O início desta nova geração vem sendo bem peculiar. Embora todos estejam sedentos por novidades, tanto PS4 quanto Xbox One estão sendo invadidos por remasterizações. E não são versões de games antigos, mas de títulos de um ou dois anos atrás.
Isso revela algo bem curioso. É claro que esse borbadeio de relançamentos também é uma estratégia de lucro fácil por parte das empresas em cima de games já consagrados, mas esse fenômeno mostra o quanto as produtoras já estavam trabalhando no limite dos consoles há algum tempo. E é aí que essas novas edições mostram seu verdadeiro valor.
No caso de DmC: Devil May Cry – Definitive Edition, isso fica bem claro. Embora não traga quase nenhum conteúdo inédito em relação ao que vimos em 2013, ele se aproveita de todo o potencial das plataformas atuais para nos entregar aquilo que ele realmente deveria ter sido quando chegou às lojas pela primeira vez. Mesmo sem um grande apelo para atrair quem já conhece o novo Dante, ele justifica muito bem o título de definitivo.
Para alcançar esse feito, a Capcom decidiu se concentrar exatamente naquilo que faltava ao game original: desempenho. Apesar de a reinvenção de Devil May Cry ser um dos melhores Hack ‘n’ Slash a chegar aos consoles, ele sofria com constantes engasgadas que quebravam todo o bom ritmo dos combates. E nem mesmo o fato de rodar a 30 fps em 720p ajudou a diminuir as quedas de framerate, o que atrapalhava bastante a resposta dos controles e a execução de grandes combos.
Com a Definitive Edition, o problema desaparece. Como mencionado anteriormente, o poder de fogo do PS4 e Xbox One permitiram que o jogo ficasse muito mais próximo daquilo que a Ninja Theory imaginou inicialmente, rodando de maneira muito mais lisa e sem travamentos para tirá-lo do sério.
Isso significa que você pode enfrentar as hordas de demônios de Mundus a incríveis 60 fps em 1080p e não sentir o jogo pesado ou o console sofrendo no processo. Isso faz com que o combate que já era muito bom fique ainda melhor. Com tudo rodando liso, os controles respondem de maneira mais eficiente e isso faz com que os golpes engatem com mais facilidade, ajudando na realização de grandes sequências de ataques.
É apenas um detalhe em relação àquilo que vimos em 2013, mas que faz toda a diferença no conjunto da obra. Na época, DmC: Devil May Cry surpreendeu e se revelou um game bem acima da média. Com a versão definitiva, a Capcom apara as únicas arestas que faltavam.
Para complementar, o estúdio trouxe algumas pequenas adições que ajudam a complementar o novo pacote. É o caso do chamado Turbo Mode, que deixa as coisas ainda mais frenéticas. Com tudo se movendo 20% mais rápido que o habitual, o ritmo já acelerado do jogo fica ainda mais intenso e desafia o jogador a acompanhar toda essa loucura — algo que fica muito divertido quando você se acostuma.
Ainda para os fãs de dificuldade, DmC: Devil May Cry – Definitive Edition recebeu novos modos que aumentam o desafio e vão testar as habilidades até mesmo daqueles que se consideravam bons Nephilins. Assim, se você precisava de uma desculpa para conferir como Dante está se saindo nesta nova geração, o Must Style e o Gods Must Die são algumas boas razões para fazê-lo voltar ao Limbo.
Além disso, todo o conteúdo das DLCs lançadas para o game já estão inclusas nesta versão. Isso significa que você tem desde o início a opção de controlar o irmão do protagonista no extra A Queda de Vergil, além de contar com as roupas alternativas — o que inclui o visual clássico de Dante — e variações de suas armas.
Ainda neste aspecto, um pequeno adendo. É engraçado como chegamos aos novos consoles e os títulos ainda cometem deslizes pequenos, mas capazes de atrapalhar bastante a experiência. Em DmC: Devil May Cry, isso acontece quando você opta por um skin diferente para o personagem principal e percebe que a produtora não soube lidar com essa alteração durante as cutscenes. Assim, se você traz um Dante de cabelos brancos ou mesmo sem o icônico sobretudo, prepare-se para ver a alternância de versões em diferentes trechos da mesma cena, revelando uma enorme salada na programação de algo que deveria ser simples.
Como falei na análise de Majora’s Mask, um relançamento é uma segunda chance para a produtora corrigir problemas em seus jogos e fazer com que eles sejam muito melhores do que vimos originalmente. E DmC: Devil May Cry justifica o título de versão definitiva ao fazer exatamente isso.
Já era de conhecimento geral que PS3 e Xbox 360 há tempos trabalham em seus limites e agora podemos ver o quanto essa limitação prejudicou o game na primeira vez que ele chegou às lojas. Tanto que, na nova geração, ele chega muito perto da perfeição técnica e entrega um Hack ‘n’ Slash ainda mais refinado e divertido. É o aprimoramento daquilo que já era genial.
DmC: Devil May Cry ainda não traz nenhuma mudança para convencer os fãs conservadores que continuam a fazer cara feia. No entanto, quem está perdendo são eles. Quem aproveitar esse relançamento e todas as pequenas melhorias para dar uma segunda chance vai ver o quanto esteve perdendo nestes últimos anos. Um jogo é muito mais sobre a cor do cabelo ou a postura de um personagem — e Dante nos lembra muito bem disso.