Você, garotinho juvenil, com certeza conhece Solid Snake e todas as variações de Metal Gear Solid. Neste momento, inclusive, pode estar ansiosamente aguardando a chegada de The Phantom Pain, título da série que chega às lojas nesta terça (01). Os mais velhos, porém, vão reconhecer não apenas o personagem criado por Hideo Kojima, mas provavelmente, se lembrarão também de outra cobra, interpretada nos cinemas por Kurt Russell.
Estou falando de Snake Plissken, o canastrão anti-herói de “Fuga de Nova York”, filme de 1981 dirigido por John Carpenter e uma das grandes paixões de Kojima em sua infância. Apesar de negar que Solid tenha sido inspirado no personagem, o criador lembra com carinho do longa, um de seus preferidos, e de uma carta apaixonada que enfiou para o cineasta, que mais tarde, daria publicamente sua “benção” ao protagonista Solid Snake, criado pelo, agora, colega no mercado de entretenimento.
Por mais que Snake Plissken não tenha sido uma influência direta, sua presença permeia diversos títulos da franquia Metal Gear. Além da óbvia referência do tapa-olho, Solid chegou a atender por um pseudônimo parecido, Iroquois Pliskin, durante os eventos do segundo game da série, quando foi dado como morto e atuou mais nos bastidores da trama.
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Mas de volta ao filme de 1981, dirigido por um dos mais consagrados cineastas do cinema trash. Em “Fuga de Nova York”, seguimos a história de um ex-tenente das Forças Especiais do exército americano que acaba caindo no crime depois de ser traído pelo próprio governo. Preso após um assalto mal-sucedido, ele é chamado de volta à ação quando o avião do presidente cai em Manhattan, a antiga ilha que, agora, é uma prisão de segurança máxima. Imagine Arkham City, é basicamente a mesma coisa, mas em Nova York.
Com o velho clichê do “esse cara é o único capaz de sobreviver por lá”, Snake Plissken tem uma “escolha”: se infiltrar em Manhattan e salvar o presidente em 24 horas, em troca de perdão por seus crimes, ou ter a cabeça explodida ao fim do período, já que microcápsulas explosivas foram implantadas em suas artérias. Difícil essa vida de anti-herói, não é mesmo?
O filme segue com todos os clicês tipicamente oitentistas. Temos as diversas gangues vestidas de forma extremamente espalhafatosa, as piadas com o protagonista que todos achavam estar morto e até mesmo um velho parceiro dos tempos de combate, que acaba sendo o braço direito de Plissken na missão. Para o herói canastrão, missão dada é missão cumprida, lógico.
Quinze anos depois, John Carpenter voltou à carga com “Fuga de Los Angeles”, um filme que, basicamente, muda só a cidade, mas repete todas as histórias do primeiro. Plissken, mais uma vez, se vê diante de uma escolha: se infiltrar na cidade, agora separada do território americano após um terremoto e recuperar um artefato bélico das mãos da filha do presidente, ou então, morrer em algumas horas pela ação de uma toxina letal injetada em seu corpo.
Enquanto o primeiro era tosco devido à falta de recursos e de acordo com a estética da época, aqui John Carpenter abraça a zoeira. O filme é pior que o primeiro, e nem tanto do tipo legal, mas vale a pena ser visto pelo vilão, que parece um Che Guevara cospobre, a cena em que Plissken surfa em um tsunami e a presença de um Bruce Campbell mais afetado do que nunca.
Infelizmente, “Fuga de Los Angeles” foi um fracasso em bilheteria, o que impediu a produção de sequências que levariam a zoeira ainda mais adiante. Vou deixar só os títulos para que vocês tirem suas próprias conclusões: “Fuga da Terra” e, depois, “Fuga de Marte” – esse último que, inclusive, teve partes de seus roteiros aproveitadas no mais ou menos “Fantasmas de Marte”, também de Carpenter.
E, como muitas pérolas do passado, a franquia pode até retornar um dia. Desde 2007 circulam rumores de que a Paramount estaria trabalhando em um reboot da série, primeiro com Gerard Butler no papel de Snake e, depois, com Josh Brolin cotado para ele. Em ambos os casos, nada foi para a frente e os projetos, inclusive, receberam desaprovação pública do próprio Kurt Russel – que, claro, gostaria muito de voltar a um dos papeis pelos quais é mais reconhecido.
De qualquer maneira, vale a pena assistir ao longas antigos. Eles, no mínimo, vão aplacar um bocado de horas na espera por sua cópia de Metal Gear Solid V: The Phantom Pain e, quem sabe, fazer até com que você reconheça algumas possíveis situações que aparecerão no game. Se quiser ir mais a fundo, a série “Fuga” tem também gibis e livros que contam mais aventuras de Plissken e explicam melhor suas origens.