Uma relíquia do horror trash e dos anos 80 a 90, “Evil Dead” está prestes a voltar. Após três filmes clássicos, um reboot/remake/sequência que mostrou bastante respeito ao material original e diversos rumores e esperanças sobre um retorno, finalmente teremos o herói escrotizador de volta. Em “Ash Vs. Evil Dead”, nosso matador de demônios volta em grande estilo para continuar sua história, como se esperava há mais de 20 anos.

Essa, porém, não é a primeira vez que se tenta criar uma sequência para a história, mas sim, apenas a única a ser efetivamente considerada como parte do cânon oficial da franquia. Nos games, nosso herói Ash Williams continuou combatendo os Deadites por muito tempo, com resultados nem sempre interessantes.

Ao todo, foram seis jogos da franquia, que desde os primórdios, já se mostrou como uma boa alternativa nos consoles. Afinal de contas, estraçalhar demônios com uma motosserra no controle de um personagem canastrão é uma mistura que nunca fica velha. Infelizmente, temos aqui mais uma série de casos da maldição das adaptações. Da mesma forma que filme de games sempre falham, o mesmo vale para a recíproca.

The Evil Dead (1984)

O primeiro jogo de “Evil Dead” saiu três anos após o lançamento do primeiro filme. No Commodore 64, a ação era extremamente simples. No controle de Ash, o jogador deveria defender portas e janelas da cabana onde se passa toda a ação para tentar conter a invasão dos demônios, ao mesmo tempo em que utiliza armas para enfrentar aqueles que conseguirem entrar.

O pulo do gato está no andamento dos combates. Assim como no longa, em que o personagem vai ficando cada vez mais estafado e machucado enquanto se vê obrigado a matar seus amigos possuídos, aqui, ele perde energia a cada criatura assassinada. Para recuperar-se, o caminho é coletar as armas que vão brotando pela casa, e fazer isso rapidamente, antes que ele também sucumba à maldição.

Mate monstros o suficiente e você finalmente dará de cara com o infame Necronomicon, o livro dos mortos que serve como a passagem dos Deadites para o lado de cá. Destrui-lo encerra o game e uma partida não levava muito mais do que alguns minutos, como boa parte dos games de outrora.

Simplista ao extremo, The Evil Dead foi criticado por suas semelhanças com outro game da época, Atic Atac, que inclusive, foi relançado recentemente como parte da coletânea Rare Replay. Desenvolvido pela Palace Software, que mais tarde seria comprada pela Titus, o primeiro jogo de Ash não é muito lembrado em meio a clássicos do Survival Horror e acabou morrendo no esquecimento, iniciando um hiato que só cearia ao fim 16 anos depois.

Evil Dead: Hail to the King (2000)

Em 1996, Resident Evil chegava às prateleiras abrindo mais uma vez as portas para os games de terror, dando origem a muitas franquias que estão por aí até hoje. Nessa mesma época, porém, Evil Dead era apenas uma lembrança distante, pois o último filme da franquia, “Uma Noite Alucinante 3”, tinha sido lançado em 1992. Desde então, Ash nunca mais foi visto, até que a THQ, em 2000, lançou o jogo que finalmente continuaria sua história.

Evil Dead: Hail to the King chegou primeiro ao Dreamcast e ao PlayStation, já no final da vida do console, recebendo uma edição PC alguns meses depois. Bebendo com muita sede da fonte de Resident Evil, o game desenvolvido pela Heavy Iron Studios (sim, a mesma que hoje faz Disney Infinity) aposta nos cenários pré-renderizados e em uma jogabilidade de tanque enquanto faz jorrar litros e litros de sangue na tela.

Seguindo a mesma cronologia do mundo real, o jogo se passa oito anos depois dos eventos de “Uma Noite Alucinante 3”. Ash é um homem atormentado pelas memórias do Necronomicon. Para livrá-lo destes pesadelos, a namorada dele, Jenny – a mesma vista ao final do terceiro filme – decide que o herói precisa enfrentar seus demônios. A solução? Voltar à cabana onde tudo começou.

Como se a ideia em si já não fosse ruim o suficiente, ela se prova pior quando Ash descobre que os males do Necronomicon estavam adormecidos no local desde sua passagem por lá. A mão que ele decepou ainda vive por lá e é a responsável por tocar, mais uma vez, a gravação que acorda os demônios, que sequestram Jenny. É hora de colocar a velha motosserra para funcionar e caçar Deadites mais uma vez.

A jogabilidade segue a cartilha do Survival Horror. Apesar de contar com sua fiel escopeta, além da serra em si, munição e gasolina são extremamente limitados. Para piorar, os inimigos ressurgem algum tempo depois de mortos, obrigando o jogador a pensar no caminho a seguir e não perder tempo, correndo sempre que possível e evitando o confronto.

A descrição, porém, é melhor que a realidade. Assim como a ideia de Jenny, a execução de Evil Dead: Hail to the King não é lá essas coisas, com o game apresentando um desafio repetitivo e irregular. Mesmo sendo a sequência tão esperada, o game se limita a ser um repeteco dos filmes anteriores, apresentando os mesmos inimigos e até mesmo trama similar – Ash chega a voltar no tempo, para a Arábia do século IX e a trama termina com um cliffhanger que indica continuação.

