Sem muita surpresa, a Ubisoft revelou ao mundo o novo jogo de sua mais popular série. Só que Assassin’s Creed: Syndicate chega ao PC, PS4 e Xbox One no dia 23 de outubro com uma responsabilidade muito maior nas costas do que simplesmente dar continuidade à milionária franquia. Depois de todas as críticas que caíram sobre Unity, o novo game precisa arrumar muita coisa para reconquistar os fãs.
Isso é tão verdade que, durante a apresentação de anúncio, a própria desenvolvedora apareceu com uma espécie de pedido de “Perdão pelo vacilo” por causa do último jogo. Análises negativas e a própria opinião dos produtores mostraram que nem mesmo eles ficaram satisfeitos com o resultado — algo que eles vão tentar reverter neste ano.
Para isso, a empresa prometeu trazer várias mudanças e melhorias. Há um novo contexto histórico, novos protagonistas, um sistema de combate remodelado e várias outras adições. No entanto, a gente já ouviu todas essas promessas antes e, apesar de toda a aparente boa vontade, aquele gosto agridoce da decepção ainda persiste. Então, o que Syndicate precisa fazer para superar a descrença e mostrar que a franquia ainda continua em boa forma?
Listamos alguns dos pontos que precisam ser refinados neste novo Assassin’s Creed para que ele não repita os erros de seu antecessor.
Desenvolvendo os novos personagens
Em Syndicate, a Ubisoft decidiu inovar ao trazer a primeira dupla de protagonistas jogáveis da série. Conforme anunciado, os jogadores poderão alternar a qualquer momento entre os irmãos Jacob e Evie Frye e explorar Londres a partir das habilidades individuais.
No entanto, o primeiro desafio da empresa nesse sentido é exatamente fazer com que a trama desses personagens seja realmente convincente. Em Unity, Arno tinha muito potencial como herói, mas o enredo não soube desenvolvê-lo e acabou que a coadjuvante Élise se tornou a coisa mais legal do jogo. E, desta vez, essa preocupação é em dobro.
Por outro lado, o fato de termos uma dupla de protagonistas pode ser o ponto de destaque em Assassin’s Creed: Syndicate. Como já foi mostrado no trailer, as personalidades de Jacob e Evie são bem diferentes e isso pode criar uma sinergia interessante entre eles. É quase como uma versão melhorada daquilo que tínhamos entre Arno e Élise, mas sem toda aquela ladainha de romance e vingança.
O ponto é que a franquia parece ter perdido a mão com seus heróis desde o término da saga de Ezio. O contexto histórico, o pano de fundo envolvendo a Abstergo e todo o resto servem apenas para impulsionar e enriquecer o universo dos protagonistas — e não o contrário.
A História como seu playground
A Revolução Francesa rendeu um bom pano de fundo para Assassin’s Creed: Unity, mas serviu mais para a Ubisoft entulhar as ruas de NPCs do que trazer algo relevante ao enredo ou à jogabilidade. E, agora que já sabe do que seu motor gráfico é capaz, ela pode deixar as firulas de lado para se concentrar nas peculiaridades do século XIX.
E é aí que a Revolução Industrial pode ser a grande sacada de Assassin’s Creed: Syndicate. Como o jogo se passa em 1868, temos uma Londres tomada pelo caos da explosão populacional e rodeada de problemas sociais. A própria descrição do jogo destaca essas diferentes de classes e a exploração da classe operária como algo importante dentro da trama.
Assim, todo o contexto de gangues, guetos e o submundo londrino não só ajuda a enriquecer o universo do game como ainda traz várias possibilidades que podem ajudar o título a ser mais variado do que Unity foi. Já sabemos que tanto o sistema de combate quanto a própria pancadaria generalizada vão ser fortemente influenciados na realidade do século XIX, então já é um grande avanço em termos de ambientação.
Se Syndicate souber como usar esses elementos para criar um bom cenário para sua trama, aí o novo Assassin’s Creed não apenas vai se distanciar de Unity como de todos os últimos jogos da série que pecaram nesse sentido. O charme da franquia sempre foi a forma como tudo isso ajudou a destacar seus protagonistas.
Adicione a isso um vilão de verdade e o jogo tem tudo o que precisa para nos fazer esquecer o desastre do ano passado.
Aquilo que é importante
Com Assassin’s Creed: Syndicate, a Ubisoft tem a grande chance de se redimir dos erros cometidos em Unity e, de todos os problemas que o game apresentou, o que mais chamou a atenção foi certamente a grande quantidade de bugs, problemas gráficos e uma série de outros problemas de desempenho. No entanto, como ela pode corrigir isso?
