aventura de Shay Cormac, o caçador de assassinos.

Black Flag 2.0

Não seria exagero algum dizer que Assassin’s Creed: Rogue seria muito mais honesto com todo mundo se fosse lançado como uma expansão de Black Flag do que como um jogo novo e com preço de algo inédito. Isso porque ele nem se dá ao trabalho de tentar criar algo, se limitando apenas a reciclar velhos conteúdos.

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Rogue é idêntico a Black Flag em todos os aspectos. Nem mesmo os colecionáveis mudaram. É o mesmo jogo – para bem e para mal.

E não se trata apenas de usar a mesma engine, mas de reutilizar absolutamente tudo o que já vimos com Edward Kenway. Rogue traz as mesmas mecânicas, a mesma interface e menus, a mesma jogabilidade (tanto na terra quanto no mar) e até os mesmos colecionáveis de seu antecessor, fazendo pouquíssimas adições e adaptações no todo.

E isso é ruim? De certo modo, não. Olhando de maneira independente, ele consegue ser um jogo bem divertido exatamente por reproduzir tudo aquilo que fazia Black Flag um bom game, No entanto, ele faz parte de uma série e isso não pode ser ignorado.

A ideia de produzir uma sequência não é apenas para contar uma nova história, mas de fazer a franquia evoluir. E isso não é sentido em momento algum em Rogue, tornando-o um título extremamente preguiçoso e lançado apenas para dizer que a Ubisoft não abandonou seus fãs.

É impossível evitar aquela sensação de dejà vu a todo o instante, seja quando você precisa cruzar os oceanos em viagens tediosas em busca de uma missão ou mesmo quando entra em batalha, já que Cormac usa praticamente todas as mesmas armas e as mesmas animações de combate de Kenway.

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Esse reaproveitamento de conteúdo é tão nítido que gera até mesmo algumas situações patéticas, como quando o templário simplesmente levanta a gola de seu casaco da mesma forma como o pirata fazia com seu capuz quando entrava em uma área restrita. E, enquanto isso fazia sentido em Black Flag por conta do contexto furtivo, isso é usado em Rogue simplesmente porque a animação já existia. É ridículo e, em muitas vezes, ofensivo com os fãs.

Para não dizer que não falei das flores

Como este Assassin’s Creed é praticamente uma expansão de seu antecessor, ele quase não possui novidades, sendo apenas uma reprodução dos acertos e erros do ano passado. Assim, não há muito o que comentar sobre suas novidades positivas e negativas, já que se trata basicamente da mesma coisa que todos conhecem.

É claro que há algumas diferenças, mesmo que pequenas. Como a história de Shay Cormac se passa na América do Norte e não mais nos mares do Caribe, algumas pequenas coisas tiveram de ser adaptadas para se adequar à geografia do local. É o caso das zonas congelas e dos icebergs, os quais podem ser destruídos para criar ondas que dificultem a navegação de embarcações inimigas.

rogue quebra gelo

As novidades de Rogue são, na verdade, adaptações do que já vimos antes. Trazer o sistema de radar do finado multiplayer para a campanha funcionou muito bem.

Além disso, algumas novas armas foram adicionadas para expandir, mesmo que timidamente, o arsenal da série. São novas opções de espadas e pistolas, além de um rifle e de estranho lança-granada, o qual serve tanto para atordoar suas presas a longas distância quanto criar efeitos de área com um único ataque. No entanto, nada realmente significativo e que mude a experiência como um todo.

Talvez a novidade mais importante seja, na verdade, uma adaptação. Como Assassin’s Creed: Rogue não tem um modo multiplayer, a Ubisoft aproveitou para trazer à campanha algo que era muito legal nas partidas online. Como estamos falando de caçar assassinos, é de se esperar que eles estejam sempre à espreita para atormentá-lo e, por isso, você conta com um radar que indica a presença de algum oponente por perto. Assim, ao ouvir o sussurro que o alerta ao perigo, sua Eagle Vision vai indicar a direção onde está a ameaça, permitindo que você a elimine ou siga por uma rota mais segura.

A salvação do enredo

Não seria exagero dizer que Assassin’s Creed: Rogue é um Black Flag com outro personagem. Contudo, o que poderia ser um enorme desastre se salva graças ao fato de ser exatamente este personagem a principal estrela do jogo, segurando as pontas muito bem e fazendo da história relevante o suficiente para o universo da série – algo que nem mesmo Unity conseguiu fazer.

Conquistas de Assassin’s Creed Rogue revelam mais sobre o enredo

Cormac é um personagem que consegue traduzir perfeitamente o quão dúbias são as ações de Templários e Assassinos. Nada é real, nem mesmo as convicções dos personagens.

