Quando qualquer produto de entretenimento ganha um prémio de Melhor do Ano, cria-se uma enorme expectativa em cima dele. Não foi diferente quando Dragon Age: Inquisition faturou no The Game Awards deste ano do Nosso Senhor a alcunha que virá carimbada numa edição especial cheia de DLCs e outros pormenores também dignos de nota.
A dúvida que ficou é se realmente o novo jogo da Bioware alcançaria esse conceituado reconhecimento por grande parte dos jogadores. Por este que vos escreve, digo: Sim, alcançou! Com alguns deslizes e pequenos tropeços, como em toda Jornada do Herói, pra poder chegar, enfim, no topo de uma montanha, erguer a espada e decepar a cabeça do Monstro da Expectativa e chutá-la pra bem longe.
Já de cara, Dragon Age: Inquisition te coloca a par da situação em Thedas, continente conhecido onde ocorre a história dos jogos da série. Antes de qualquer coisa, até mesmo de dar um rosto ao seu herói, ou heroína, numa tentativa de conferência de paz entre Magos e Templários, há uma gigantesca explosão matando todos os presentes. Bem, quase todos, seu personagem também estava no local e consegue impedir que o dano causado seja maior, arruinando o objetivo do vilão da história, Corypheus.
A jogabilidade está bastante intuitiva e, em meio ao combate, o jogador sempre saberá o que está fazendo.
Mas isso deixa uma marca, a Âncora, capaz de selar os portais para o Imaterial, de onde vários demônios saem para dentro do Plano Material, transformando o herói no único capaz de deter os avanços de Corypheus a ascender ao status de divindade e salvar o mundo, como o Arauto de Andraste. Assim nasce a nova Inquisição dentro do contexto da história, uma nova facção em Thedas, começando basicamente do zero até aos altos escalões da Nobreza Orlesiana.
Batidinho? Talvez sim, mas a forma como o enredo vai se desenrolando, com os acontecimentos de cada quest principal até o ápice da história, são interessantes de acompanhar. Prende o jogador por horas, e quando aparece o aviso na última quest que ela encerrará o jogo, bate um sentimento de “Ahh, mas já?”. E isso não é uma crítica, o tamanho do jogo é na medida certa para que não se torne arrastado, porém, ao terminar, gostaríamos de mais alguma coisa. Isso é algo bastante positivo, ainda mais com o desfecho – pós créditos – mostrando que uma sequencia é mais que necessária.
O fim de Inquisition pode ser adiado por muito tempo graças às sidequests, que parecem brotar do chão. Sempre há algo a se fazer. E elas devem ser feitas. Para “desbloquear” missões principais, a Inquisição deve possuir certos pontos de Poder, representados no contingente que a facção possui e na influência que a nova composição precisa adquirir. Eles são conseguidos desde fechando portais do Imaterial em regiões afastadas, acessando novos locais para fixar acampamento até achar um objeto perdido de uma pobre senhora numa cabana solitária.
Suas decisões, sabidamente o ponto alto de Dragon Age, ainda são cruciais no desempenho da história. Saber qual resposta escolher numa festa de gala da Imperatriz de Orlais, onde todos os olhares estão em cima do Escolhido de Andraste, é de extrema importância, e se a corte não o aprovar, fim de missão.
Diferente de seus outros jogos, em Inquisition, não há a opção de você importar seu save dos jogos anteriores. Porém, a Bioware disponibilizou o site Dragon Age Keep, totalmente em português, que é uma forma de contar a história do primeiros Dragon Age e dar a chance do jogador influenciar a construção do mundo com as decisões pendentes dos jogos anteriores. Após serem feitas, elas podem ser acessadas no início do jogo. Também há a possibilidade de jogar com um mundo padrão mas a forma apresentada ajuda bastante a inserir o jogador novato às mecânicas de escolhas.
Para quem nunca jogou nenhum título da série, a jogabilidade está bastante intuitiva e, em meio ao combate, o jogador saberá o que está fazendo. Já aqueles que vieram dos jogos anteriores notarão a melhora gradual, principalmente para quem experimentou apenas Dragon Age: Origins. Todos os comandos são fluidos e bastante competentes no que são exigidos, porém, devido ao combate estar bem mais ágil, a câmera tática, muito necessária no primeiro jogo, perde bastante a sua função. Agora, ela serve basicamente para analisar o campo de batalha e verificar as condições do grupo e dos adversários.
