Em um mundo tão lotado de novos jogos, grandes produções e conceitos inovadores (ou não) quando se fala em jogos de tiro, é esquisito pensar que um game com quase 20 anos de idade possa ser tão ou mais divertido que propostas que chegaram às prateleiras na semana passada. São muitos os exemplos de que esse tipo de coisa é totalmente verdadeira, e Duke Nukem 3D é uma prova viva disso.
O título da 3D Realms não foi um dos pioneiros dos FPSs, chegando ao mercado em 1996, anos depois de grandes precursores como Doom ou Wolfenstein 3D. O título, porém, inovou ao trazer uma temática mais adulta e, por que não dizer, ofensiva ao gênero, nas costas de um personagem extremamente carismático e uma trama completamente insana. Uma mistura que deu certo e constituiu o que, até hoje, é um dos melhores games de tiro de todos os tempos.
Jogar clássicos nunca é demais e foi nisso que a distribuidora Devolver Digital pensou quando se uniu à Abstraction Games para levar Duke Nukem 3D: Megaton Edition para o PC e, principalmente, o PS Vita e o PlayStation 3. O game chega recheado de conteúdo, com todas as suas expansões, mas infelizmente, não em sua melhor forma.
Duke Nukem 3D é uma relíquia de um tempo em que os video games ainda eram desafiadores e a morte do protagonista representava alguma coisa. Aqui, a energia do protagonista não se regenera sozinha e as balas são realmente finitas, exigindo pelo menos um pouco de gerenciamento, economia e estratégia por parte do jogador.
A dificuldade, por outro lado, segue uma curva ascendente. Você não vai encontrar desafios insanos logo de começo, mas ao mesmo tempo, verá suas armas mais básicas se tornando cada vez menos eficazes na medida em que os inimigos se tornam mais resistentes e poderosos. Os cenários não são nada lineares e vascular cada cantinho em busca de novos equipamentos e segredos escondidos, principalmente, podem ser a diferença entre a vida e a morte.
Com tudo isso, os jogadores criados a leite com pera acharão, logo de início, a jogabilidade de Duke Nukem 3D bastante complicada. Há vinte anos atrás, era preciso ser “fera” para se dar bem em jogos desse tipo, e o estilo Rambo não era o melhor caminho, apesar da atitude marrenta e forma bombada do protagonista em busca da salvação das mulheres do mundo.
Mas não é como se a responsabilidade pela dificuldade fosse toda do desenvolvimento original feito pela 3D Realms. Ao converter o título para os consoles, a desenvolvedora teve que adaptar os comandos para os joysticks e tomou algumas decisões bastante esquisitas nesse processo. Quem é que usa o botão triângulo para abaixar e o círculo para usar itens do inventário?
Para tornar as coisas um pouco mais fáceis, a Abstraction criou um sistema um tanto quanto inusitado para fazer com que Duke volte à vida. Talvez inspirada na gravação em tempo real dos consoles da nova geração, o título exibe um “replay” da partida até o momento da morte do jogador, permitindo que ele escolha exatamente quando deseja voltar e possa compensar eventuais erros que possam ter levado à derrota.
O problema é que o sistema não funciona tão bem assim, respondendo com certo delay ao pressionamento dos botões. Assim, o jogador pode achar que seu comando não foi computado e pressioná-los novamente, acabando por fazer alguma bobagem. Não há como voltar atrás caso, por exemplo, o jogador sem querer retorne ao começo da fase.
Aliás, falando em problemas de performance, é possível perceber diversos deles ao longo da experiência com Duke Nukem 3D: Megaton Edition. Sem falar no loading bastante comprido que aparece logo no começo da aventura, travamos ocasionais ou lags na movimentação dos personagens podem ser vistos aqui e ali. Seu computador velho, com Windows 95, com certeza rodava o game melhor que o seu PlayStation 3.
Apesar de trazer os gráficos do passado sem muitas alterações, dá para dizer que temos aqui uma remasterização. Ao relançar Duke Nukem 3D, a Abstraction e a Devolver trabalharam com cuidado nas texturas originais para que elas fossem exibidas sem o resultado esticado e bizarro que é comum em relançamentos desse tipo.
É claro, ainda é possível ver os pixels para todos os lados e os personagens ainda têm aquele charmoso aspecto tridimensional “simulado”, em que só é possível vê-los de frente ou de costas, como uma folha de papel. Em alta definição, houve um cuidado para que nada aparecesse estourado ou deformado na tela, com a aplicação de filtros, um cuidado com o aspecto e até redesenhos para que tudo se encaixasse bem às novas resoluções.
No que pôde, porém, houve mudança. Menus e elementos gráficos de interface aparecem totalmente em alta definição e geram um visual bastante agradável aos olhos. De resto, é o mesmo game de sempre, e isso não é nada ruim, já que seus visuais se tornaram clássicos e, mais do que isso, referência para o que veio na sequência.
Além disso, vale menção o fato de termos aqui a edição “definitiva” de Duke Nukem 3D. A Megaton Edition, como o nome já faz imaginar, reúne todo o conteúdo lançado para o título até hoje. São nada menos do que quatro expansões, com todas as armas, fases, inimigos e aventuras pelas quais o personagem passou nos longos anos de vida útil do game.
O maior valor dessa remasterização, porém, não está nos gráficos repaginados ou na quantidade absurda de conteúdo que está presente no título. O mérito da Megaton Edition vai para o fato de a versão mostrar que o game ainda é plenamente capaz de encarar de frente os FPSs da atualidade, vencendo muitas dessas batalhas. É hora de esquecer o fiasco de Forever e jogar um Duke Nukem de verdade.
O game foi analisado no PlayStation 3.