Call of Duty é o tipo da série sobre a qual todos sabem exatamente o que esperar. Lançada anualmente, o título apresenta poucas mudanças de uma versão para a outra, trazendo sempre um modo multiplayer frenético, que lota os servidores online, aliado a uma campanha épica, porém, curta. Há pouca variação, muita discussão e, sempre, milhões e milhões de cópias vendidas.
Como parte da melhor subfranquia da série, na opinião dos fãs, Black Ops III vinha com a expectativa de ser um grande jogo. Ao colocarem as mãos no game, porém, os aficionados por Call of Duty perceberam que a Treyarch e a Activision surpreenderam sim, mas pelo contrário, entregando uma experiência insossa e cheia de problemas.
A saga intrincada de Black Ops faz uma ponte entre eventos que vão desde a Guerra do Vietnã até momentos atuais, seguindo adiante para um futuro próximo. É uma trama de intrigas, conspirações e até elementos psicológicos, que são ao mesmo tempo familiares a todos e distantes o bastante para constituir uma trama de fantasia. Em sua terceira edição, porém, a Treyarch decidiu deixar tudo isso de lado e, no processo, esvaziou o jogo de personalidade.
Black Ops III nos coloca apenas 50 anos no futuro, mas a realidade que temos ali é completamente diferente da atual. Muito pouco sustenta a fantasia do game como algo palpável, e a única coisa que temos de efetivamente verossímil é o fato de que as armas ainda usam a boa e velha munição tradicional. No restante, tudo está diferente, mas não de uma maneira interessante.
Ao criar uma visão de futuro, é muito fácil perder a noção de realidade. E é exatamente nessa armadilha que Call of Duty: Black Ops III acaba caindo, entregando um universo sem tempero algum. São diversos os momentos em que estamos enfrentando robôs dignos de um filme da Marvel, e mesmo os soldados humanos que encontramos pelo caminho se parecem com máquinas de combate.
O uso da alta tecnologia ultrapassa em muito a barreira da realidade, se assemelhando mais a “poderes” como os vistos nos títulos medievais. Existem elementos palpáveis, como a habilidade de hackear torretas inimigas para volta-las contra os oponentes, mas na maioria do tempo, a sensação é de se estar no controle de um ser místico, e não altamente tecnológico.
Tudo isso até faria certo sentido se estivéssemos diante de uma trama que amarrasse tudo de maneira consistente, o que não é o caso. Aqui sim, a Treyarch mantém uma tradição da franquia Call of Duty e apresenta, em Black Ops III, uma trama extremamente rasa e apenas com ligações periféricas aos títulos anteriores.
Black Ops III acaba transformando a franquia naquilo que os odiadores sempre a acusaram de ser: um shooter sem alma, voltado apenas para quem gosta de dar tiros.
Mesmo a presença de rostos conhecidos, como os atores Christopher Meloni e Katee Sackhoff, fazem pouco para tornar o enredo um pouco mais interessante. Na maioria do tempo, Call of Duty: Black Ops III se torna aquilo que os críticos sempre afirmaram, mas que os fãs sabiam muito bem não ser – um tiroteio sem cérebro e sem objetivos, apenas para quem não quer se preocupar com mais nada.
O modo cooperativo para até quatro jogadores, uma novidade da campanha, serve para adicionar um pouco de tempero à campanha, mas ainda assim, na maioria do tempo, o jogador estará apenas seguindo em frente, sem dar a mínima para o que está acontecendo. Com os amigos, tudo pode ficar um pouco mais frenético, mas ainda assim, bem pouco interessante.
Durante boa parte do tempo que dedicamos para analisar Call of Duty: Black Ops III, enfrentamos severos problemas de conexão no modo multiplayer da versão PS4. Não, não se tratava da nossa conexão, mas sim, de graves falhas nos servidores que trabalhavam em prol dos brasileiros, praticamente os únicos jogadores afetados por uma instabilidade que tornou o online praticamente injogável nas primeiras duas semanas após o lançamento.
