Depois do sucesso de Mortal Kombat, todos estavam curiosos para ver o que a NetherRealm traria para sua sequência. Em 2011, o estúdio reinventou a franquia ao retornar às suas origens e ao ter adicionado uma série de novidades que agradaram a grande maioria dos fãs.
Diante disso, era óbvio que todos estariam curiosos para saber como a empresa iria continuidade àquilo tudo. Com Mortal Kombat X, ela teria de nos surpreender mais uma vez, principalmente após o excelente trailer de anúncio e a chegada do jogo à nova geração. Era a chance da companhia mostrar o que Scorpion e Sub-Zero eram realmente capazes de fazer.
E, de certo modo, o título traz tudo aquilo que podíamos esperar. Com novos personagens, recursos inéditos e uma continuação ao aclamado modo história, tudo caminhava para termos outra grande iteração da série. No entanto, o game tropeça em pontos básicos e, apesar de não fazer feio, se perde no meio do caminho e fica bem longe daquilo que queríamos ver.
Depois do ótimo modo história apresentado no último Mortal Kombat, era natural que a principal curiosidade em torno de MKX ficaria em torno do modo como a NetherRealm iria dar sequência àquilo tudo. Se o jogo anterior conseguiu recontar a trama clássica, era óbvio que veríamos agora os desdobramentos daquilo tudo em uma releitura do que foi apresentado em Mortal Kombat 4, certo?
Na verdade, mais ou menos. A premissa básica do enredo realmente parte daqueles acontecimentos, mas o estúdio optou por fazer algo diferente e surpreender todo mundo. Em vez de simplesmente reproduzir uma trama já conhecida, ele mostrou os desdobramentos da luta contra Shinnok 20 anos no futuro. E é aqui que começa a salada.
A ideia de mostrar o destino dos diferentes planos após a queda de Shao Khan ao mesmo tempo em que o deus maligno tenta ressuscitar é algo realmente bem interessante. Embora seja extremamente galhofa ver ninjas, militares e demônios se misturarem em uma história de invasão de mundos e coisa e tal, tudo isso faz parte da mitologia da série e aquilo que nos é apresentado acaba sendo uma evolução lógica desse bagunçado universo.
Por outro lado, para introduzir os novos personagens e deixar mais do que claro que o tempo passou, a desenvolvedora optou pela saída mais fácil e preguiçosa. Ao melhor estilo infantil usado nos desenhos da Hanna-Barbera, a NetherRealm inventou de trazer os filhos e sobrinhos dos protagonistas originais em uma medida que, apesar de funcionar, não consegue evitar a sensação de ser algo forçado, beirando o ridículo.
E não apenas porque não faz o menor sentido pegar personagens clássicos e transformá-los em casais, mas porque essa nova geração nada mais é do que uma versão genérica de seus antepassados. Cassie Cage é uma clara mistura de Sonya e Johnny Cage, do mesmo jeito que Jacqui Briggs tenta emular muitos dos movimentos de Jax. E isso fica ainda mais evidente quando os personagens antigos ainda estão presentes no jogo.
O pior é que esses novatos não conseguem convencer nem mesmo no modo história. As motivações de Kung Jin e Takeda são absurdamente rasas. Assim, sem um estilo de combate inventivo e nem mesmo um papel de importância no enredo, eles se tornam rapidamente descartáveis.
E, se os novos heróis não convencem, os vilões estreantes conseguem seu lugar ao sol. D’vorah e Kotal Khan possuem estilos bem peculiares e conseguem fazer com que controlá-los seja algo bem diferente do que estamos habituados a ver. O mesmo acontece com a dupla Ferra/Torr, que trazem uma mecânica “dois em um” que vai surpreender muita gente.
Deste modo, por mais que Mortal Kombat X expanda o elenco da série de maneira considerável, muitas das novas adições são apenas variações básicas daquilo que acompanhamos há anos. Assim como tínhamos uma galeria de ninjas em que a única mudança de verdade era a cor da máscara, a nova geração de kombatentes ainda precisa encontrar maneiras de se destacar em meio aos nomes clássicos da série.
Enquanto o game anterior tinha um enredo conciso e que, mesmo com seus exageros, funcionava, Mortal Kombat X tenta expandir seu universo de uma forma tão grande que não chega a ser surpresa o quanto ele se perde no meio do caminho. Como dito anteriormente, a premissa básica da trama gira em torno dos esforços dos soldados do Plano Terrestre de impedir que o exército de Quan Chi ressuscite Shinnok. E, apesar de esse ser um argumento bastante válido, a forma como tudo acontece é uma verdadeira bagunça.
E não apenas pela introdução dos novos personagens que pouco acrescentam ao enredo, mas porque há muita coisa que é simplesmente jogada ali apenas para criar cenas legais ou confrontos específicos. Tanto que, em muitos momentos, as coisas não fazem sentido.
Repleta de flashbacks não acrescentam nada, a história traz alguns heróis dos mortos sem muita explicação e faz com que outros mudem de lado sem razão aparente. Isso sem falar que todo o elenco da Exoterra está ali só para fazer um fervo inicial e sumir logo em seguida — embora a ideia de criar uma guerra civil entre as tropas de Kotal Khan e Mileena seja algo bem legal, mesmo que sendo desperdiçada em pouco tempo.
