A E3 é como um jogo de cartas marcadas no qual você sempre sabe o que esperar. No entanto, às vezes aparecem alguns games que quebram essa lógica monótona e chama a atenção exatamente por mostrarem que o evento ainda é capaz de nos surpreender.
Neste ano, o responsável por este feito foi exatamente o discreto For Honor. Ainda que seu anúncio durante a conferência da Ubisoft não tenha sido nada fora do comum, colocar as mãos título se revelou uma das experiências mais divertidas da feira exatamente por ele não se preocupar em ser algo complexo e repleto de mecânicas complexas. Ele quer ser apenas simples — e esse é o seu maior trunfo.
Caindo na porrada
É claro que, à primeira vista, For Honor causa estranhamento por causa de sua proposta. Afinal, samurais, cavaleiros e vikings estão separados não apenas por milhares de quilômetros, mas também por alguns séculos. Assim, o que justifica esse encontro tão inusitado?
A verdade é que, não importa. Assim como em uma brincadeira de criança você não precisa encontrar sentido entre os elementos, o jogo faz exatamente a mesma coisa. Afinal, se a ideia é ser apenas divertido e não trazer uma história ou qualquer outro elemento que exija uma contextualização, buscar sentido é inútil.
E isso fica bem claro a partir do momento em que você entra no mundo de batalhas do game e percebe que ele é totalmente voltado à sua jogabilidade, dispensando esses detalhes. Saber o porquê dos vikings estão em guerra com os samurais não faz a menor diferença — e é esse absurdo que dá um tempero a mais à coisa toda. A graça está mesmo quando você parte para a porrada.
Essa proposta funciona muito bem, principalmente quando os dois exércitos se chocam. No modo disponível para testes na E3, chamado de Dominion, duas equipes com 4 jogadores de cada lado precisavam conquistar pontos específicos do mapa ao mesmo tempo em que eliminavam as hordas de inimigos que avançavam pelo seu território.
A princípio, todo esse caos nos dá a impressão de que For Honor é um musou ocidental; um Dysnaty Warriors da Ubisoft. As semelhanças são claras, seja pelo objetivo principal do modo ou pela facilidade com que seu guerreiro acaba com os inimigos em seu caminho. Ainda que dezenas de vikings corram na sua direção, bastam um ou dois golpes para fazê-los cair.
Porém, você logo percebe o quanto o jogo é muito mais do que isso. O grande segredo do game está no seu sistema de combate, que envolve muito de estratégia com uma boa dose de timing e observação dos seus oponentes. E, enquanto os NPCs não representam dificuldade alguma, a coisa muda de figura quando você encara outro jogador.
Em For Honor, tudo se resume a pouquíssimos botões, mas que revelam várias possibilidades quando combinados. No entanto, o grande chamariz está exatamente no básico: não se trata de apertar os comandos de ataque sem parar, mas de fazer isso na hora certa e visando acertar o melhor lugar possível.
A começar pela defesa. Ao armar seu bloqueio, você pode usar o analógico direito para definir qual será o ponto protegido do personagem. Pode parecer besteira, mas é o tipo de coisa que realmente faz sentido dentro de uma luta real, uma vez que você não consegue se defender de todas as frentes ao mesmo tempo — e é nisso que For Honor se baseia.
Isso também se reflete nos ataques. Partir para cima do oponente às cegas é inútil e você precisa estar de olho em como ele está se comportando para achar uma brecha. Ao todo, você pode atacar e defender a partir de três pontos (direita, esquerda e cima) e é essa combinação simples que dá todo um ar diferenciado ao game.
É claro que, nas primeiras investidas, nada disso aconteceu. Todos os jogadores seguiram para a luta apertando tudo ao mesmo tempo e ignorando tudo aquilo que o tutorial ensinava, mas bastou que o primeiro dominasse a arte da defesa perfeita para que os demais percebessem o valor da técnica, valorizando o timing correto em vez de ser apenas um cachorro louco cortando tudo pela frente.
Isso faz com que os confrontos passem a ser um pouco mais demorados. Quando chegava a um ponto que precisava ser dominado e encontrava um oponente à minha espera, o resultado era semelhante àquelas cenas de filmes medievais em que os rivais se encaram à espera de qualquer movimento em falso do inimigo. E era exatamente isso que acontecia, já que cada jogador estudava o adversário e tentava acertar um ponto desprotegido.
Tudo ou nada
For Honor conta ainda com outros pequenos movimentos que ajudam a dar um dinamismo maior a esses confrontos. É possível tentar quebrar a defesa inimiga ou derrubá-lo para causar ainda mais dano, mas cada um desses truques deixa seu herói muito exposto e, caso falhe em sua investida, você pode pagar um preço muito maior pela ousadia. De qualquer forma, ele oferece várias maneiras de resolver um conflito, deixando tudo bem ágil.
Por outro lado, tudo isso é válido apenas para a luta individual e que as chances de vencer a um embate contra mais de um inimigo são quase nulas. É claro que há a chance de reverter a situação e superar a desvantagem, mas não é algo fácil de ser feito — em nossa demo, todos os corajosos que tentaram falharam miseravelmente.
Além disso, a Ubisoft se preocupou em tornar tudo muito ágil, tanto que você mal é derrotado e já está de volta ao combate. Sem longas esperas, a adrenalina segue alta e você sabe exatamente para onde ir e o que esperar no fim do caminho.
Só que, apesar de divertido, For Honor ainda segue com algumas incógnitas. Durante nosso teste ele se saiu muito bem, mas estamos falando de algumas partidas rápidas e sem compromisso. Isso faz com que restem algumas dúvidas sobre a longevidade de uma proposta tão simples assim. O fato de ele ser focado em uma experiência multiplayer ajuda a minimizar isso, mas até que ponto? A falta de variedade entre os personagens é algo que incomoda, principalmente quando tentamos pensar a longo prazo.
De qualquer forma, ele ainda se sai muito bem apesar de todas essas questões. Para uma franquia inédita recém-anunciada e que ninguém sabe muito bem o que esperar, For Honor surpreende por sua simplicidade e por trazer boas ideias que funcionam na prática. Com o resto a gente se preocupa quando o game chegar aos consoles.