Nove anos. Esse foi o tempo que a Square nos fez esperar por Final Fantasy XV. E, ao longo dessa quase uma década, muita coisa mudou: abandonou o nome Versus XIII, deixou de ser exclusivo do PS3 para chegar à nova geração e, mais importante do que tudo isso, viu uma paixão morrer. Afinal, não há amor que sobreviva a anos de descaso como aqueles pelos quais passamos.
Isso faz com que chegada de Episode Duscae não seja apenas um aperitivo para o que está por vir. A demonstração é, na verdade, uma segunda chance. Como aquela namorada que pisa na bola e tenta te reconquistar, a Square Enix faz um agrado nos entregando aquilo que nós tanto queríamos.
Em apenas algumas poucas horas de exploração, ela conseguiu fazer com que eu voltasse a sentir aquela mesma paixão que a série despertava em mim no passado. Como alguém que entrou no mundo dos jogos com a franquia, eu sentia falta daquele tesão a cada novo jogo e da ansiedade a cada espera. Há anos eu não sentia isso e era algo que me fazia muita falta. E, com um pequeno fragmento de Final Fantasy XV, o estúdio despertou aquela velha paixão que há tempos estava escondida.
Tudo novo, mas familiar
Muito embora a Square já tenha feito o favor de mostrar todo o conteúdo desta demonstração nos vários trailers de jogabilidade divulgados desde a E3 de 2013, é praticamente impossível para qualquer fã da série não se empolgar ao ver a enorme planície de Duscae à sua frente. Não apenas porque o visual está incrível, mas pelo quanto aquilo consegue ser inédito e, ao mesmo tempo, tão familiar.
Fica claro o quanto Final Fantasy XV é o futuro da série. Por mais que ele não seja o primeiro título a abandonar o sistema de combate por turnos, a forma com que o jogo entra no mundo dos RPGs de ação agrada até mesmo os mais puritanos.
O principal desafio nesse sentido era exatamente trazer o dinamismo aos confrontos, mas sem perder o viés mais tático que sempre acompanhou a franquia. E, embora a impressão inicial é que temos algo muito próximo daquilo que a própria Square trouxe com Kingdom Hearts, não demora para que você perceba como as coisas são bem mais complexas.
O segredo do combate em Episode Duscae está no timing das coisas. Você logo percebe que a movimentação é um pouco mais pesada do que na maioria dos jogos de ação e isso te obriga a dominar as particularidades das batalhas. E a chave para isso está tanto na combinação das diferentes armas usadas pelo príncipe Noctis quanto no uso da esquiva.
Isso faz com que esmagar os botões seja a maneira menos eficiente de lidar com seus problemas. Por mais que isso possa até funcionar em determinados embates, sobretudo contra criaturas mais fracos, não demora para você perceber que agir assim é bastante arriscado.
E parte disso ocorre exatamente porque o jogador precisa ficar atento a pequenos detalhes que tornam seus ataques mais precisos, efetivos e poderosos. O MP, por exemplo, não é mais usado apenas para conjurar magias, mas para a realização de uma série de ações. A própria esquiva e o uso do Parry — uma mecânica de defesa fundamental para quem quer se dar bem por aqui — consomem esses pontos, assim como o teleporte usado por Noctis.
Dessa forma, é preciso dosar o uso dessas habilidades para não ficar exausto no meio do quebra pau e, ao mesmo tempo, utilizar ao máximo esses movimentos para causar o maior tipo de dano e naquele ritmo frenético que todos esperam ver em um RPG de ação.
Por outro lado, Final Fantasy XV não consegue distanciar de Kingdom Hearts em outros aspectos. Por mais que ele tenha uma mecânica e um “peso” bem diferente, alguns problemas se repetem. É o caso da câmera, que é igualmente confusa e caótica. Não é raro você se perder no meio de um confronto e começar a atacar o nada, assim como ser obrigado a observar uma parede enquanto todos os seus inimigos estão em algum dos muitos pontos cego criados.