Ao criar uma visão de futuro, é muito fácil perder a noção de realidade. E é exatamente nessa armadilha que Call of Duty: Black Ops III acaba caindo.
No momento em que essa análise foi escrita, tudo parecia estar resolvido, apesar de lags e desconexões ocasionais ainda estarem acontecendo. Aparentemente, os servidores dedicados para o nosso país não estão operando muito bem, pois em nossas partidas, acabamos sendo colocados para jogar com pessoas de outros países.
Mesmo com os servidores operacionais, os jogadores do multiplayer ainda deverão enfrentar outras falhas, que existem em todas as plataformas. Além de travamentos durante o matchmaking, que podem obrigar a reinicialização do console, existem problemas no sistema de respawn de personagens. Não é nada incomum “nascer” novamente no mesmo lugar onde se acabou de morrer, ou ao lado de um inimigo, sem chance alguma de defesa. Mais uma daquelas características sempre presentes em Call of Duty, mas que aqui, acabaram estragadas por uma programação mal feita.
São manchas que maculam um dos aspectos preferidos da franquia para a maioria de seus fãs. Acima de tudo, os problemas acabam estragando uma experiência que, sim, traz novidades e vem para adicionar conteúdo àquilo que, para muita gente, já era dado como garantido.
Agora, o jogador não apenas pode criar classes de armamentos e usar pontos para montar seu arsenal, como também conta com poderes especiais através de um sistema de Especialistas. São diversos para escolher, cada um deles tendo suas próprias particularidades para tornar os combates ainda mais frenéticos e se adaptar ao estilo de jogo de cada um.
Tem para todos os gostos, desde os fanáticos por explosivos até aqueles que prezam pela furtividade, passando também pelo velho estilo Rambo, com armaduras protetoras para quem curte meter a cara no combate. Subir de nível libera moedas que são usadas para comprar novos especialistas, e há uma sensação real de que se está progredindo e acumulando itens. Se a alta tecnologia é um dos grandes problemas da campanha, aqui ela aparece sendo aplicada de forma extremamente interessante.
Em Black Ops III, a Treyarch também deu uma atenção especial ao modo Zombies, que agora, aparece liberado desde o início e, mais uma vez, conta com a presença de astros de Hollywood. Ao contrário da campanha principal, que se passa no futuro, temos aqui uma história situada nos anos 40 e com ares de BioShock, algo que deve soar como algo bem interessante para os saudosistas.
Temos, mais uma vez, um cenário cheio de maluquices e criaturas infernais, mas muito pouca explicação do que realmente é preciso fazer. O modo cooperativo, aqui, também parece essencial, não apenas diante da dificuldade do extra, que pode ser extrema, mas também em termos do que é preciso fazer. Jogue com alguém que manja e você irá longe, caso contrário, permanecerá se batendo com um idiota pelas paredes.
É meio triste pensar que um extra acaba sendo mais digno de atenção do que o game em si. Zombies acaba sendo a campanha mais interessante de Black Ops III, mesmo com seus vários problemas, e por muito tempo, também foi o único modo a apresentar um funcionamento sem problemas de sua porção cooperativa desde o lançamento.
No final das contas, o autointitulado maior Call of Duty de todos os tempos também foi o principal responsável por transformar a série em uma caricatura dela mesma. Com a profundidade de um pires, o game traz muito pouco que incentive o usuário a continuar jogando, a não ser que ele seja um fanático pelo multiplayer e ignore completamente a existência de todos os outros modos.
Mais do que nunca, engrossam-se os coros para um retorno às origens, seja à era moderna ou ao passado, com jogos inspirados na Segunda Guerra Mundial ou a mítica versão Vietnã. Mas, mais do que tudo, o ideal é um retorno à velha forma, seja qual for à época, de jogos que tiravam o fôlego e realmente serviam como bastiões do tiro em primeira pessoa.
O game foi analisado no PlayStation 4, em cópia cedida pela Activision.