A resposta é simples: se concentrando naquilo que realmente importa para o jogo. Com a próxima iteração da série, ela precisa focar naquilo que é necessário e importante para contar a história que nós queremos ver e se ater menos àquela masturbação em torno do que o motor gráfico é capaz de fazer. De nada adianta entulhar dois mil NPCs na mesma tela se eles não vão fazer nada além de deixar o personagem em câmera lenta.
Então, agora que todas as firulas com a engine já foram feitas e os desenvolvedores viram que os fãs estão mais interessados em algo que funcione em vez daquilo que serve apenas pra impressionar nos trailers, chegou a hora de jogar esse elefante branco no lixo e apresentar a coisa de uma forma que ela realmente funcione.
A rápida demonstração de jogabilidade de Syndicate mostrou que ele ainda está muito parecido com Unity em termos visuais, mas sem todo aquele exagero que afetou diretamente o desempenho do game. Ainda temos as ruas cheias de pessoas, mas nada absurdo ou que pareça comprometer seu funcionamento. É claro que ainda é cedo para dizer qualquer coisa e devemos ter um parecer mais crível disso na próxima E3, quando vamos poder controlar os irmãos Frye pela primeira vez. No entanto, as impressões iniciais nesse sentido são bem positivas.
Outro ponto que mostra que a Ubisoft está mais focada neste novo Assassin’s Creed é que eles decidiram dar uma pausa ao modo multiplayer para se concentrar inteiramente no desenvolvimento da campanha. Embora as missões cooperativas de Unity tenham sido interessantes, o fato de online não estar presente desta vez mostra que eles preferiram sacrificar algo em prol de um bem maior. Ou assim esperamos.
Não seja canalha
Ubisoft, pelo amor de tudo o que é mais sagrado nesse mundo: não seja canalha. É sério. A gente já entendeu que todos estão muito orgulhosos com sua engine nessa nova geração, mas vocês não precisam colocar uma centena de baús espalhados pelo mapa para nos forçar a andar por ele inteiro. Se o jogo for bom, a gente vai fazer isso de qualquer jeito.
Pode parecer uma crítica banal, mas toda a história dos itens por toda Paris em Assassin’s Creed: Unity foi algo que realmente irritou muita gente — e com razão. Não apenas porque era um desafio estúpido, mas por ser um grave sintoma de como o jogo era vazio. Apesar de todo o discurso de que teríamos um mundo enorme para ser explorado, não demorava para perceber que não havia necessidade de ele ser tão grande assim e, para preencher essas lacunas, a produtora espalhou baús por todos os cantos para forçar os jogadores a visitarem buracos onde não havia nada.
Assim, com Syndicate, a gente só pede que vocês não repitam isso. De verdade. Tudo bem fazer um cenário gigantesco — todo mundo está fazendo, não é mesmo? —, mas saibam como preenchê-lo. A exploração deve ser feita de maneira orgânica, incentivando o jogador a vasculhar cada cantinho do ambiente em busca de algo novo e Unity passou longe de fazer isso.
E Londres tem um enorme potencial para trazer algo diferente nesse sentido. Como vimos no trailer de anúncio, a cidade ainda sofre com as mudanças causadas pela Revolução Industrial e ainda não se adequou às loucuras dos novos tempos, então essa é a chance da Ubisoft conseguir criar diferentes tipos de situações que façam o jogador a viajar de um canto a outro da capital inglesa — principalmente agora que é possível usar carruagens para se locomover com mais facilidade.
Outro ponto é a própria variedade de missões. O século XIX é um prato cheio para a série explorar diferentes acontecimentos e a simples escolha de Londres como palco do novo jogo ajuda nesse sentido, já que a cidade era o coração do mundo na época. Assim, por favor, chega de apenas perseguir, escoltar ou matar um alvo em determinado lugar ou inserir saltos temporais que não fazem o menor sentido para a história. Que Syndicate aproveite as gangues, as inovações tecnológicas e todas as novidades de jogabilidade para desenvolver os irmãos Frye e o contexto histórico escolhido.
Assassin’s Creed foi, por muito tempo, uma série que era referência de franquia que conseguia se manter fiel àquilo que ela tinha de melhor, mesmo com seus lançamentos anuais. Contudo, de um tempo pra cá, a Ubisoft vem perdendo a mão com sua principal marca. Assim, esperamos que Syndicate faça com que os assassinos deixem de ser uma piada para voltarem a se destacar — ou talvez seja a hora de deixar os Templários vencerem e dar um tempo nessa guerra.