Um outro problema foi a navegação dentro dos menus do jogo, por serem feitas apenas pelo analógico do controle. Não foram raras as vezes em que os dedos foram direto no D-Pad, apenas para me lembrar que eles simplesmente não funcionam nos menus. Tiraram um recurso prático em troca de um que não atende com a mesma velocidade.
Quanto aos inimigos, o jogo possui uma variedade bacana deles, onde todos podem ser vistos dentro do Códice do jogo, com suas histórias, o que são e de onde vieram. E há os Dragões, que dentre os inimigos, são um caso a parte. Os combates contra eles são os mais difíceis, dignos do desafio, e não precisam de nenhum outro inimigo pra dificultar o encontro. Eles já bastam. Quando eles chegam, se fazem ser notados, rodeando o campo e, após, descendo distribuindo pontos de dano. Certamente uma das partes mais divertidas do jogo.
O tamanho de Dragon Age: Inquisition é na medida certa para que não se torne arrastado, porém, ao terminar, gostaríamos de mais alguma coisa.
Os gráficos estão bonitos, por ser um mundo aberto e pelo inconveniente do cross-plataform, poderiam ser um pouco mais, mas nada que desagrade. As expressões faciais ficaram bem feitas, com o jogador podendo customizar ao máximo o rosto do personagem, da profundidade das cicatrizes á cor dos lábios.
Rostos familiares irão aparecer vez ou outra dentro do jogo. Personagens dos jogos anteriores dão o ar da graça e se fazem necessários no decorrer da trama. A inserção desses velhos conhecidos com os novos faz do “casting” de Dragon Age: Inquisition um dos mais carismáticos de um RPG. Um ou outro pode ser um pouco mais apagado, mas no saldo geral, todos eles possuem algo interessante de se acompanhar.
Todos os comandos são fluidos e bastante competentes no que são exigidos, porém, devido ao combate estar bem mais ágil, a câmera tática perde bastante a sua função.
Uma característica marcante dos jogos da BioWare não ficaria de fora dessa sequencia, e está mais refinada, por assim dizer. Conforme dito pelo diretor criativo do jogo, Mike Laidlaw, o processo de alcançar o coração dos NPCs está mais genuíno, mais real. Em vez de ganhar “pontos de afeto” dando presentes e mimos, os diálogos foram melhorados e agora as palavras corretas são o que contam.
Ao todo, são oito opções para o jogador escolher com quem se relacionar, adicionando a tudo isso o primeiro personagem exclusivamente gay. O objetivo aqui não é apenas chegar ao sexo como ponto final, e sim construir a relação de forma que fique muito bonita dentro da própria história, com sua companheira (o) se preocupando com sua vida, criando no jogador a sensação de cuidar e proteger. Tudo isso muito naturalmente, desde momentos felizes a despedidas tristes, como alguns relacionamentos são.
Dependendo das escolhas, a conquista passaará até por momentos embaraçosos e duelos pelo coração da amada. Essa adição mais realista tornou o game muito mais imersivo para o jogador, fazendo-o voltar algumas vezes na escolhida apenas para passar um tempo após o combate.
Quem nunca jogou nenhum Dragon Age pode começar pelo Inquisition sem problemas graças ao Códice dentro do menu do jogo. Nele, há explicações sobre a maioria dos acontecimentos acerca da história e além dela. Relatando passagens que ocorreram e explicando lugares, porém, toda informação deve ser buscada dentro do jogo, coletando dados em tomos e livros encontrados no mundo inteiro. Para quem não conhece bem a história de Dragon Age e não se encaixa no perfil de “explorador de mundos”, alguma coisa pode ser perdida, mas nada que interfira diretamente no bom andamento da aventura.
O versão nacional está toda traduzida para o português, com uma daptação bem feita. Lendo o gigantesco conteúdo do Códice, não notei frases sem sentido ou que passassem algo diferente do que ocorreu. Um baita trabalho com qualidade e um ponto extremamente positivo.
Pensando no jogo inteiro, foi merecido Dragon Age: Inquisition ter ganhado o prêmio de Jogo do Ano, e entre seus concorrentes, seria injustiça se o resultado tivesse sido diferente.
O jogo foi analisado no PlayStation 4.