De um lado, são as ações da Petrobras em queda livre. De outro, inflação em alta, dólar subindo à jato e uma expectativa de baixo crescimento do PIB. São fatores econômicos que normalmente não dão as caras nas notícias sobre jogos, nem são de interesse desse público mais jovem. Mas, ao mesmo tempo, são atributos que influenciam bastante no mercado por aqui. Ou não, já que de acordo com a análise de lojistas e distribuidoras, o vigor do setor brasileiro de games impediu que essas flutuações se traduzissem em queda nas vendas.

O grande exemplo disso é a loja Shop B, de Araucária, cidade na região metropolitana de Curitiba (PR), que teve em 2014 o que afirma ser seu melhor ano. Enquanto o restante do Brasil amargava com a alta dos preços nos mercados e serviços, o e-commerce entregava centenas de grandes títulos em seus respectivos dias de lançamento, tinha movimento crescente em sua página no Facebook e, acima de tudo, via um grande aumento nas vendas.

Para Gabriel Bollico, da ShopB, a chegada da nova geração foi o principal motor para tudo isso. “Acreditamos que 70% dos jogadores ativos, que jogam sempre e ficam de olho nos lançamentos, já deram um jeito de trocar de aparelho”, diz. Prova disso, segundo ele, é Far Cry 4, título recente da Ubisoft que teve três vezes mais vendas registradas no PS4 e Xbox One em relação à geração passada.

Com poucas exceções, situação econômica não afetou mercado brasileiro de jogosNo Facebook da Shop B, fotos como estas são comuns.

O segredo para isso, diz ele, é o preço. Enquanto em boa parte dos estabelecimentos os valores de lançamento chegam perto, quando não ultrapassam, a barreira dos R$ 200, a ShopB faz um esforço para operar abaixo dessa margem. “Nosso público é antenado e sabe pesquisar. Eles sempre buscam os [jogos mais baratos]”, explica.

É justamente baseado nesse fator que Bollico traça um panorama negativo para o setor, afirmando que as lojas físicas, principalmente aquelas localizadas em shoppings, terão vida curta. O motivo para isso são os altos custos de operação e, também, o fato de trabalharem com preço sugerido pelas distribuidoras. Dessa soma, o resultado são os baixos lucros e uma dificuldade em manter o negócio de pé.

Um exemplo disso é a Central dos Games, de Santos, no litoral de São Paulo. Apostando na atuação totalmente física com uma loja na região central da cidade, a proprietária, Luiza Menon, disse já ter pensado algumas vezes em sair deste mercado antes que os problemas financeiros chegassem. Para ela, a situação econômica do país afetou duramente o setor. “Quando existem problemas, a primeira coisa que as pessoas cortam é o supérfluo. Nesse caso, os jogos.”

Em 2014, ela viu as vendas caírem e o movimento na loja diminuindo. No início do segundo semestre, decidiu trabalhar também com compra e venda de consoles e jogos usados, com foco nos colecionadores e produtos clássicos. A ideia deu um pequeno gás para os negócios, mas não o suficiente para tornar a situação positiva.

Outra expectativa para os últimos seis meses do ano era a gigantesca quantidade de lançamentos, com grandes jogos chegando com poucos dias de distância uns dos outros. “O que aconteceu, no fim das contas, foi que os clientes ficaram confusos com tantos games. Eles não podem comprar todos, por isso, acabam optando por um ou dois e esquecendo do restante”, explica. “Lá fora, essa situação foi sinônimo de uma indústria de vento em popa. Aqui, é sinal de retração”.

O resultado disso foi um esfriamento do contato com as distribuidoras e pedidos menores de cópias, o que dificulta o trabalho com o preço. No final do ano passado, Menon diz ter encomendado quase duas centenas de unidades de GTA 5, que venderam em poucas semanas. Agora, com Assassin’s Creed Unity, esse total não chegou a 50 e algumas ainda permanecem nas prateleiras. “Estou torcendo para que o Natal mude um pouco o cenário”, conclui, sem botar muita fé na própria previsão.

Já estamos grandinhos

controles video game joysticks

Para Glauco D’Alessandro Bueno, diretor da distribuidora Ecogames, foi o amadurecimento do mercado nacional que impediu que as condições econômicas do país afetassem as vendas. Ele admite que as vendas de jogos em 2014 devem ser menores que as do ano passado, mas diz que o mercado deve crescer baseado no sucesso dos novos consoles. “Já começamos a perceber uma queda acentuada nos produtos para PS3 e Xbox 360, com aumento expressivo na nova geração”, afirma.

Trabalhando no topo de uma das maiores publicadoras de games do país, ele também conhece bem a situação dos lojistas e confirma uma menor quantidade de pedidos de cópias, mas discorda da afirmação de que isso seria um reflexo de retração. “Devido ao amadurecimento do setor, todos conseguem ter mais previsibilidade. O que temos vivenciado são compras mais acertadas com o que o consumidor é capaz de absorver”.

Para Bueno, a quantidade cada vez maior de grandes lançamentos deve continuar a movimentar o mercado no ano que vem, assim como esse crescimento mais controlado por parte dos lojistas. Ele afirma que a indústria nacional de jogos eletrônicos está aquecida e as vendas de Natal devem provar esse cenário.

É claro, a situação econômica do país deve continuar afetando o mercado de jogos como um todo, mas pelo que parece, temos aqui um motor que está longe de parar de girar, por mais que o carro que o circunda esteja velhinho e mal cuidado. Melhor para nós, os jogadores.

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