Se você acha que essa gigantesca semana de cinco dias de trabalho antes do Carnaval está sendo torturante o suficiente, pense pelo lado bom: pelo menos você não é Peter Molyneux. O conceituado designer de jogos tem passado por uma verdadeira provação por parte da imprensa e do público, na medida em que fica mais claro que seu grande e revolucionário título, Godus, aparentemente, não vai ser nada disso.
Os problemas começaram na terça-feira (10), quando uma reportagem do Gamespot afirmou que uma série de desenvolvedores com papeis importantes na produção do título estariam deixando a 22Cans, desenvolvedora independente de Molyneux. Eles não se identificaram, mas a saída teria a ver com um único motivo: não seria possível entregar as recompensas e maravilhosidades prometidas durante a campanha de arrecadação de fundos para o game no Kickstarter, e os recém-desempregados não concordavam com isso.
Entre os objetivos que seriam deixados de lado estariam o modo multiplayer – que de acordo com um dos envolvidos, simplesmente não funciona – e o artbook, cuja produção nem mesmo teria sido iniciada. Em resposta, o criador de Godus disse que demissões e contratações de pessoal são comuns em qualquer desenvolvedora e negou os problemas no desenvolvimento do game.
A negativa não durou muito e, também na terça, veio a informação de que o deus do título também teria sido isolado. Caso você não se lembre ou não saiba, um dos principais aspectos de Godus seria a participação de um membro da comunidade durante o ciclo de vida do jogo. Ele seria, efetivamente, uma divindade, controlando todo o mundo do game e recebendo até participação nos lucros.
Essa honraria foi dada a Bryan Henderson, vencedor da competição do game anterior de Molyneyx, Curiosity, realizada em 2013. A promessa era de uma possibilidade que mudaria sua vida, mas a realidade foi de uma quebra total nos contatos e nenhum conhecimento sobre o andamento de Godus. O jovem, de 20 anos, disse ter desistido de entrar em contato com a 22Cans, o que, mais uma vez, motivou declarações públicas do desenvolvedor e a promessa de que os erros seriam reparados logo menos.
Mais uma vez, a questão aqui seria o multiplayer, onde Henderson teria seu reinado. Como o modo está com problemas em sua produção – e corre o risco de nem mesmo existir – o prêmio do jovem também sumiria como lágrimas na chuva. E foi aí que a revolta detonou.
Mentiras, ameaças e bets largados
Em mais uma tentativa de acalmar os ânimos da galera, Peter Molyneux deu uma entrevista ao site Rock Paper Shotgun, na qual foi perguntado, diretamente, se ele seria um mentiroso compulsivo. Ele pareceu incomodado com a questão, mas o repórter John Walker continuou, afirmando que ele havia feito diversas declarações sobre Godus que sabia serem impossíveis de se realizar.
Molyneux tentou negar, mas se enrolou com as palavras. E as coisas só ficaram piores quando ele, questionado sobre o valor acima do objetivo obtido no Kickstarter – ele pedia £ 450 mil e obteve mais de £ 526 mil –, disse ser impossível calcular o custo real de um game, mesmo depois de ter trabalhado com isso por mais de 30 anos. Ao final da entrevista, ainda, admitiu que sua reputação na indústria não anda lá essas coisas.
Ao mesmo tempo, e é aqui que as coisas ficam sérias, ele recebia ameaças à sua integridade física e à de sua família. Por isso, em entrevista ao The Guardian, afirmou que não vai mais falar com a imprensa sobre seus games até que eles sejam efetivamente lançados. Ele explicou que muitas vezes imagina conceitos que nem sempre se tornam realidade, como no caso de Godus, e justamente por isso, ele prefere se afastar.
Molyneux pretende, agora, responder alguns questionamentos dos apoiadores do game no Kickstarter e, depois, se afastar definitivamente da imprensa. Daqui a seis ou nove meses, espera ele, Godus estará em condições de ser exibido ao público e aí sim, acredita ele, as pessoas verão que ele não é um mentiroso. Você acredita?