O fato de Cormac ser um assassino que abandona a Irmandade para se juntar à Ordem dos Templários chamou a atenção de todos desde quando o game foi anunciado e é exatamente isso que torna o enredo tão interessante. Apesar de algumas soluções e fatos serem apresentados de maneira bastante apressada, o desenvolvimento do personagem é construído de forma convincente, principalmente ao tirar a aura heróica existente sobre os até então protagonistas.

Aprofundando uma questão que já havia sido pincelada em Assassin’s Creed III, Rogue mostra mais uma vez que essa dualidade entre os dois grupos não é tão maniqueísta e que ambos os lados lutam por aquilo que acham certo e, ao mesmo tempo, nenhum deles tem muita certeza do que está fazendo. E Shay age exatamente como o fiel da balança, questionando suas convicções iniciais e abraçando o outro lado para defender aquilo que acredita.

É por isso que o marketing que apresentava o personagem como como um “ex-assassino à caça de seus irmãos” é bastante equivocada. Em nenhum momento ele é retratado desta forma e essa luta contra seus antigos companheiros se dá ao acaso, pois ele tenta impedi-los de fazer aquilo que ele considera como um erro. Shay Cormac pode não ser um protagonista carismático, mas ele consegue prender a atenção do jogador exatamente por ser um dos “heróis” com as melhores motivações da série.

Assassin's Creed Rogue

Rogue costura muito bem a história de Black Flag com Assassin’s Creed III, além de passar muito bem a bola para a nova geração ao trazer um belo gancho com Unity. Ele é um jogo de despedida e fechamento.

Além disso, Rogue costura todas as histórias dos últimos jogos da franquia, servido de conclusão e prólogo para os jogos anteriores. Como ele se passa entre os acontecimentos de Black Flag e Assassin’s Creed III, muitos rostos conhecidos retornam e com grande importância para a trama. Assim, mais do que ser um fanservice, há uma razão realmente válida para reencontrarmos Adewale, Achilles e até mesmo Heythan Kenway.

E, acima de tudo, ele ainda serve como fechamento da saga na atual geração, passando a bola de vez para os novos consoles. Explicar exatamente o que isso significa é entregar um dos melhores momentos do game, então saiba apenas que ele ainda consegue se conectar muito bem a Assassin’s Creed: Unity e que jogá-lo após concluir a história de Arno torna as coisas ainda mais interessantes.

História e evolução

O fato de termos dois Assassin’s Creed este ano revelou uma situação bastante atípica. Enquanto Unity trouxe várias novidades e evoluções em termos de mecânicas em detrimento de seu enredo, Rogue seguiu por um caminho totalmente oposto com uma jogabilidade reaproveitada, mas com uma trama bastante significativa. E qual dos dois está certo?

Na verdade, nenhum deles. Ambos deixam a desejar em partes importantes da experiência e, no caso do lançamento para PS3 e Xbox 360, fica mais evidente ainda que aquela velha história de “time que está vencendo não se mexe” não funciona quando o assunto é video game. Afinal, em uma indústria em que existem DLC, expansão e mais uma variedade enorme de formatos de distribuição, não apostar em evolução, por mais ínfima que seja, é um tiro no pé.

Assassin’s Creed Rogue chega ao Brasil totalmente em português

Os poucos lançamentos fazem parte do ciclo dos consoles e não há nada que possa fazer em relação a isso a não ser se enganar – e se deixar ser enganado. Se este for o seu caso, Rogue é um jogo feito para você.

Como dito anteriormente, de maneira isolada, Assassin’s Creed: Rogue é um bom jogo. Ele traz tudo aquilo que funcionava em Black Flag e reproduz as mesmas sensações vistas o ano passado. Contudo, como uma sequência, ele é vazio e não acrescenta nada à série a não ser de uma história a qual poderia ser contada em um formato mais amigável (e econômica) ao jogador.

Sempre foi claro que este seria um jogo de segunda linha e sem o mesmo capricho de um grande lançamento, mas ele consegue ser ainda mais decepcionante por não se dar o trabalho de dar um passo, mesmo que pequeno, adiante. Ele é um jogo preguiçoso, apesar de suas “boas intenções”, e não há como relevar isso. Tudo bem que a Ubisoft estava preocupada em economizar em seu desenvolvimento, mas também não é justo com seu público trazer o mesmo produto em embalagens diferentes e dizer que se tratam de algo novo.

Assim, da próxima vez que uma franquia ganhar um jogo exclusivo para a nova geração pense bem antes de reclamar que o console que você tem está sendo esquecido. Faz parte de seu ciclo e não há nada que possa fazer em relação a isso a não ser se enganar – e se deixar ser enganado. Se este for o seu caso, Rogue é um jogo feito para você.