Em uma época em que a representatividade de gênero luta arduamente contra as fobias, os preconceitos e os abusos que crescem gradativamente (principalmente nesse mundo virtual em ascendência chamado de internet); a decisão de incluir algumas jogadoras e seus respectivos times compostos unicamente por mulheres em um aclamado jogo de futebol, é um grande passo para a batalha por igualdade.

Então, chola mais se você não curtiu a notícia da inclusão de mulheres em FIFA 16, pois o produtor do game, Sam Rivera gostou muito do que foi feito e se orgulha disso. Durante a BGS 2015 entrevistamos o bom moço em questão que veio ao evento representando a EA Canada, e eu aproveitei a oportunidade para conversar com ele exclusivamente sobre a grande novidade, e também a grande polêmica que a nova edição da franquia trouxe: os times femininos.

Fato curioso é que antes de começar a fazer as minhas perguntas, o produtor se mostrou muito curioso a respeito do quanto eu gosto de futebol. E quando eu lhe respondi que não jogo FIFA, Sam retrucou com certa surpresa: “Você é a primeira pessoa com quem falo aqui [no evento] que não joga…”. Todavia, eu particularmente fiquei tão feliz com o anúncio dos times femininos e também com o rumo e a empolgação do produtor à minha frente, que, subitamente minha vontade por jogar games de futebol retornou – a última vez que tive contato com um título deste esporte foi com International Super Star Soccer.

“Se você já é um fã de futebol, você vai perceber que ficará bem animada jogando, pois o jogo te mantém concentrada, te mantém motivada. No começo pode até sentir que é difícil, mas quando você chegar num certo nível fica muito divertido! Há uma razão pela qual existem tantos homens assistindo futebol na TV por horas e horas… Não é só por que é diferente, não! Tem que ser algo bom [para isto acontecer]. O que existe por trás do futebol nunca acaba, pois você tem que tentar ser o melhor, você pode sempre aprender algo, e isso é o que o faz tão legal”, afirmou o produtor para mim em meio à nossa conversa, tentando me motivar para voltar a jogar.

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Abaixo, você confere nosso bate-papo na íntegra:

NGP: Para uma garota como eu, que não sabe nada sobre futebol, o que o time de desenvolvimento achou quando eles souberam que teriam de criar times femininos?

Sam Rivera: Bem, eu acho que este é o momento perfeito para pessoas que nunca jogaram FIFA ou para garotas que não jogam FIFA experimentarem pela primeira vez. Por quê? Porque é um período de novidade, é realmente legal e nós produzimos o game pensando especificamente nestas pessoas que possuem interesse em jogar ou [possuem apenas interesse] em futebol feminino. Nós sabemos que temos muitos homens que já conhecem e amam o esporte, mas sabemos também que nós temos esta pequena parcela de pessoas que não curtem tanto assim. Porém, desta vez desde o princípio pensamos em algo como: “ok, uma parcela diferente do público pode jogar FIFA”, e desta forma, passamos muito tempo nos certificando de que o jogo ficaria acessível para todos, desde os antigos [jogadores] até os novos.

E isto não se trata apenas do modo de times femininos, pois desta vez colocamos algumas ferramentas no game que irão ajudar os iniciantes. E fizemos isto, pois há uma certa concordância de que é um game um pouco complexo de se dominar no começo. Vai um pouco além de sentar e jogar, já que existem muitos comandos, muitos jogos [na franquia], muitos comandos, muitas opções, muitas situações, atacar, defender… Então é um pouco excessivo, e pensando nisto, fizemos a ferramenta “FIFA Trainer”, que irá cobrir o jogador. [Este recurso] irá dar dicas durante a partida, dizer qual botão deve-se apertar e tudo mais. Será uma ferramenta bastante útil para jogadores novatos e, mesmo que você já jogue FIFA há muito tempo, o novo modo irá ajudá-lo e ensinar coisas que podem ser gratificantes. É um recurso que irá ajudar a todos.

E bem, sobre os times femininos, o que te posso dizer é que estou adorando como o público está gostando disso. Eu já vi diversas situações onde meus amigos compram FIFA e as irmãs deles ficam empolgadas ao verem mulheres entre a platéia, e eu sei que elas têm interesse de jogar, e quando elas jogam acabam se divertindo. Portanto, eu sei que obviamente é um investimento onde estamos investindo muito dinheiro e, claro, nós não temos a pretensão de vender na mesma proporção, mas sabemos que é a melhor coisa que já criamos para as pessoas que se interessam por futebol. Estamos muito orgulhosos disso.

NGP: Como a companhia e o time de produção estão lidando com as reações do público a respeito deste anúncio? Você tem alguma mensagem para as pessoas que não reagiram bem à notícia da inclusão de times femininos?

Sam Rivera: Bem, há diferentes perspectivas quanto a isto. Pelo lado do desenvolvedor, independente do que ele fizer sempre haverá alguém que não gosta, ou alguém que não quer [aquilo]… É impossível agradar a todos. E bem, tivemos algumas reclamações e tudo mais, sim… Contudo, primeiramente [o modo de times femininos] é um elemento pedido há muito tempo por incontáveis pessoas. Não foi como se tivéssemos dito “vamos fazer isso?” e simplesmente o fizemos, não. Foi realmente muito pedido, muitas pessoas queriam isto. E nós já esperávamos, obviamente, por algumas críticas. Porém, ao fim do dia acabou sendo o que a maioria das pessoas queria, portanto, a maioria ganhou. E é uma grande novidade.

