Se Shadow of the Colossus passasse nas manhãs de sábado no SBT como um desenho dos anos 30, ele seria Cuphead. Esse é o tipo de comparação que parece não fazer o menor sentido à primeira vista, mas que logo se torna compreensível assim que você assume o controle do pequeno garoto-xícara.
Desde seu anúncio, Cuphead vinha se despontando como uma das propostas independentes mais interessantes do Xbox One. E a demonstração presente no estande da Microsoft nesta Brasil Game Show veio não apenas para esclarecer algumas questões como ainda mostrou que o título é quase como uma versão retrô ao sucesso da Team Ico — e recheada de um excelente humor negro. Mas como isso é possível?
A resposta é simples: assim como no clássico do PS2, Cuphead também é totalmente baseado na batalha contra chefes, mas com uma pegada bem mais cartunesca e menos épica. Isso significa que você não precisa passar por fases, matar pequenos inimigos e nem alcançar checkpoints. Para cumprir a aposta perdida para o próprio Diabo, o herói e seu irmão vão direto ao assunto.
Isso pode ser um pouco frustrante para quem esperava ver algo próximo a um Mega Man ou mesmo um Contra, mas não demora para que você perceba o valor do formato adotado pela Studio MDHR. A proposta aqui não é fazer um divertido passeio pelo mundo dos desenhos animados, mas algo baseado no desafio. E, nesse quesito, não há do que reclamar, principalmente para os masoquistas fãs da série Souls.
O engraçado é que é muito fácil se deixar levar pelo visual bonitinho do game, mas não se engane: Cuphead é um jogo desgraçado. Mesmo com uma estrutura de combate bem simples que coloca os inimigos sempre nos cantos da tela e atacando com um padrão bem definido, não é fácil sobreviver aqui. Como bastam apenas três golpes para que o herói morra, qualquer deslize é fatal. Por isso, estudar os movimentos do oponente e ter muita habilidade são fundamentais.
E, como em um bom Shoot ‘em Up, o jogo acaba sendo focado na tentativa e erro. Você aprende e desenvolve estratégias à medida que falha em combate. Tanto que, embora o game seja bastante punitivo com as suas falhas, ele compensa ao remover um sistema de vidas ou coisa parecida. Você pode tentar quantas vezes forem necessárias. E acredite: não serão poucas.
Em nossos testes, enfrentamos diversos chefes e suamos muito para conseguirmos derrotar qualquer um deles. O mais interessante é todos exigiram uma abordagem diferenciada. Mesmo com os combates seguindo uma estrutura parecida, todo o confronto segue uma lógica única. Seja entrando em um avião e atirando sem parar contra um enorme pássaro ou desviando de raios telepáticos de uma cenoura gigante, Cuphead surpreende a cada nova batalha.
Além disso, os fãs dos velhos Shoot ‘em Ups vão se sentir em casa. Mesmo sem a exploração de fases, essas lutas contra chefes remetem a vários clássicos, como Metal Slug e o já citado Contra. É tanto tiro na tela — ainda mais quando você está com dois jogadores — que fica fácil se perder no timing e acabar levando a pior.
A demonstração trouxe pouca variedade nos ataques dos irmãos caneca. Tanto Cuphead quanto Mugman tinham apenas alguns golpes bem básicos, como o disparo simples e outro que arremessava projéteis para várias direções, mas com um alcance reduzido. A troca pode ser feita rapidamente a partir do botão LB e, mesmo sendo poucas por aqui, fica claro que teremos mais opções no futuro.
Já em termos artísticos, Cuphead dispensa qualquer tipo de comentário. Ele tem essa cara de desenho animado antigo, mas com a diferença de que roda muito bem a 60 fps. Ele é incrivelmente bonito em toda a sua parte visual. Todas as cenas são de encher os olhos e a vontade é emoldurar cada um dos quadros para coloca-los em sua parede. Sem dúvidas, ele é um dos títulos mais lindos de toda a feira.
Assim, mesmo faltando alguns meses para seu lançamento, as aventuras do garoto xícara já se revela como um dos títulos obrigatórios do Xbox One. Simples, bonito, divertido e desafiador, ele é tudo aquilo que os velhacos mais adoram em um game.
Cuphead chega em 2016 ao Xbox One e PC.