Qualquer jogador de xadrez sabe que o mais importante em uma partida é a movimentação das peças. Mais do que estudar o adversário e procurar uma chance de dar xeque-mate, é preciso saber onde posicionar e quando fazer isso para não deixar que seu oponente avance no tabuleiro. É um exercício de paciência – mas nem sempre prazeroso de se assistir.
E é esse meio de partida que melhor resume The Lost Lords, o segundo capítulo de Game of Thrones. Depois de um começo de temporada bastante tenso e cheio de reviravoltas, a Telltale puxou o freio de mão e dar uma acalmada nas coisas. Assim como acontece na própria série da HBO, este episódio serve mais como um preparativo para o que está por vir do que como algo que vai deixá-lo empolgado.
É a hora dos peões começarem a se mexer pelo tabuleiro – e, como num jogo de xadrez, isso nem sempre é a coisa mais animada do mundo.
Isso não significa, porém, que The Lost Lords é um episódio chato. Ele é apenas bem mais parado que seu antecessor, principalmente por diminuir um pouco o ritmo depois de todas as reviravoltas que vimos antes. Ele ainda se mantém fiel ao espírito de Game of Thrones, inclusive em seus pequenos problemas.
O mais claro deles é exatamente esse efeito “jogo de xadrez” que existe tanto nos livros quanto na série de TV. Enquanto o início e o fim das histórias são capazes de fazer explodir sua cabeça, o meio é um tanto quanto monótono exatamente por você não conseguir visualizar a importância daquelas ações. É a hora de apenas movimentar suas peças pelo grande tabuleiro de Westeros.
Só que, enquanto nas outras mídias essa preparação para as tretas futuras tem um dinamismo bem maior, a falta de ação e mesmo de momentos mais tensos faz com que The Lost Lords acabe sendo um pouco mais monótono do que deveria. É claro que todo o jogo político está ali, mas você ainda não consegue sentir sua real importância e nem suas consequências exatamente pelo fato de este ser um capítulo intermediário, ou seja, sem um começo e muito menos sem um final.
Isso faz com que o andamento da história seja bem mais devagar do que o que vimos em Iron from Ice. Sem um acontecimento de grande impacto — como a morte de Ethan, por exemplo —, você sente que as coisas demoram a progredir e, mesmo quando algo maior acontece, não é nada que vai fazê-lo segurar o controle mais forte.
Ainda assim, este episódio tem seus bons momentos, principalmente ao dar mais força para Mira Forrester em Porto Real e ao trazer um personagem que muitos acreditavam que não poderia mais aparecer. E são eles que mantém o nível elevado, seja com aquele jogo de influência que já conhecemos muito bem ou toda a questão diplomática que deixa bem claro que estamos diante de uma “rodada de preparação”. Os peões ainda estão se mexendo neste tabuleiro.
Por outro lado, é fácil ver grandes potenciais desperdiçados, como é o caso de Asher. O filho renegado da Casa Forrester que já havia sido citado no capítulo anterior e a promessa de finalmente vermos seu temperamento brutal que o fizeram ser exilado em Essos deixa muito a desejar. Por mais que ele traga algumas batalhas consigo, não é nada que vai deixá-lo empolgado.
Novamente, essa queda no ritmo não é algo ruim, mas apenas um banho gelado em quem esperava que as coisas continuassem tão intensas quanto no episódio de estreia. Sem grandes reviravoltas ou momentos de tensão, The Lost Lords é um grande aquecimento para os capítulos futuros, preparando o terreno para todas as tretas que já começam a se desenhar, porém sem entregar qualquer coisa que prenda o jogador de verdade.
Além disso, a Telltale continua repetindo os mesmos erros de sempre, seja em termos gráficos – o que já virou uma constante em seus jogos – ou no próprio sistema de escolhas. Isso porque, apesar de termos vários momentos em que você é posto contra a parede e obrigado a tomar grandes decisões, você continua com a sensação de que a história vai seguir pelo mesmo rumo sem que a sua escolha interfira em algo além do diálogo que vem a seguir.
No fim das contas, The Lost Lords acaba sendo um bom capítulo que sofre exatamente por ser um trecho intermediário do enredo. Ele pode muito bem se revelar fundamental para a coisa toda, mas a impossibilidade de vermos isso reduz muito seu interesse. Por mais que você perceba pontos que vão ser importantes no futuro, nada disso é capaz de fazê-lo segurar mais forte o controle ou deixá-lo ansioso pelo próximo capítulo.
Enquanto as peças de xadrez se movimentam pelo tabuleiro, é bem comum os espectadores bocejarem.