Todo mundo já sonhou em ter super-poderes. Ser algo mais e poder fazer a diferença. Mudar o mundo com suas próprias mãos. No entanto, o que pouca gente percebe é que essa capacidade de transformação não se resume ao que podemos ou não fazer, mas na coragem de dar o primeiro passo para criar essas mudanças.
E o segundo capítulo de Life is Strange deixa isso bem claro. Enquanto o episódio anterior falava exatamente sobre segundas chances, Out of Time vai além e trata de algo igualmente humano: a empatia. É exatamente a capacidade de Max de se importar com as pessoas ao seu redor que permite que ela faça a diferença por ali.
E, por mais que os poderes de voltar no tempo pareçam ser algo fundamental nessa tarefa, o jogo faz questão de mostrar que nem sempre sua habilidade é o suficiente para solucionar seus problemas. Às vezes, quando tudo parece estar perdido, você não precisa de alguém com poderes para acabar com seus problemas, mas de uma palavra que o ajuda a superá-los.
Embora o sistema de escolhas e consequências não seja nenhuma novidade, Life is Strange consegue fazer com que o peso de suas decisões seja realmente sentido. Ao contrário do que vimos em outros jogos do gênero, não demora para que muito daquilo que você fez no primeiro episódio já comece a mostrar seus reflexos neste segundo capítulo.
E o que mais chama atenção é o quanto as suas ações reverberam em Out of Time. Reproduzindo o princípio básico da Teoria do Caos, até mesmo aquelas escolhas pequenas e aparentemente inofensivas feitas no episódio de abertura resultam em coisas bem maiores e mais impactantes por aqui.
Com um roteiro muito bem construído, Life is Strange faz com que nos importemos com os personagens à nossa volta, o que torna as escolhas — e principalmente as consequências — ainda mais duras.
Seja pela intensidade do roteiro e suas reviravoltas ou pelo fato de o controle do tempo nos dar a falsa sensação de estarmos no controle das coisas, mas o fato é que Life is Strange consegue fazer com que você realmente se sinta impotente diante de tudo o que acontece. Tudo se desenvolve de maneira tão orgânica e natural que é difícil prever o que vai acontecer e, assim como acontece em nossas vidas, a melhor solução encontrada é apenas esperar para ver no que aquilo vai dar.
E é a partir desse artifício que o jogo começa a nos mostrar que o poder de Max não é nada além de um mecanismo de jogabilidade e não a solução dos problemas da protagonista. Por mais que ela possa dar um Ctrl+Z para solucionar algumas questões, seu poder ainda não é capaz de fazer sua vida e de quem está ao seu redor ficar melhor.
Para isso, o segredo está em conversar com os demais estudantes da Blackwell Academy e ouvir seus dramas e servir como aquela pessoa que está ali para realmente fazer a diferença em meio aos problemas do cotidiano. O verdadeiro poder de Max é, na verdade, se importar com todo mundo.
O jogador se acostuma com as facilidades de voltar no tempo, mas percebe o quão impotente ele é diante de certas situações. Há momentos em que nem mesmo todas as suas habilidades são capazes de ajudar.
Pode parecer o tipo de discurso de auto-ajuda maçante, mas que funciona muito bem dentro do jogo. A Dontnod soube dosar as linhas de diálogo com os pequenos puzzles envolvendo a manipulação do tempo para criar um bom equilíbrio entre momentos de conversa com ação e exploração. Há alguns momentos de quebra de ritmo, mas nada que realmente comprometa a experiência.
Mais do que isso, Out of Time dá continuidade àquilo que o primeiro episódio apenas pincelou e aprofunda algumas questões bem mais delicadas. Mantendo a temática adolescente vista antes, o novo capítulo se dedica quase que inteiramente a assuntos como o bullying e a consequência desse comportamento.
E é aí que vemos como Max realmente faz diferença dentro desse universo. O roteiro de Life is Strange é tão bem construído que você realmente se importa com os personagens coadjuvantes e tenta, do seu jeito, ajudá-los. Ainda que os poderes da garota sejam bem úteis nessa empreitada, é a empatia criada por cada um dos estudantes que faz com que as consequências de seus atos ganhem peso.
Isso fica bem claro no clímax do episódio. Ao fazer com que nos acostumemos com a facilidade oferecida pelo controle do tempo, a Dontnod também nos faz esquecer de como é difícil lidar com as consequências e com situações que fogem do nosso controle. E é exatamente quando mais precisamos desses poderes que eles nos faltam.
Assim, Life is Strange mostra que, às vezes, nos deparamos diante de situações em que somos tão impotentes que nenhuma habilidade pode resolver aquele problema. E, quando isso acontece, a única a única coisa que nos resta é se importar com o outro — e torcer para que alguém se importe conosco.