O curioso é que todo mundo caiu em cima da dublagem como se ela fosse o principal problema do game. A Pitty não está tão ruim como muitos fizeram questão de apontar, embora ela seja realmente limitada por não ser uma profissional do gênero. No entanto, o maior deslize aqui não é nem pela escolha da cantora, mas pelo próprio roteiro, que é fraco e não se sustenta — principalmente ao ouvirmos o quanto isso soa absurdo em nosso idioma.
Assim, se você gostou da forma como a NetherRealm resolveu todos os problemas de cronologia com o jogo de 2011, prepare-se para ver todas as incongruências e problemas que atingiram a série ao longo dos anos ressurgirem em Mortal Kombat X.
Se a campanha é uma tragédia, o que realmente salva o game é sua jogabilidade. O estúdio se preocupou em trazer novidades realmente significativas ao sistema de combate e conseguiu introduzir elementos que certamente vão fazer muita diferença dentro do cenário competitivo.
Cada personagem três estilos diferentes que alteram quase que completamente a forma de jogar. Alguns vão focar no aspecto ofensivo do lutador ou priorizar a defesa ou mesmo o contra-ataque, o que faz com que cada nome do elenco tenha, na verdade, três facetas bem distintas à sua disposição.
Essa diferenciação muda várias aspectos básicos dos personagens, sobretudo seus golpes. Enquanto alguns movimentos são padrões, outros só estão disponíveis em determinado estilo, o que faz com que você tenha de aprender a jogar de três modos distintos com cada lutador.
Pode parecer confuso à primeira vista, mas é o tipo de coisa que você se acostuma com a prática, principalmente testando as novidades e procurando qual modo se encaixa ao seu modo de jogo. Por outro lado, é preciso também estar atento ao estilo de seu oponente para saber como se adequar a ele.
Além disso, a NetherRealm aproveitou muito do que ela introduziu em Injustice para deixar as coisas mais agitadas em Mortal Kombat X. A mais óbvia delas são as interações com o cenário, que chegam aos kombates como uma forma a mais de inflingir dor ao seu oponente.
Ao contrário do que tínhamos no jogo inspirado nos heróis da DC, a utilização do ambiente como forma de ataque está bem mais ágil e natural. Sem longas animações, arremessar um pedaço de pedra ou mesmo um espectador desavisado contra um inimigo não quebra o ritmo da batalha e deixa tudo ainda mais orgânico.
Por outro lado, muitas das arenas disponíveis trazem uma absurda poluição visual com pequenos efeitos que, na prática, não ajudam em nada além de mostrar o quanto o game consegue processar partículas independentes. O problema é que essa chuva, neve ou fuligem não apenas atrapalha a visualização como ainda compromete o framerate da luta. Para a grande maioria dos jogadores isso pode até passar despercebido, mas com certeza veremos esses locais sendo banidos de vários campeonatos para evitar possíveis dores de cabeça. É o tipo de coisa feita apenas para chamar a atenção, mas sem se preocupar com a sua real utilidade e viabilidade.
Enquanto muita gente comemora o retorno dos Brutalities à série — mesmo que com uma forma completamente nova de executá-los —, o que realmente chamou a atenção em Mortal Kombat X foi o inédito sistema de Facções.
A ideia é bastante simples: você se alia a uma das cinco facções disponíveis e ganha pontos para aquele grupo à medida que joga, seja no online, com amigos em partidas locais ou mesmo no modo história. Basicamente, todas as suas ações dentro do game contam para sua facção e ainda há alguns desafios extras que aumentam esse número.
Assim, o desafio está tanto em manter seu grupo no comando quanto em defender sua posição em combates específicos. Trata-se de uma maneira simples e inteligente de incentivar as pessoas a estarem sempre conectadas e recompensá-las com pequenos desafios que incentivem estratégias diferentes, além de oferecer novos modos de jogo.
É curioso ver como o principal acerto do último game se transformou na grande falha de Mortal Kombat X. O modo história até parte de uma boa premissa, mas não consegue se desenvolver de maneira convincente e se torna uma das coisas mais chatas de todo o jogo.
Tanto que o principal problema da dublagem não é o amadorismo esperado da Pitty, mas deixar claro o quão ruim é o seu roteiro. É raro ter um game que me faça sofrer por continuar jogando e MKX conseguiu essa terrível proeza.
Por outro lado, todo o resto do jogo consegue se sustentar muito bem. Mesmo com muitos dos novos personagens sendo genéricos e sem um pingo de carisma ou apelo, as novidades da NetherRealm fazem com que o título se mantenha atual e relevante para os fãs da série e para quem quer um bom jogo de luta. O sistema de estilos funciona e traz vida nova aos combates, criando uma dinâmica diferenciada e um ritmo próprio de acordo com o tipo escolhido.
Mortal Kombat X pode não manter o mesmo bom nível de seu antecessor, mas continua tão divertido (e brutal) quanto. Ele possui sérios problemas em pontos importantes, mas que conseguem ser deixados de lado quando você vê o quão benéficas foram as demais novidades que ele recebeu. É o tipo de prazer sádico que só os fãs da série são capazes de entender.
O game foi analisado no PlayStation 4, em cópia cedida pela Warner.