Temos sempre algo novo para incrementar nos games, mas não é todo ano que temos algo tão grande assim. É muito legal ver tantos jogadores [gostando], e até mesmo as garotas agora! Por outro lado, somos bastante sérios e respeitamos muito as regras, tentamos fazer tudo do jeito certo, de um jeito justo e fluido. E parte do que levou tudo isso à FIFA foi a final da copa de futebol feminino no Canadá. E foi um acontecimento tão grande, que se não me engano esse jogo quebrou recordes de audiência, pois milhões de pessoas estavam assistindo pela TV uma final de um jogo feminino, algo que nunca aconteceu antes. A partir disso, nós confirmamos que teríamos times femininos em FIFA.

NGP: E qual seria a sua mensagem para as pessoas que não curtiram a inserção de times femininos? Especialmente para quem pronunciou comentários tristes nas redes sociais…

Sam Rivera: Bem, a minha mensagem é: desejamos muito conseguir fazer todas as pessoas felizes, mas isso é difícil. E temos muito respeito pelos esportes femininos, tanto que estávamos muito animados com o anúncio. Indo além, será algo diferente de jogar, algo realmente maneiro, mas de forma alguma isso será um problema. A respeito dos comentários tristes, eles são realmente bem tristes. Mais desrespeitosos do que triste na verdade! Nós realmente esperamos que as mulheres compreendam que o futebol masculino é maior [em proporção], mas nós estamos tentando recriar algo que acontece na vida real. E embora [estes comentários] sejam muito tristes, há diversos outros lugares no mundo em que a notícia foi muito bem recebida. No Canadá, Estados Unidos, Austrália… Todos estão super felizes com o anúncio. Então… Só posso dizer que tentamos o nosso melhor.

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NGP: Poderemos jogar com os times femininos durante os campeonatos?

Sam Rivera: Como este é o primeiro ano [da inclusão dos times de mulheres], nós não conseguimos criar tudo que queríamos. Nós queríamos ter ainda mais times [femininos], mais torneios, etc… Mas no primeiro ano funciona mais como “vamos colocar isto deste modo, vamos fazer as pessoas jogarem e então, vamos ouvir o que elas têm a dizer sobre”. A partir disto, o segundo ano é baseado em todo o retorno que tivemos e aí decidimos se realmente vale o investimento ou se iremos um pouco mais devagar nesta direção. Então tudo depende do que está por vir.

NGP: E poderemos jogar com os times femininos enfrentando os times masculinos?

Sam Rivera: Não, isto não vai acontecer porque estamos seguindo como acontece no futebol profissional. Na vida real isto não acontece e a FIFA também jamais permitiria. E há diferenças também, sabe? Eu entendo como as pessoas acham que isso pode ser legal, mas isso não é fantasia, este é um simulador de futebol.

NGP: Então considerando tudo isto, não se pode afirmar que os times femininos chegaram para ficar de vez?

Sam Rivera: Eu não posso afirmar isto porque depende do feedback. Se ninguém gostar, não iremos investir mais dinheiro nisso, mas realmente não sabemos como vai ser. Todavia, esta decisão [de tirar os times femininos] não foi tomada ainda, e bem, falo apenas por mim aqui, mas eu realmente espero que no próximo ano os times femininos sejam ainda maiores! Queria poder te confirmar que os times femininos ficarão de vez, mas é só o que eu desejo que aconteça! [risos]

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NGP: É sabido que houve alguns problemas referentes a direito de imagem de alguns jogadores e de times. Partindo disso, o processo para conseguir o direito de imagem das jogadoras foi da mesma forma ou foi mais difícil?

Sam Rivera: É a mesma coisa. Há uma equipe encarregada de lidar com todas as licenças de todos os jogadores, e eles fazem o seu melhor com todos. Obviamente todos fazem um ótimo trabalho, todas as equipes fazem um bom trabalho, em todas as áreas. E bem, eu não consigo te contar os detalhes de como é feito, porque eu não trabalho nesta área [da produção], muito embora tudo seja à base de negociações.

NGP: Última da vez: levando em conta a hipótese de que os times femininos dêem muito certo, você acha que pode haver um FIFA exclusivamente de times femininos?

Sam Rivera: Eu gostaria muito de saber a resposta! [risos]. Mas este é um tipo de decisão que não cabe a mim e sim a outro produtor, o que entende mais sobre o que as pessoas estão jogando, o quanto de prejuízo está havendo, se o marketing está bom ou não, este tipo de trabalho que leva às decisões maiores. Minha responsabilidade é apenas assegurar que tudo aconteça no jogo, se está bom, se está balanceado, se está divertido, se está acessível para todos… É algo que nunca acaba. E como nós próprios dizemos sobre FIFA: você pode sempre ser melhor. E isto é parte do meu trabalho. E mesmo com as inovações que teremos, ainda iremos analisar tudo e observar as reações, apesar de não contarmos apenas isto. Temos que apurar o quanto as pessoas estão gostando do jogo [como um todo].

A entrevista infelizmente parou por aí, mas a sensação de satisfação, e a vontade de jogar loucamente permanece. FIFA 16 foi lançado oficialmente em 22 de setembro para Xbox 360, Xbox One, PlayStation 3, PlayStation 4 e PC. A capa do jogo em alguns países, inclusive, coloca jogadoras famosas ao lado da estrela Lionel Messi, detalhe este que traz mais uma vitória consigo, mesmo que pequena.

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