Apesar das críticas, o jogo de 2000 vale a pena por dois motivos. O primeiro é o esperado retorno de Bruce Campbell ao papel, já que assim como Ash estava voltando depois de oito anos, o ator também retornava depois desse tempo. Toda a ação meio mais ou menos, ainda, é embalada pela trilha sonora de Jack Wall, o premiadíssimo compositor de jogos como Mass Effect, Myst e Call of Duty.

Evil Dead: A Fistful of Boomstick (2003)

Ignorando o gancho direto de seu antecessor só para manter vivo o desrespeito cronológico de toda a franquia Evil Dead, A Fistful of Boomstick acompanha Ash três anos depois. Sua namorada, Jenny, morreu em um acidente, um fato que ainda machuca o coração do herói.

O protagonista, agora, é personalidade reconhecida, mas como maluco, após relatar seus combates contra as Deadites. É justamente durante uma discussão sobre esse assunto em um noticiário local que a fita do professor Knowby é tocada mais uma vez. A tradução do Necronomicon, agora, deixa de acordar demônios em um local controlado como uma cabana e utiliza as ondas de TV para dominar toda uma cidade. Cabe a Ash, de novo, voltar à ação.

O que se segue é mais gore, novas viagens do tempo – desta vez para o período colonial americano e, mais tarde, com uma visitinha na Guerra Civil e também ao período de Gengis Khan – em uma jogabilidade ainda pior. Evil Dead: A Fistful of Boomstick abandona o Survival Horror em prol de uma ação chata e, mais uma vez, repetitiva.

Repetindo o erro que muitos games cometem mesmo hoje em dia,, a desenvolvedora VIS Entertainment transforma Ash em um garoto de recados para estender a experiência, cumprindo objetivos idiotas e desnecessários. O final, mais uma vez, traz um cliffhanger ignorável, e somente a presença de Bruce Campbell, novamente no papel principal, faz com que a experiência não seja um fracasso completo.

Evil Dead: Regeneration (2005)

https://www.youtube.com/watch?v=5zkHqyWpOZc

E se a franquia nos games já não anda bem das pernas, o que fazer para melhorá-la?Que tal criar um reboot, dialogar com os jovens e criar um sidekick adolescente-demônio para trabalhar do lado de Ash. Foi assim que nasceu Evil Dead: Regeneration, lançado em 2005 para PS2, PC e Xbox, desenvolvido pela desconhecida Cranky Pants Games.

O jogo acontece em um cenário alternativo, no qual Ash não foi sugado para o passado após “Uma Noite Alucinante 2”. Acusado do assassinato de seus amigos e internado em um sanatório, ele vê as Deadites retornarem ao mundo real quando seu psiquiatra cria um plano de dominação mundial que usa o Necronomicon em sua subida ao poder.

Auxiliado por Sam, um experimento bizarro que criou um humano não completamente dominado pelos espíritos malignos, Ash enfrenta demônios em cemitérios, pântanos e até mesmo em um templo dedicado à causa Deadite. Ao final, como sempre, é sugado pelo portal que leva as criaturas de volta para casa e vai parar sabe-se Deus onde, criando mais um gancho para a sequência, que felizmente, nunca existiu.

Apesar de ter uma história menos esquisita e jogabilidade interessante, Evil Dead: Regeneration foi responsável por afundar de vez a franquia nos games. Apesar da recepção morna pela crítica, os fãs da franquia foram os mais vocais, citando a existência desnecessária de um parceiro (dublado, curiosamente, por Ted Raimi, irmão do cineasta Sam Raimi, criador da saga) e a irrelevância de um reboot que repete os mesmos conceitos do filme que ele tenta deixar de lado.

Ainda existe esperança

E como se deturpação pouca fosse bobagem, temos ainda Evil Dead: The Game, de 2011, que traz Ash ao iOS para combater os demônios em um enredo que tenta seguir mais ou menos as linhas gerais dos filmes. A “boa ideia” da vez vem no estilo visual escolhido – afinal de contas, o que seria melhor para um jogo baseado em uma franquia cheia de gore do que personagens cabeçudinhos e cenários coloridos?

Evil Dead Army of Darkness Defense

No mesmo ano, porém, Army of Darkness: Defense veio apostando na casualidade. Situado na batalha final de “Uma Noite Alucinante 3”, o titulo coloca Ash na liderança de camponeses em um combate contra os Deadites que querem roubar o Necronomicon.

Como o título indica, se trata de um Tower Defense. Bem divertido, o jogo permite que o usuário crie upgrades baseados no filme e coloque soldados para lutar, todos tentando conter o avanço dos demônios. O desafio é crescente e, na melhor notícia de todas, o jogo é gratuito, estando disponível tanto no Android quanto no iOS.

Após todas as desgraceiras citadas nesse artigo, porém, Ash Williams jamais retornou em um jogo para consoles, fazendo apenas uma aparição especial em Poker Night 2, da Telltale. O mais recente filme da saga, “Evil Dead”, de 2013, não teve adaptações produzidas.

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