A imagem que você vai ver abaixo deste parágrafo é conhecida. Trata-se do banner que fica na frente do Los Angeles Convention Center, casa anual da E3, e que neste ano, exibiu a figura gigantesda de Nathan Drake em Uncharted 4. É, sempre, uma foto que roda o mundo pelas redes sociais e sites especializados, e por aqui, sempre acompanhada de comentários que sonham com algo do tipo no Brasil.

E3 2015

A BGS não tem nada como isso, ainda, apesar de, neste ano, os ônibus que faziam o transporte dos visitantes da estação Tietê até a feira virem estampados com a figura de Master Chief em Halo 5: Guardians. Apesar disso, neste último final de semana, demos um passo grande na direção não de termos algo tão gigantesco como o que é visto em Los Angeles, mas sim, de mudar as bases de uma estrutura que faz com que esse tipo de coisa nem mesmo seja possível no Brasil.

Neste domingo (22), a Ubisoft foi uma das anunciantes do programa “Hora do Faro”, na Record. Bem no meio da tarde, Just Dance 2016 aparecia como um dos merchans na voz do próprio apresentador, Rodrigo Faro. Na mesa, todas as versões do título, com um tratamento semelhante ao que recebem produtos de beleza ou utilidades para a casa.

Rodrigo Faro Just Dance

Isso, é bom lembrar, aconteceu na mesma emissora que, anos atrás, associou de forma veemente a série Assassin’s Creed ao caso Pesseghini, onde um garoto de 13 anos foi apontado como o autor dos assassinatos de toda sua família. Na época, a Record se tornou a inimiga dos gamers, uma noção que se estende até hoje, mas que agora, parece estar mudando.

Começou com o mesmo Marcelo Rezende, porta-voz da associação entre Assassin’s Creed e assassinato, se tornando um dos garotos-propaganda de Battlefield: Hardline, em um anúncio feito exclusivamente para a internet. E, agora, esse aspecto toma as salas das casas no domingo à tarde, depois do almoço, e coloca na boca de um grande apresentador aquilo que, para mães, pais, avós e familiares, é apenas uma brincadeirinha.

Já falamos sobre esse assunto em um outro especial aqui no site. Mas nunca é demais voltar ao tema. O dinheiro move o mundo e é ele – e não nós, da imprensa especializada – quem tem a capacidade de mudar as coisas. E a mudança está acontecendo enquanto você lê esse texto.

As cifras que alteram a percepção

Ninguém é inocente, acredito eu, para achar que a mídia funciona por amor, seja à informação ou ao conteúdo. É claro, ele existe, mas do ponto de vista dos executivos que regem toda essa orquestra, são secundários. Em primeiro lugar está a renda, pois é ela que não apenas garante a riqueza de quem está no topo da cadeia, como também garante os salários de quem está no operacional e mantém tudo funcionando. É assim aqui no NGP, é assim na Rede Record e é assim na esmagadora maioria dos outros centros de mídia.

Por isso mesmo, refaço aqui uma pergunta já formulada em outro artigo. Que televisão, em sã consciência, emitiria opiniões vazias e errôneas, como as vistas no caso Pesseghini, sobre um anunciante? Com que cara ficaria o apresentador caso sua fala sobre Assassin’s Creed fosse seguida por uma propaganda da Ubisoft? A resposta também pode ser a mesma de antes: nenhuma, ou pelo menos, toda a questão seria bem mais pesada e passada adiante com propriedade, e se ouvindo os dois lados, como deve ser o jornalismo.

Mas no caso, aqui, não estamos nem mesmo falando de reportagem, e sim, de entretenimento. A ideia de qualquer show de TV é falar aquilo que o público deseja ouvir, entregar o que o espectador deseja assistir. E se em um determinado momento a ideia é que jogos sangrentos são os causadores da violência, é justamente essa a mensagem que será passada. A não ser, claro, que existam interesses nos bastidores que suplantem essa noção de ligação ao público.

https://www.youtube.com/watch?v=ejMqe1WBtEQ

Vamos à realidade americana, por um momento, um mercado no qual a indústria dos games, muitas vezes, ultrapassa a do cinema. No top 3 atual de maiores produtos de entretenimento do ano, temos dois jogos: Fallout 3, da Bethesda, na primeira posição, Call of Duty: Black Ops III, da Activision, na segunda, e em uma distante medalha de bronze, “Jurassic World”, o retorno de nossos amados dinossauros ao cinema.

Por lá, o comercial de um novo game da série Battlefield disputa espaço com uma propaganda de papel higiênico no intervalo do jornal no horário nobre, ou logo na sequência de um break daquele seriado consagrado. No octógono do UFC, temos propagandas de energéticos, seguros para carro e do Xbox One, lado a lado, com destaque semelhante e igualmente visíveis aos olhos da plateia presente e dos espectadores em casa.

É esse caráter que motiva que prédios inteiros de Los Angeles exibam anúncios de Grand Theft Auto V durante a E3 e paradas de ônibus tragam a figura de Hitman ao lado dos horários de transportes. É o que motiva, também, a presença massiva de games em programas de grande audiência, como o de Conan O’Brien, que cada vez mais se torna uma figura importante também desse cenário, na mesma medida em que políticos e associações anti-jogos também têm o seu espaço.

É esse tipo de movimento que começa, devagarinho, a acontecer por aqui, primeiro pela internet, e agora, na TV aberta. São as verbas de publicidade alterando a percepção e colocando, mais do que tudo, os jogos em um lugar de direito ao lado de outros ramos do entretenimento, como deveria ser. E agora, a publicidade faz questão de mostrar que não se trata apenas de um “joguinho de criança”, uma percepção que, há anos, é altamente equivocada.

Não temos, no Brasil, uma indústria tão gigantesca quanto a americana, nem nada próximo disso. Mas os games estão ganhando seu espaço, e tomando corpo com base, acima de tudo, no apoio da comunidade gamer, que lota eventos e faz questão de mostrar o seu amor, principalmente com a carteira. E é aqui que temos o ponto de mudança, que levou Just Dance 2016 para as mãos de Rodrigo Faro, num domingo à tarde.

Semanas antes disso acontecer, inclusive, propagandas de Rise of the Tomb Raider adornavam os relógios espalhados pela Avenida Paulista e outros pontos da cidade de São Paulo. São passos de tartaruga que estão sendo dados, um de cada vez. Um dia, a gente chega lá. E enquanto isso, vamos torcer para que Faro e outros não apenas dancem ao som de Just Dance, mas também deem alguns tiros, corram de carro, pilotem naves e por aí vai…

Tags: ,

Encontrou um erro?

Envie um email para contato@newgameplus.com.br com a URL do post e o erro encontrado. Obrigado! ;-)