A instabilidade também incomoda bastante. Levando em consideração que o timing é parte fundamental do combate, as constantes quedas de frame rate atrapalham demais e é bem comum você perder o tempo de um Parry por conta de uma engasgada. Tudo bem que é compreensível ver esse tipo de coisa acontecendo em uma demo de um jogo deste porte, mas não há como não se irritar.
Muito para ver, pouco o que fazer
Não espere que Episode Duscae traga qualquer detalhe sobre a trama geral do jogo. Os diálogos podem até sugerir algumas questões, assim como a animação final, mas a demonstração parece ser um recorte tão específico de tudo que mal é possível entender o que está acontecendo.
No pouco que é mostrado, sabemos que Noctis e seus companheiros estão presos naquele local após seu carro quebrar e eles precisam caçar um enorme Behemoth para conseguir pagar os reparos. Uma trama simples, mas que serve para apresentar alguns elementos fundamentais do jogo.
Além do sistema de quests, esse contexto serve para deixar bem claro que, ao contrário dos últimos títulos da série, Final Fantasy XV será bem amplo e com muitas possibilidades de exploração. E, nesse quesito, a demo realmente impressiona.
Tudo é grandioso e feito para encher seus olhos. A geografia do local, as criaturas que você vê ao longe, o gigantesco Ramuh e a própria dimensão da área disponível são coisas feitas para deixar o jogador encantado do começo ao fim, principalmente após se deparar com os belíssimos gráficos.
Por outro lado, essa imensidão logo é posta em xeque quando você percebe que não há muito o que fazer além de correr de um lado para o outro e enfrentar alguns poucos inimigos. Ao todo, são apenas seis tipos de oponentes e isso faz com que tudo fique um tanto quanto repetitivo depois de um tempo.
É claro que estamos falando de algo específico desta demo, o que não significa que veremos esse tipo de coisa acontecendo na versão final de Final Fantasy XV — ou assim esperamos. O ponto é que, para quem pretende ir atrás de Type-0 apenas por conta de Episode Duscae, pode ser que o investimento não valha tanto a pena assim.
Dando início à espera
Se a ideia era trazer somente um aperitivo para aquilo que está por vir, a Square Enix foi além. A demonstração de Final Fantasy XV é tudo aquilo que a gente esperava ver um título da série e muito mais. Ele não só mostra que a franquia resgatou muitos aspectos clássicos que se perderam nos últimos títulos como ainda consegue apontar um futuro bastante promissor para um dos RPGs mais icônicos do mercado.
É claro que Episode Duscae tem seus problemas, mas estamos falando da demo de um jogo que não tem previsão de lançamento definida — o que significa que muita coisa pode mudar, inclusive em pontos que achamos positivos. Tudo o que vimos é apenas uma prévia do que está por vir, mas nada certo.
Ainda assim, Noctis e sua boy band caminham em direção a algo que certamente vai agradar aos fãs da série. O trecho selecionado, apesar de vazio, está ali para mostrar apresentar a combinação de dinamismo e estratégia do sistema de combate, assim como a liberdade que tanto prezamos em um título assim. E, obviamente, o visual que não poderia faltar em um Final Fantasy.
O confronto contra o temido Behemoth é o maior exemplo de como as coisas estão ficando. Embora seja bastante caótico por conta da câmera e da combinação entre inimigo gigantesco e o show de luzes de seus ataques, tudo é muito ágil e bastante orgânico. Além disso, o cenário deixa de ser um simples pano de fundo e passa a ser parte de sua estratégia.
Não há como não se empolgar ao ver Noctis se teleportando de um lado da tela para outro e emendar uma série de ataques com armas diferentes. Cada golpe tem seu peso e é preciso saber a hora de usar uma habilidade ou mesmo uma esquiva para sobreviver à fúria do monstro. E, se tudo der errado, basta invocar o colossal Ramuh para resolver tudo.
No fim das contas, a Square conseguiu fazer com que esquecêssemos que esperamos quase 10 anos por qualquer novidade significativa de Final Fantasy XV. Como boas mulheres de malandro, sofremos ao longo de todo esse tempo para, no fim, nos lembrarmos do porquê sermos apaixonados por esta franquia.
Final Fantasy voltou melhor do que esperávamos.